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Artigo de Opinião

A ÚLTIMA FILA

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Beatriz CarneiroÉ bem notório o olhar de repreensão que alguns professores dirigem aos alunos da última fila, sem imaginarem o desconforto e embaraço dos alvos desses mesmos olhares.

Geralmente, as últimas filas das salas estão destinadas aos chamados “baldas”, que só vão lá para assinar a folha e passar o resto da aula a conversar, no telemóvel, a ver as novidades no facebook, no twitter, no instagram ou a jogar “Perguntados”. Mas é importante não esquecermos aqueles pobres espécimes, que se têm, obrigatoriamente, de resignar à última fila. Isto acontece mais vezes do que as pessoas pensam.

Quando se entra numa sala de aula, o processo de escolha do lugar onde nos vamos sentar não é tão imediato e automático como parece. Primeiro, é necessário nos definirmos enquanto estudantes.

Somos os da primeira fila que durante a aula acenam a cabeça ao professor para mostrarem que estão a perceber tudo (mesmo que não estejam), o olham e sorriem e fazem, de cinco em cinco minutos, algum comentário sobre a matéria? Somos os da segunda fila que pensam “não sou demasiado convencido para ir para a primeira fila, mas humilde o suficiente para ir para a segunda”? Somos os das filas intermédias que não chegam a tempo de ocupar a primeira e segunda fila? Ou somos os “baldas” que esperam que todos se sentem para irem para o fundo da sala?

Como vemos, o leque de opções é variado e extenso. Porém, poderemos considerar uma outra opção, que não dependendo de escolhas pessoais, poderá ser manobrada ou manipulada por forças maiores ou mesmo pelo trânsito. Esta opção é a dos atrasados.

Devemos considerar todos os tipos de atrasados. Os que adormecem, os que não conseguem decidir se a camisa azul fica bem com as calças verdes, os que ficam sem água quente quando estão a tomar o seu duche, os que apanham trânsito, os que acharam que o autocarro era às nove e meia e não às nove, os que discutiram com a mãe antes de sair de casa, porque não tomaram o pequeno-almoço, os que acharam que a aula era às dez e não às oito…Podemos pensar nos mais variados géneros de pessoas atrasadas, e essas, de facto, não têm grande escolha quando chegam à sala e vêem que só há lugar ou na primeira ou nas últimas filas. Aqui é onde se toma a decisão difícil.

Se escolhermos a primeira, poderemos passar o resto da aula a sermos fulminados com um olhar de repreensão pelo nosso atraso, que no caso de sermos tímidos, resultará em suores e cara de tomate, ou vamos para a última fila, fazendo um esforço enorme para ouvir a professora que usa o volume no mínimo, enquanto à nossa volta está a verdadeira cavaqueira dos que já nem ligam ao que o professor está a dizer. Nesta segunda opção, seremos também objeto de observação, desde que entramos, fazemos barulho a fechar a porta com os sapatos, a arrastar a cadeira, até que nos sentamos e recuperamos dos dois andares que acabamos de subir.

Não chegar atrasado parecer a solução. E entrar primeiro na sala.

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