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Artigo de Opinião

SONO AMERICANO

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Gonçalo Dias

Gonçalo Dias

Se falar do navio transatlântico, dado pelo nome de RMS Titanic, dificilmente falo de algo desconhecido pela maioria, muito devido ao facto de ter servido como inspiração cinematográfica para o realizador James Cameron, popularizando, deste modo, um dos naufrágios mais mediáticos do século XX. Mas houve um navio, com um fim trágico semelhante, que se revela, a meu ver, mais pertinente de ser falado e de ser conhecido, o nome desse navio dá-se por USS Maine.

O naufrágio do USS Maine foi tão inesperado como calculado, pois despoletou a guerra hispano-norte-americana de 1898. O navio zarpou rumo ao porto de Havana para proteger os interesses dos Estados Unidos em Cuba, durante as lutas de independência da Espanha. Durante um clima de tensão tremenda o insólito acontece, como tantas vezes aconteceu na história dessa nação imperialista, o USS Maine explode, afundando-se no pacífico e levando consigo 260 homens pertencentes à tripulação. O governo dos EUA, rápida e apressadamente alegou que se tratava de uma manobra de sabotagem de Espanha.
Sob ameaça de uma guerra com a maior potência militar da altura, nuestros hermanos rapidamente se renderam, suplicando misericórdia e submetendo-se a inúmeras e severas condições, sendo que uma delas, curiosamente, foi abdicar de Cuba.
Posteriormente, descobriu-se que a causa da explosão tinha sido a combustão “espontânea” do carvão armazenado.

Os EUA fizeram de Cuba um verdadeiro campo de férias para a alta burguesia capitalista, construíram uma base naval e uma prisão em Guantanamo e condicionaram uma população inteira de forma a saciar as suas necessidades. O primeiro passo foi apoiar Fulgêncio Batista, um fantoche amestrado que ouvia a voz americana como chamamentos divinos. Este adotou medidas paliativas de forma a simular progresso, quando a única consequência era uma corrupção desmedida e oportuna, desfalques atrás de desfalques e políticas agrícolas fraudulentas, orientadas pelas exigências norte-americanas, conduzindo um povo analfabeto à fome e à morte precoce.

Mohammad Reza Pahlavi foi o Fulgêncio iraniano, obediente e submisso às vontades americanas, permitiu abusos económicos sistemáticos que empobreceram o Irão drasticamente na primeira metade do século XX. Impediu a nacionalização das companhias petrolíferas iranianas, porque causava transtorno aos EUA e negligenciou uma população que compensava com fé o que faltava nos estômagos, enquanto modernizava o país, “esmagou”, permitam-me o eufemismo, a oposição do clero xiita e os apoiantes da democracia, tudo com o incondicional apoio americano.

No país vizinho Afeganistão, a rebeldia taliban era o único entrave à União Soviética na difusão pela respetiva terra árabe dos princípios comunistas para levar a cabo a consequente exploração das riquezas petrolíferas do país. Face a esta iminência, a “polícia do mundo” financiou e treinou os estudantes, de forma a expulsar com sucesso os soviéticos. Posteriormente e sob a mesma ameaça, deu o conhecimento e a força necessária ao movimento Jihadista e à Al-Quaeda para se erguer devidamente.

Todavia o caso mais flagrante da política ditatorial e corrupta dos EUA ocorre no conflito israelo/arábe sendo que Israel é o grande comprador de equipamentos militares americanos, envolvendo-se também no desenvolvimento conjunto de tecnologia militar, realizando regularmente exercícios militares conjuntos com os EUA. A proteção dos americanos na ONU, as ocupações ilegítimas dos israelitas, são descaradas, sendo conveniente salientar que houve cerca de 40 vetos dos Estados Unidos, no Conselho de Segurança da ONU, com o intuito de proteger Israel.

A lista de casos gritantes de intervenções indignas e só justificáveis num ponto de vista sádico de patriotismo, alonga-se e torna-se tão repugnante como repetitiva. Mas o que também se alonga são as ironias e as incongruências históricas. Os EUA financiaram ditaduras, para recentemente perpetrarem golpes de estado que destituiriam ditadores como Kadhafi, Sadam Hussein e Mubarak, tudo com o camuflado intuito democrático. Financiaram movimentos fundamentalistas, para depois se vitimizarem e arranjarem o sucessor soviético, nomeadamente o terrorismo. Opõem-se a referendos por já conheceram eventuais desfechos, como aconteceu na Crimeia. A conveniência rege o temperamento e os propósitos imperialistas americanos, sequiosos de superioridade e controlo mundial, mas afinal como é possível este país sair sempre ileso destes atentados à humanidade?

Jovens continuam a idolatrar a cultura e as tendências americanas, inspiram-se nas “marionetas” originadas por determinadas indústrias ligadas ao entretenimento, alimentam-se dos valores ocidentais de lá provenientes e consideram ser os apropriados, encarando com desdém, certas maneiras e modos distintos, fazem igual, porque ser diferente é o mesmo que ser marginalizado! Induziram-nos num sono profundo através de uma comunicação social tendenciosa e perversa que condiciona as nossas opiniões e espíritos críticos, fazem- nos acreditar num inimigo comum, criam o medo, endividam nações para depois nos cobrarem soluções.

Não acredites no que ouves, desconfia do que vês, faz da leitura um vício e insurge-te, só assim poderás acordar do sono americano!

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