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Ciência e Saúde

INOVAÇÃO EM TERAPIA CELULAR TEM CUNHO PORTUENSE

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O estudo desenvolvido por Cristina Barrias e colaboradores demonstrou a eficácia da utilização de um hidrogel de alginato quimicamente modificado como veículo injetável para terapia celular. O objetivo do tratamento é a estimulação da angiogénese, isto é, da formação de vasos sanguíneos, a aplicar em doenças vasculares isquémicas, como a Doença Arterial Periférica.

O alginato, um polissacárido obtido a partir de algas castanhas, tem diversas aplicações como excipiente em variados produtos farmacêuticos, nomeadamente na formação de um microgel com capacidade de encapsular e transportar fármacos. Este foi o material selecionado pela equipa do i3S, dedicada ao desenvolvimento de biomateriais, para a veiculação de fármacos e células, destinados à regeneração de tecidos ou ao diagnóstico e tratamento de cancro.

O tema da investigação é a promoção da vascularização de tecidos através da administração de células precursoras endoteliais e de células estaminais mesenquimatosas, mediante a sua veiculação eficaz.

“Hoje em dia, as terapias com células, de uma maneira geral, são uma promessa muito interessante. O problema é que, apesar de já se terem feito muitos estudos e de nos laboratórios e em modelos animais as células se mostrarem promissoras, em clínica os benefícios não são muito significativos. Isso pode estar relacionado com a forma como as células são administradas.” –  relatou Cristina Barrias ao PÚBLICO – reforçando a importância do biomaterial com capacidade de proteção das células veiculadas.

Nesse sentido, o microgel foi utilizado para encapsular as células a administrar. Essas células encapsuladas passaram por um pré-tratamento in vitro que, com os estímulos adequados, favoreceu a produção de proteínas relacionadas com a angiogénese e de matriz extracelular (material endógeno que envolve as células, importante para a estrutura dos tecidos), permitindo interações célula-célula e célula-matriz e estabelecendo um ambiente angiogénico. Posteriormente, o sistema foi administrado a embriões de galinha e verificou-se a interação dos tecidos pré-formados in vitro com a vasculatura do animal, após desintegração parcial da matriz de alginato.

Os investigadores verificaram que o microgel de alginato modificado constitui um micro-ambiente 3D adequado ao encapsulamento dos tipos celulares estudados e que, mesmo após transição das células pré-incubadas para um ambiente pobre em oxigénio, não ocorreu reversão da organização estrutural das células. Destacou-se ainda a relevância da formação de matriz extracelular no período de incubação, bem como a importância desse pré-tratamento in vitro para o aumento da capacidade de migração celular e do potencial angiogénico in vivo.

Desta forma, os resultados sugerem que a estratégia de combinação de células pró-angiogénicas com o microgel e uma pré-incubação in vitro adequada fornecem as condições necessárias para uma terapia angiogénica de sucesso, com potencial aplicação na regeneração de tecido vascular ou eventualmente de outros tipos de tecidos. No futuro, perspetivam-se estudos em animais com doença isquémica para confirmação da eficácia do tratamento desenvolvido.