Opinião
Cinema Paraíso: Um Hino ao Cinema e à Magia da Sétima Arte

Lançado em 1988, este clássico italiano não é apenas uma obra sobre cinema — é uma verdadeira carta de amor à sétima arte e ao poder da memória , no meio deste ruído que é o mundo o Cinema Paraíso surge como uma pausa necessária na introspetividade da minha vida.
Decidi hoje, no meu artigo, abordar um tema interessante e, até certo ponto, relaxante , não sendo fácil escrever em tão pouco texto Sendo uma das minhas paixões o cinema — a magia da sétima arte —, em tempos de plataformas digitais, algoritmos e facilitismo na absorção de conteúdos, é raro, nos dias de hoje, um filme conseguir tocar tão profundamente como este filma me toca.
Através da história de Salvatore, um cineasta bem-sucedido que regressa à sua terra natal após a morte de Alfredo, o velho projecionista, o espectador é conduzido por um caminho feito de lembranças, saudades e descobertas emocionais — até mesmo familiares —, sobretudo quando nos conectamos à ligação emocional entre o jovem Salvatore e o projecionista. O pequeno cinema da vila, onde tudo começou, torna-se o palco de uma infância marcada por risos, paixões e a descoberta do mundo através das imagens projetadas num ecrã branco.
Cinema Paraíso é mais do que um exercício de nostalgia — é, definitivamente, um hino à importância do cinema na construção da identidade individual e coletiva. O valor da nostalgia, tantas vezes é inquebrável, permanece presente nas nossas vidas, assumindo diversas formas . Tornatore mostra como as salas de cinema, na sua essência, eram espaços de encontro e partilha, onde se viviam emoções em comunidade.
O filme emociona não apenas pelo que conta, mas pelo que desperta: a lembrança do nosso próprio passado, daquilo que é as nossas origens , da primeira vez que fomos ao cinema, das histórias que nos marcaram e da forma como o cinema molda a nossa própria imaginação.
Mais do que um filme: uma carta de amor ao cinema
Cinema Paraíso é daqueles raros filmes que não contam apenas uma história, mas sim o significado de várias histórias. Ao longo das suas cenas, Tornatore não precisa de um ritmo frenético, não quer não está preocupado em impressionar, mas sim em emocionar. O espectador é convidado a apreciar cada momento, sem pressas. O realizador não recorre a uma narrativa complexa com grandes argumentos, mas aposta na simplicidade, construindo uma homenagem ao papel que o cinema desempenha nas nossas vidas — como nostalgia e como ponte entre gerações.
Cada enquadramento do filme é pensado com tempo, com a beleza típica italiana e, sobretudo, com algo que se tem perdido ao longo do tempo: o respeito pelo outro, a humanidade, a capacidade de nos preocuparmos verdadeiramente uns com os outros.
O cinema, neste filme, é mais do que uma forma de arte — é um elo emocional. Representa a tristeza, a infância, o amor, o riso, a perda e até a construção da identidade.
A história acompanha Salvatore, conhecido em criança como Totò, um rapaz curioso e encantado pelo pequeno cinema da sua aldeia siciliana. Fascinado pelas imagens em movimento e pelo ambiente mágico da sala escura, Totò desenvolve uma ligação familiar com Alfredo, o velho projecionista. Entre os dois nasce uma amizade comovente, onde Alfredo se torna um mentor, quase uma figura paterna, transmitindo ao jovem não só o amor pelo cinema, mas também valiosas lições de vida.
Com o tempo, Salvatore deixa a aldeia para seguir a sua carreira de realizador, afastando-se das suas raízes. Anos mais tarde, ao saber da morte de Alfredo, ele retorna à sua terra natal e encontra o cinema em ruínas, prestes a ser demolido. Este regresso traz-lhe à memória momentos profundos, que o filme revela por meio de flashbacks, numa atmosfera de nostalgia e emoção. Um ponto importante a destacar é que o filme não recorre a uma nostalgia fácil ou forçada. Pelo contrário, oferece uma nostalgia genuína, onde o passado ganha uma qualidade tátil — com cheiro, som e textura — tornando-se algo com o qual nos podemos identificar.
O final do filme é um reflexo da emoção de recordar, sem recorrer a exageros dramáticos. O verdadeiro drama, na minha opinião, surge na minha própria consciência, com o decorrer do acontecimento e com a música de Ennio Morricone, à medida que percebo o significado profundo da mensagem do filme e a relevância do detalhe que impacta a relação entre Salvatore e Alfredo.
Cinema Paraíso: A nostalgia como uma força emocional
Cinema Paraíso baseia-se na nostalgia uma obra que tem um contacto permanente com a nostalgia . no entanto a nostalgia não é apenas uma simples saudade vazia , permite olhar para o passado com ternura e carinho . O filme consegue , assim trasnsformar a memória numa força vital não em uma fraqueza.
Através da história de Salvatore, a nostalgia não surge como uma fuga, mas como uma maneira de dar profundidade ao presente. Ao relembrar os momentos passados, o protagonista consegue perceber melhor o que se tornou, aquilo que perdeu e o impacto que o cinema, e Alfredo, tiveram na sua vida. A memória torna-se uma ferramenta de reflexão, e não uma barreira para o futuro. Ao recordar, Salvatore encontra sentido no seu percurso, reconhecendo a importância das suas raízes e da relação que construiu com Alfredo, o projecionista.
Desta forma, Cinema Paraíso mostra-nos que, a nostalgia serve para nos lembrar daquilo que fomos e daquilo que nos formou, tornando-se uma fonte de força que nos ajuda a compreender melhor o presente e a valorizá-lo. A memória, em Cinema Paraíso, não é uma forma de relembrar a tristeza , mas um impulso para continuar avançar, para compreender o que se perdeu e para abraçar o que se tem.
Texto da Autoria de Alexandre Ribeiro
