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Artigo de Opinião

A FALTA DE SOLIDARIEDADE EUROPEIA

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Gonçalo Dias

Gonçalo Dias

A compreensão de que a União Europeia já não soa como um hino à alegria, como foi devidamente referenciado pelo politólogo búlgaro Ivan Krastev, não só se revela uma necessidade, como uma percepção obrigatória para a sobrevivência e para o desenvolvimento de um estado membro.

Podemos analisar os resgastes financeiros da mãe Europa como projectos laboratoriais, onde o Banco Central Europeu compactou e auxiliou o agravamento de dívidas ao ponto de se tornarem incomportáveis, superando o poder económico dos países necessitados. Assiste apática ao sofrimento causado e à lenta e fatal hemorragia, onde países como Irlanda, Espanha e Portugal “sangram” para pagar as suas dívidas, comprometendo o seu desenvolvimento e atrasando o país em 30 anos, como Brian Hayes, ministro-adjunto das Finanças da Irlanda, fez questão de elucidar.

Confrontar os responsáveis europeus das consequências sociais e económicas dramáticas e os resultados da aplicação dos programas de austeridade parece escusado, não seja a indiferença que lhes provoca. É de recomendar um excelente documentário que se intitula “Os segredos do resgate financeiro” (PBS – Frontline), onde Harald Schumann, editor do jornal diário berlinense, “Tagesspiegel” entrevista determinadas personalidades, contando com depoimentos de Brian Hayes, ministro-adjunto das Finanças da Irlanda (já citado anteriormente), de Luis de Guindos, ministro das Finanças de Espanha, de Jorg Asmussen, membro do Conselho Executivo do Banco Central Europeu, e até inclui uma conversa bem esclarecedora com Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças da Alemanha!

O que fica claramente demonstrado, sem contestação – apesar de todos os entraves levantados à divulgação dos nomes dos “beneficiários” – é que foram os bancos alemães, franceses e ingleses os reais destinatários dos resgates das dívidas soberanas e que foram os investidores que provocaram a crise financeira internacional, motivados por intuitos especulativos com base numa deficiente avaliação dos riscos existentes, puderam apesar de tudo recuperar os seus créditos à custa dos contribuintes dos países endividados. O que o ministro das Finanças alemão não conseguiu refutar é que, ao contrário da ideia de que seriam os contribuintes alemães que estão a “ajudar” os países endividados, efetivamente, são os cidadãos destes países quem está a pagar as dívidas dos seus bancos, a pretexto da necessidade de evitar a qualquer custo aquilo que designam como um “risco sistémico” que ficou por demonstrar: que a insolvência de um banco fatalmente arrastaria, como as pedras do “dominó”, a falência de todos os outros.

Maquiavel estava persuadido de que os países e os seus dirigentes têm aquilo a que ele chama os bons e maus anos. O dirigente sábio é aquele que durante os bons anos consegue acumular suficiente lealdade política para se poder aguentar durante os maus. A questão está em saber se a UE dispõe, hoje em dia, de um capital de confiança suficiente junto dos seus cidadãos para poder atravessar a crise.

Aquilo que se verificou na Irlanda, e se pode hoje constatar nos demais países endividados, são economias exaustas sem prospecções de se regenerarem, países e governos que aceitaram termos e condições do BCE através de uma diplomacia de arma apontada, um encostar à parede negligente e criminoso. Uma UE alheia ao sofrimento e aos esforços exacerbados dos cidadãos para corrigir uma situação provocada pelos bancos e restantes opressores financeiros.

Assistimos a uma amputação de membros vitais e ainda nos pedem para operar como se contássemos com a eficiência e a totalidade das nossas faculdades. Há que saber dizer que “não!” à Europa de Merkel e a esta decadência moral que caracteriza esta instituição representativa do velho continente.

A re-estruturação da dívida tem de ser discutida com firmeza e há que compreender a complexidade deste cenário, em Portugal e na Europa, de forma a congregar vontades para promover a solidariedade de que o Velho Continente anda tão esquecido, promovendo novas políticas cuja necessidade começa a recolher um crescente consenso.

Temos o país à venda, vítima de governos anti-democráticos, com disciplina de voto e medidas que provocam consequências catastróficas, e que são capazes de incapacitar Portugal por muito tempo.

Nunca a sociedade portuguesa se deparou com este conjuntura, onde tem as melhores e mais qualificadas gerações. O diploma esta tão banalizado que conduziu a uma inflação académica, onde nem um emprego consegue ser garantido. Estas gerações instruídas representam o maior investimento de todos os contribuíntes, projectando um futuro que agora nos abandona. Esta dictomia partidária que temos instaurada, negligenciou o maior investimento e o mais significativo sacríficio de toda a população. Cada jovem que emigra, constituí uma derrota para o país, investimos na sua formação, apenas para o Governo dizer “vai usar o teu conhecimento e competência para o estrangeiro”

Não podemos compactuar com esta falsa democracia, não chega eleger representantes, quando o FMI, a OCDE entre outras instituições reguladoras não são democráticas.

 

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1 Comment

1 Comment

  1. João

    9 Mar 2015 at 22:57

    Concordo com a tua opinião Gonçalo e acho urgente uma consciencialização das pessoas para a possibilidade de uma mudança que parece tão difícil de obter. Difícil, mas possível, pois o mais difícil é sem dúvida o cativar o interesse por estes assuntos que já nos desinteressaram há muito.
    Já vimos que é possível fazer frente à UE alheia aos nossos sofrimentos, por isso não podemos deixar prevalecer a dictomia partidária da qual falaste e bem.
    Ainda não sei se voto, mas se votar vai ser no LIVRE. Acho que só podemos querer uma mudança e os do costume nada querem mudar e os do costume da oposição nada querem governar. O LIVRE começa a cativar gente interessante e farta desta politica bipartida.
    Parabéns pelo texto e espero ler mais opiniões tuas.

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