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Cultura

O SONHADOR, QUE O SEU PORTO VIU DESAPARECER

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Paulo da Cunha e Silva nasceu em 1962 na cidade de Beja, morou em Aveiro, Portalegre e Braga, mas foi pelo Porto que se apaixonou. Licenciado em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, foi também mestre e doutor, professor de anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, de Pensamento Contemporâneo na Faculdade de Desporto da mesma universidade e assistente do professor Nuno Grande.

Todavia não só de ciências se fazia o mundo de Cunha e Silva. A arte possuía também um peso e lugar especial na sua vida. Atividades como crítico de arte, comissário de várias exposições, colunista, escritor, comentador, diretor do Instituto das Artes do Ministério da Cultura, conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Roma, coordenador científico dos Estudos Contemporâneos da Fundação de Serralves, colaborador da Fundação Gulbenkian, presidente da Comissão de Cultura do Comité Olímpico Português e comissário do Porto 2001 e Guimarães 2012, fazem parte do seu extenso currículo nas áreas artísticas. Ainda muito novo começou a organizar eventos de debate e troca de ideias, pensamentos e envolvimento de várias áreas artísticas, que juntamente com a colaboração com a Fundação de Serralves, serviram de rampa de lançamento para os projectos mais importantes em que esteve envolvido.

De energia contagiante, grande entusiamo e criatividade inesgotável foi eleito vereador da cultura da cidade do Porto fazendo história na história da cidade. Paulo Cunha e Silva, que tal como Abel Salazar defendia que ‘um médico só sabe medicina ou nem medicina sabe.’, voltou a cidade invicta para si mesma. Conseguiu o que mais ninguém havia antes conseguido: trazer a cultura à cidade. Não só a alguns cidadãos, mas sim a todos. Cultura a baixo custo e até mesmo grátis, ficou à possibilidade de todos os grupos sociais e faixas etárias. A definição de uma “cidade líquida”, movente, “onde tudo pode acontecer em todo o lado” corresponde a esta ideia. Assim sendo, a dança voltou ao Rivoli, a Rua Passos Manuel voltou a ser a “rua do cinema”, várias companhias foram tornadas residentes do projecto de união que criou o Teatro Municipal do Porto, projectos inovadores foram desenvolvidos, pessoas encheram a rua dos Aliados para os vários concertos lá organizados, partes “esquecidas” da cidade foram reavivadas através do projeto ‘Cultura em Expansão’ e as paredes outrora pintadas de branco, passaram a ilustrar com os seus desenhos, o dia-a-dia da vida portuense,…

Viver a cultura da cidade, é ser a própria cidade. Permite favorecer a coesão social e provocar uma sensação de identidade e pertença, originando assim uma imagem de marca própria e humana potenciando o valor da Invicta -um pensamento que considerava dever-se ter em conta, uma vez que considerava “o Porto como um laboratório político-cultural para o país”. Este visionário, criativo e envolvente, tinha a capacidade de unir diferentes pessoas e diferentes áreas. Sendo considerado por muitos como um génio, olhava a cidade de uma forma estratégica em que o todo e a união são melhores que as partes, apostando nesta cidade como um possível “micro-Berlim do Sul da Europa” ou uma “Florença do séc XXI”.

A notícia da sua morte foi recebida com choque. A pessoa que havia transformado o Porto desapareceu e essa eterna ausência foi reconhecida como um bem insubstituível da cultura nacional e portuense. Por agora, as actividades agendadas continuarão a acontecer e os projectos da Biblioteca Pública Municipal do Porto e Matadouro irão para “avante” como era sua vontade.

Não se sabe de facto qual a razão que levou o coração do vereador a parar tão precocemente, mas duma coisa há certeza: continuaria a bater pelo seu Porto, a sua cidade, até que tudo o que havia sonhado se concretizasse.

 

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