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Sociedade

AO DISPOR: A PLATAFORMA DE EMPREGO SEM INTERMEDIÁRIOS

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Para quem ainda não conhece, o que é e como funciona o Ao Dispor?

Imagine que precisa de um explicador: vai a “aodispor.pt”, procura por “explicador” e encontra os explicadores que estão a oferecer o serviço perto de si. Aparece uma agenda, contacta, começa a falar com ele formalmente e contrata: já está. Foi feito para ser fácil e imediato de compreender.

E de onde surgiu a ideia de criar uma plataforma nova?

Estava há uns anos atrás a ver notícias sobre a crise e o desemprego e a ver muitos portugueses a sair do país, para fazer coisas que podiam fazer dentro do país. O problema é que há mais portugueses do que há vagas nas empresas, mas também há mais pessoas a precisar destes profissionais do que eles pensam. Ou seja, até mesmo um profissional como um canalizador, tem muita gente na sua vizinhança que precisa do trabalho dele e não tem essa consciência. E como é que um profissional por conta própria se promove? Podia usar as páginas amarelas, mas é antiquado e é caro; pode deixar papelinhos na porta, que é o que tem acontecido, ou nos painéis de cortiça dos minimercados. Mas não é a forma mais eficiente, porque hoje em dia a nossa geração vai ao Google procurar até mesmo um canalizador ou um eletricista, e a verdade é que não aparecem resultados.

A outra página que existe é o LinkedIn e dá para fazer um curriculum vitae para ser recrutado por empresas, mas para profissionais liberais se porem ao dispor diretamente para quem precisa deles, não existia uma página assim. E agora passa a haver. Agora quem tem o seu perfil no Ao Dispor pode ser encontrado logo no Google.

É mais imediato, então?

Muito mais, porque a ideia é tirar os intermediários que existiam: carrega-se no botão para conversar com o profissional e já está.

Em relação à rede LinkedIn, que é usada por tanta gente, quais são as principais diferenças e vantagens do Ao Dispor?

Essa é uma outra inspiração para o Ao Dispor. Há aqui muitas acções de formação para a empregabilidade, do género “Como fazer um bom LinkedIn” e anda toda a gente a perder imenso tempo, passam horas naquilo e vão de manhã ao LinkedIn como quem vai ao Facebook. Mas o que acontece e parece que ninguém reparou ainda, é que o LinkedIn não dá emprego. É perder tempo, porque não interessa o quão bonito está o perfil e se está em inglês e com uma descrição de cada uma das coisas, não dá emprego. Tomara eu que as pessoas arranjassem emprego, mas a verdade é que o LinkedIn não lhes dá emprego.

Acha que não faz tanta diferença quanto isso?

Não. E outra coisa que acontece, é que estas acções de formação pelo país fora, servem para supostamente tornar os portugueses mais “empregáveis”, para ensinar a fazer um bom curriculum vitae, um bom design e uma boa carta de apresentação, e que tem de gastar uma hora para a fazer … mas isso vai para o lixo! É com grande tristeza minha, mas nada disto serve. Não é o LinkedIn, não são os currículos, não é a carta de apresentação, não são os cartões de visita, não é nada disto. Acho que em Portugal há uma apreensão quanto ao trabalho por conta própria, mas a verdade é que a maior parte do trabalho por conta própria é melhor do que trabalhar para uma empresa: são as próprias regras, os próprios horários, é ficar com o dinheiro todo para ele em vez de receber um ordenado mínimo ou a empresa ganhar o bolo dos clientes todos… e o trabalho por conta própria também tem a vantagem de o profissional ficar com o brilho, com a reputação pessoal. Mas em relação ao LinkedIn, as vantagens são: o profissional por conta própria; no Ao Dispor, pode ser contratado imediatamente por quem precisa dele, enquanto no LinkedIn serve para ser recrutado por empresas.

Ricardo Pinho – Ao Dispor

Então acha que há vantagens em não se ter uma entidade/empresa intermediária?

Em muitas profissões, eu acho que sim. Acho que é a necessidade, nesta época, que faz muitos portugueses trabalharem por conta própria. Mas quando acabar a crise é possível que não queiram voltar a trabalhar para uma empresa, receber menos do que estavam a ganhar, ordens e todas essas complicações que não acontecem quando se trabalha directamente com o cliente.

A informação disponibilizada pelos utilizadores, pode ser uma questão que preocupa as pessoas. Há alguma maneira de confirmar a sua veracidade?

