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Artigo de Opinião

“A BÍBLIA – O GUIA POLÍTICO MAIS CRITICADO”

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Nas últimas semanas foram divulgadas diversas conversas com algumas personagens mediáticas no âmbito do debate “Conversas com Deus” que vem sendo transmitido pela Rádio Renascença. Do meu ponto de vista, deslocar figuras públicas como Marcelo Rebelo de Sousa ou Assunção Cristas para uma situação mais intimista só tem porque ser interessante e uma belíssima aprendizagem daqueles que diariamente vemos nos Media exercendo as suas atividades profissionais sem que tenhamos conhecimento do que os faz homens e mulheres comuns (“sim, os famosos também vão às compras” diria um célebre apresentador de televisão).

Contudo, este debate tem merecido críticas acérrimas por grande parte da audiência. O facto de os ícones políticos também se regerem por dogmas e doutrinas religiosas parece incomodar o público ateu (ou descrente), que não tem conseguido amortecer o impacto do confronto com essa, óbvia, ou quase óbvia realidade.

Se por um lado, Assunção Cristas, apenas errou na abertura sem barreiras que manteve sobre este tema mais pessoal, o que inevitavelmente a sujeitou a comentários mais desagradáveis, por outro lado, Marcelo rebelo de Sousa, foi bastante mais comedido e assertivo na sua dissertação sobre o tema.

Na sequência desses debates e dos comentários que foram surgindo, tenho para mim que a laicização do Estado tem sido mal entendida. A laicização do estado separou, à época, o Estado da Religião Católica (devido à sua grande influência sobre as decisões), mas que nem por isso – e resta óbvio, de resto, da letra constitucional – impediu que o Estado integrasse pessoas que seguissem dogmas e princípios de índole divina, ou que os profissionais da politica individualmente considerados não pudessem seguir aquilo que um dia nos foi maravilhosamente compilado num livro a que chamamos Bíblia. Mais digo que a Bíblia não é Católica, como muitos parecem acreditar, mas a Bíblia é de todos. Então porque é que qualquer pessoa, mais mediática ou menos mediática, no exercício da sua profissão não poderá assumir-se como uma seguidora dos princípios bíblicos? Compreendo que para muitos a Bíblia não passará de um livro. Mas a Bíblia é mesmo isso, um livro, ou melhor, é “O Livro”. É necessário ler a Bíblia entendendo o espírito com que foi elaborada, atender à época em que foi escrita e às mentalidades que estão por detrás de toda a narração. Da mesma forma que se fala no espírito da Lei, se “lê as entrelinhas” numa conversa, ou se lê Fernando Pessoa e se entende que há mensagens subliminares. Assim é a Bíblia. Assim é o Alcorão. E, perdoem-me o aparte esquecendo todos os incidentes religiosos recentes, desconheço livros que bem interpretados nos forneçam mais e melhores conselhos para a vida.

Acredito que se somos pessoas é inevitável seguir dogmas de qualquer espécie – sejam eles originários da educação religiosa, cultural, ou da educação da vida em si mesma – e que pelo facto de não partilharmos as mesmas convicções não podemos criticar libertinamente o pensamento do próximo, seja quem for esse próximo. Se formos ateus não podemos querer que todos sejam ateus. Se formos crentes em Deus não podemos querer que todos sejam crentes em Deus. Devemos aceitar as crenças de todos e manifestar opiniões, mas não impor as nossas crenças desenfreadamente. Ora, não me soa criticável que Assunção Cristas assuma que em situações políticas em que se sentiu incapaz de resolver, tenha optado por tomar decisões semelhantes às da Bíblia. Nem me parece descredibilizar uma figura sonante como Marcelo Rebelo de Sousa o facto de se mostrar um homem de fé.

Despeço-me deixando o debate: qual é o prejuízo de termos políticos crentes em Deus e no legado bíblico? Penso que nenhum.

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