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Artigo de Opinião

BLASFÉMIA DE SER MULHER

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Sandra Figueiredo

Sandra Figueiredo

As mulheres já podem ser bispos na Inglaterra. Depois de já poderem ser padres desde 1994, a igreja anglicana deu mais um passo em frente e estabeleceu que as mulheres também podem liderar as dioceses.

O ponto categórico desta novidade é a contraposição imediata que a nossa mente produz relativamente à igreja católica.

A igreja episcopal é vastas vezes criticada pelo seu libertinismo, particularmente no que concerne às matérias de polémica e deformação das sagradas palavras de Deus. As duas teologias partilham o Deus e a fonte de conhecimento, a Bíblia – muda apenas a interpretação. Altera-se, portanto, a matiz do pensamento humano por detrás da tomada de decisões.

Ora que este tópico já vem a ser discutido há décadas. Os argumentos são os mesmos de sempre: as passagens da Bíblia. A sagrada palavra de Deus diz que “as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja” (Coríntios 14:34-35).

E são estes os fundamentos usados para suspender a ideia de equidade de escolhas no mundo divino. Razões que provêm do mesmo livro que grita a impureza decorrente da menstruação, uma técnica de punição divina por não se ter cumprido a função primordial da mulher: reproduzir.

Os fundamentos teológicos ilustram, sem dúvida, uma clara conveniência desta disposição bíblica, ignorando o lapso de tempo que os separa dos escritos sagrados. Segundo a igreja, devemos interpretar a Bíblia com prudência, de forma a contextualizar todas as metáforas e analogias providenciadas. Ora que estas metáforas estão presentes em passagens que descrevem o incesto, mas devem ser interpretadas de forma completamente inversa. Em oposição, a função de subalternidade da mulher, de impureza e tentação, mantêm-se e as teologias continuam praticáveis após vários milénios de anos.

As mulheres não são pessoas à mercê da vontade do homem. Não vivem num ponto do tempo inalterado, em prol de preservar costumes. As tradições que diminuem, distinguem e afastam os dois géneros em matéria de direitos básicos não são aceitáveis. Os dogmas inalienáveis, que caminham em sentido oposto à justiça e igualdade social, são princípios que se devem esbater. Aliás, de acordo com os mandamentos básicos, seria esta a missão cristã.

Numa doutrina que defende a igualdade de todos, o amar o próximo parece cada vez mais inconciliável com os direitos da mulher no ordenamento sacerdotal. Estes limites teológicos escarnecem a luta pela igualdade de género. Neste sentido, a mulher não possui sequer pleno direito de escolha no que diz respeito ao seu futuro.

A igreja católica devia colocar os olhos nas outras religiões que dão passos em frente, em vez de se esconder na inércia das tradições. Excluir as mulheres do ordenamento sacerdotal não harmoniza o plano de Deus e não transparece os valores iniciais da religião. Encontra-se antes em conveniência de se manter na ignorância tradicional, abstraída de um contexto do mundo contemporâneo.

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