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Artigo de Opinião

SEXO, DROGAS… E PIB

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Tiago Vaz

Tiago Vaz

A notícia saiu há cerca de dois dias: o Reino Unido foi este ano a quinta maior economia do Mundo, ultrapassando a França (algo que raramente acontece). A razão, embora não inédita, dá sempre que pensar: a inclusão das receitas de atividades de prostituição e tráfico de drogas nas contas públicas.

Não é, de facto, algo inédito. Já não é o primeiro país que o faz e adicionar estas atividades ao cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) até faz parte das novas directrizes da União Europeia. Contudo, é interessante verificar que, juntas as duas atividades, se estima uma receita adicional acima dos 15 mil milhões de euros. Mais interessante ainda do que tentar descortinar as atividades de lazer preferidas dos ingleses, é isto ter sido feito a meia dúzia de dias do final do ano. A meia dúzia de dias do final das previsões e do início das contas reais. É incrível que ainda se tomem decisões políticas com o objetivo da obtenção de um título, de uma coisa efémera e tão juvenil como lutar por um 5º ou 6º lugar num ranking.

Porque afirmo que se trata disto? Porque, dado curioso, os franceses colocaram-se terminantemente contra a inclusão destas atividades de economia paralela (leia-se, toda e qualquer atividade que não passa recibos e, portanto, não paga impostos) no cálculo do PIB e afirmaram que ambas as atividades são involuntárias. Isto porque o consumo de drogas deriva de uma dependência, e a prostituição do tráfico de imigrantes ilegais. Se há algo mais incrível do que a necessidade inglesa em ser melhor que os franceses, só pode ser isto: a ingenuidade francesa.

Ora então, todos os consumidores de droga são viciados e dependentes dessa mesma droga. Até os que nunca a experimentaram, logo na sua primeira compra, já são dependentes. E todas as prostitutas são imigrantes ilegais, trazidas à força de outro país ou enganadas por alguém. Confesso, não conheço muito da realidade social (na prática) das ruas francesas. Mas custa-me a crer nesta visão tão fechada, moralista e preconceituosa. Custa-me a crer que venha de um país desenvolvido, do século XXI, país de revoluções liberais.

É, enfim, um retrato pitoresco do estado da política europeia e de duas das suas maiores economias. Uma quer entrar em casa e mostrar ao pai as notas da escola só com avaliações excelentes. A outra entende que a economia paralela é uma coisa vil e fruto de dependências e problemas estrangeiros (pergunto-me o que pensará o governo francês das empregadas domésticas…).

Esperemos que 2015 traga algo um pouco melhor: para eles, para a economia paralela e as suas atividades, para todos vocês e para mim também. Até para o ano!

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