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Artigo de Opinião

MÚSICA QUANTIFICÁVEL

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11160559_453503254807858_3261787324621989144_nNuma sociedade de consumo frenético e convulsivo, da quantificação e da matéria, desgastou-se a ideia primária de que o artista seria um génio, louco, desorganizado e preguiçoso. A fluidez artística e expressiva já não escorre pelas paredes por onde ecoam os dias de inspiração. Estes foram banidos. Já não temos tempo para esperar por ela. Já não lhe somos sensíveis.

O pensamento consumista, que associa a quantidade à qualidade, deteriora a pré-disposição para a exploração do mundo sensorial e futura conjugação com o racional. O estudo da obra musical é feito mecanicamente por nós, autómatos cumpridores de horários.

Não estou a propor de todo o renascimento do artista louco, mas espero que nos pinguem para os lábios, de quando em vez, pedaços dessa alienação. O artista foi catalogado, arquivado segundo parâmetros inflexíveis. A quantidade de horas de trabalho assumiu um papel essencial na sua vida. Aliás, o valor do seu trabalho está directamente relacionado com as 10, 8, 6, 5 horas utópicas, que egoisticamente nos enclausuram nas suas garras frias e negras. A produção artística precisa de trabalho para que possa haver liberdade suficiente para a expressão e interpretação. Mas, não pode ele sugar, com uma sagacidade voraz, a beleza da espontaneidade e da musicalidade. Deve ser um meio, e não um fim.

A quantidade das horas de estudo só tem qualidade enquanto o aluno puder estar concentrado e a usufruir da sua criação. A arte precisa de estímulos, de abrangência, de vivências para que possa ela ser orgânica. Só desta forma este fruto da nossa alma e intelecto adquire uma entidade, e não é uma pasta turva, anónima e órfã.

A arte é o factor identitário das culturas, mas para que tal aconteça, precisa de conter nela os seus gestos.

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