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Cultura

QUEM TE DEU MÚSICA NA QUEIMA – PARTE II

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Ana Malhoa

Pouco antes do «veterano» Quim Barreiros, subiu ao palco Ana Malhoa, numa noite que promete ficar, para sempre, na história da Queima das Fitas do Porto. A artista, que se estreou na queima, submeteu o queimódromo a uma turbina e levou o público à loucura. E se dúvidas há de que “numa área tão machista como a da música, uma mulher não pode fazer o mesmo concerto que um homem”, Ana Malhoa provou exatamente o contrário. A cantora de Dame Un Besito, que considera ser já “a música do verão”, adiantou ser difícil viver da música em Portugal e que “ser mulher” não facilita. Por fim, Ana Malhoa agradeceu aos fãs, em particular àqueles “que vivem Ana Malhoa, que respiram Ana Malhoa” por quem “eu tenho imenso respeito”.

Diana Martinez

A artista que abriu para Xutos, Diana Martinez, estuda Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mas garante que “muitas vezes, não há conciliação possível” entre a carreira de artista e a vida de estudante.

Diana Martinez & The Crib já lançaram alguns singles, como a That’s Just How We Do It, “por volta de abril, maio, depois saiu a participação com o We Trust, com a We Are The Ones, que nós tocamos em dezembro”, que são, no fundo, “a base da nossa filosofia, que é ir ganhando público e sermos conhecidos”.

A cantora, que considera que as suas letras “são muito explícitas, apesar de serem em inglês”, busca inspiração na sua própria existência para escrevê-las e garante que nunca pensou vir à queima numa fase tão precoce da sua carreira: “Eu sonhei com isso, mas pensei daqui a uns anos”. O álbum está previsto para este ano.

BURAKA SOM SISTEMA

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Desinibidos nas palavras, os BURAKA SOM SISTEMA despediram-se muito felizes de um Porto que “sempre provou que consegue ir a jogo”. Desde que anunciaram o fechar de um ciclo de existência da banda, a 17 de agosto de 2015, os BURAKA têm vindo a desenhar uma equação de despedida da qual o Porto não fazia parte. Daí que quando “surgiu a oportunidade” de atuarem no Porto, tudo fez sentido, não fosse o nome BURAKA SOM SISTEMA ter surgido na cidade invicta.

Para DJ Riot, o público do Porto “corresponde sempre” às expectativas da banda, e isto “não é graxa”. Afinal, “nós temos dez anos de carreira e vamos acabar, por isso a gente não precisa de dar graxa nenhuma”. A banda adianta ainda que este é um público, de certa forma, especial com “uma fome de BURAKA”, resultante “do facto de virmos cá só em ocasiões especiais”.

À medida que avançavam nas suas declarações, os BURAKA SOM SISTEMA adiantaram que, hoje em dia, “as bandas, em Portugal, já equacionam a queima das fitas” e que a diferença entre atuar para um público de um festival ou para um público de uma queima é nenhuma, não fosse a queima já fazer “parte dos circuitos de festivais”.

Questionados sobre como justificam as demonstrações cativantes de amor e de benevolência por parte do público, os artistas são perentórios e não têm dúvidas que o segredo está na fragmentação das barreiras que existem entre o palco e audiência: “A gente consegue entregar uma boa energia e fazer com que o público reaja, entre no ritmo da nossa música. Há muita gente que vem de fora e que não consegue interagir assim com o público, não consegue comunicar assim tão bem”.

A banda de culto em Portugal sente, no entanto, que foi na luta contra o preconceito da música portuguesa que mais se fez notar: “Sinto que há menos preconceito com a música portuguesa e acho que nós contribuímos para que se reduzisse esse preconceito. Em 10 anos, nunca se viu tanta música portuguesa nos festivais e boa.”

Para muitos admiradores, o cair da ficha só vai acontecer quando “já não houver concertos”, adianta Andro Carvalho, mas para a banda, que vive de perto a realidade do fim, o cair da ficha tem vindo a acontecer. Riot sublinha, no entanto, que este término nada tem que ver com desentendimentos ou discórdias entre os elementos da banda, “como se diz por aí”, e que os BURAKA serão sempre “um bom monstro, um monstro muito grande nas nossas vidas”.

Questionados sobre o futuro, Kalaf informa que “o caminho é alargar o espectro e incorporar muitas mais pessoas e mais sonoridades”. A máxima do químico francês Lavoisier – de que “na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” – parece ter inspirado os membros dos BURAKA que defendem que “isto não é uma morte anunciada, isto é uma transformação. Hoje em dia, não há necessidade de matares nada do que gostas. Pelo contrário, é transformar e aumentar, é trabalhar com outros artistas, é fazer pseudo-mini festivais, organizar concertos, tocares juntos”. Fica a esperança de que é a fazer música que os seus membros ficarão, não fosse aquilo que eles soubessem fazer, não fosse aquilo que eles mais gostassem de fazer.

O céu, carregado de água, ameaçou, por dias, cair sobre a cabeça de quem caminhou pelo recinto, mas essa foi a última das preocupações do público que, de cabeça decorada e de impermeável improvisado, esteve presente no Queimódromo para assistir aos concertos.

Quando os concertos terminaram, um corrupio de vultos afogueados correram numa única direção: as barracas. A festa continuou, assim, noutros palcos da vida. Em 2017, quiçá, novos protagonistas surgirão. E a história da Queima das Fitas do Porto continuará o seu caminho.

Confere a primeira parte da reportagem especial do JUP na Queima das Fitas do Porto aqui.

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