É um tema que me preocupa e para já nós temos duas formas de validar: primeiro, só se pode inscrever no Ao Dispor através de uma rede social. É preciso aceder ao botão do Facebook, Google ou LinkedIn – e isso significa que o processo de validação já passou pela outra rede social. Além disso, nós ainda pedimos o número de telemóvel e mandamos um sms de confirmação. Portanto, para esse aspeto já temos duas camadas de validação. Eu sei que pode dizer: “Mas mesmo os dados podiam ser falsificados”. Está bem, mas é muito mais seguro do que o cartaz do mini mercado, é mais seguro que o papel na caixa de correio. E se tiver algum tipo de receio, pode ter uma conversa com o profissional e decidir combinar um encontro num café primeiro. Também entra aqui o senso comum.

Para quem precisar, a plataforma tem algum tipo de assistência técnica?

Gostávamos muito de ter isso. O que acontece é que este projecto que não é uma empresa, não estamos a fazer lucro com isto. Somos 3 pessoas que fazem outras coisas e que nos tempos livres fazemos isto para ajudar Portugal, e o resto do mundo mais tarde. Mas há muita gente que poderia ser beneficiada com o Ao Dispor e que tem dificuldades em usar o computador. Aposentados e pessoas sem a escolaridade suficiente que precisam de trabalhar, e o mais importante é que há pessoas que têm internet e que procuram por um carpinteiro, electricista e outros. Então há aqui uma desconexão, uma assimetria de conhecimentos técnicos.

Para colmatar isto, por um lado tentamos fazer a página o mais fácil de perceber possível. É um grande esforço e estamos sempre a tentar ver como é que poderemos tornar a página mais fácil de perceber. Por outro lado, como não temos funcionários para dar formação, pedimos à sociedade civil que dê essa formação. Algumas câmaras municipais já nos acolheram, por exemplo, Oeiras e Coimbra que, para já, foram os grandes apoios no sentido de fazer chegar o Ao Dispor à população através dos canais de acção social, dos gabinetes de inserção profissional, onde dão uma formação, uma espécie de workshop de como se inscrever na plataforma. É essa a resposta que penso ser possível para as pessoas que têm dificuldades a usar a internet, para poderem vir a estar integradas nesta economia digital.

Num dos seus textos com as razões de ter criado o Ao Dispor, disse que “Quem não consegue sair, fica cá a trabalhar em qualquer coisa, quando consegue arranjar essa qualquer coisa, não a fazer o que gosta ou o que sabe ou o que tem experiência, mas no que se arranjar.” Considera mais fácil fazer o que gostarmos ou aprendermos a gostar do que fazemos?

Tudo é possível. Nós somos seres humanos flexíveis e neuroplásticos. Mas imaginemos alguém que está a fazer uma profissão que não é a da sua paixão. Ou pode entrar no processo de dissonância cognitiva e habituar-se à ideia de gostar dessa profissão que arranjou, desistindo da sua profissão de sonho ou porque não ambas? Imaginemos que alguém durante o dia está a fazer a profissão que arranjou, e por exemplo, como profissão por conta própria, gostava mesmo de ensinar violino. Poderá pôr-se ao dispor para, como profissão liberal, dar aulas de violino durante o seu horário livre aos fins-de-semana. Não será possível vir arranjar um conjunto de alunos de aulas de violino ao ponto de conseguir abandonar o trabalho que se arranjou e conseguir fazer o trabalho que é a sua paixão? Talvez a profissão liberal permita que as pessoas não desistam do seu sonho. Não existirão empresas que precisem de professores de violino? Como profissão liberal pode arranjar numa cidade uma carteira de clientes que o permitam fazer a sua paixão.

Que conselho gostava de deixar aos recém-licenciados e a quem é novo no mercado de trabalho?

O meu conselho é que estimulem e façam exercício de imaginação e questionar: será que a formação para a profissão que escolheram tem mesmo de ser feita num ambiente estruturado institucional? Não é possível começar a fazer já o exercício dessa profissão por conta própria?

No caso dos psicólogos, por exemplo, não é possível em vez de estar à espera e depois entrarem para uma clinica como estagiário não remunerado, que está lá a fazer voluntariado, será que não pode fazer psicologia na sua própria casa ou em casa do cliente? Será que tem mesmo que ficar em casa, à espera duma empresa, a mandar o seu curriculum vitae, a melhorar o LinkedIn, a fazer uma carta de apresentação que vai para o lixo? Será que é esta a solução? Eu acho que este é um exercício muito interessante para todos os portugueses, aliás não precisam de ser só licenciados, até durante a universidade, já podem fazer alguma forma de exercício profissional daquilo que estão a ter formação.

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