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Cultura

TALENTO E ALMA GRAFFITADOS NO AXA – PARTE II

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Dia 30 de Abril, cinco pisos do Edifício AXA vão ser preenchidos com as intervenções de 22 artistas, com reconhecimento internacional, para deleite do público. O JUP continuou a conversa com os street artists.

Neutro e Mots, membros dos Maniaks, trabalham em dupla numa sala que pretende transmitir exactamente essa dualidade. Assim, para transmitir “essa fusão de dois pólos”, a sala terá “espaços dentro de espaços”. No centro estará um triângulo, “um espaço mais neutro, introspectivo e de harmonia”, ao passo que “a envolvente vai ser mais trabalhada em termos de detalhe”. Ambos apresentam o Porto como influência, nem que seja pelas vivências e mostram-se felizes com a iniciativa promovida. “Os anti-graffitis tiveram o inverso da moeda”, acrescenta Mots.

Hazul é, talvez, o artista urbano mais mediático do evento. O seu trabalho atingiu uma exposição bastante grande com a brigada de anti-graffiti de Rui Rio, mas Hazul acha “que a tendência é haver mais abertura, tanto por parte da câmara como por parte das galerias”, o que faz do Street Art AXA o início de todo um processo. O street artist iniciou-se na arte urbana em 1997 com o graffiti clássico, “o de letras”, no entanto, “há cerca de 10 anos”, sentiu necessidade de “mudar a linguagem” para a que todos conhecemos e estamos habituados a ver nas ruas da Invicta. Nesta intervenção em especifico, Hazul vai mostrar a “antagonia entre o dia e a noite”, uma dualidade temporal que ocupa duas salas.

“Uma nave espacial que teve um acidente” é o ambiente criado por Rodrigo “Alma”. Esta ideia é baseada no verso “Necessito a vossa ajuda, temos que tagar a lua”, de Fuse (Dealema), da música “Fado Vadio”. Alma pegou, pela primeira vez, numa lata de tinta em 1998, mas só em 2001 é que começou a verdadeira criação do street artist. Em 2006, criou o Colectivo RUA que também tem uma sala neste evento.

Oker também faz parte do Colectivo RUA. “Tudo começou por volta de 1998, no Bairro do Sobreiro, na Maia (…) e a partir daí foi uma bola de neve até 2014.”, conta o graffiter. Para ele, o Porto é uma influência clara, até porque “a cidade transforma-se especialmente à noite. Existem imensas personagens que surgem nas noites de neblina, fazendo com que a cidade seja um palco de histórias assombradas”. Na sua sala, Oker vai retratar o seu percurso, numa “sequência de imagens como se fossem fotografias tiradas a algumas das minhas pinturas, mostrando um pouco os estilos dos trabalhos que desenvolvo.”

Com uma intervenção “que se nota que foi feita a spray” e um estilo ilustrativo, marcado pela banda desenhada, Fedor vai intervir em três salas deste edifício, uma no âmbito do Colectivo RUA. Este street artist causa grande impacto só com o seu nome, mas a razão da escolha de Fedor é simples: “o odor é uma coisa que nunca se esquece”. O artista urbano tem como plano de vida viver desta paixão, mas os tempos não são fáceis, ainda assim Fedor espera que “a partir daqui haja mais eventos e mais coisas a acontecer no graffiti”. Para o dia da exposição, o público pode contar com “uma pintura de graffiti na parede a spray”, ilustrações e uma instalação, num ambiente que vai recriar a “cidade à noite”.

Daniel “Eime” entrou neste meio de forma natural e pelo gosto em desenhar. “Nunca fiz nada só porque era giro ou porque os outros faziam. Se fazia e se ainda continuo nestas andanças é porque sinto que continua a fazer sentido e porque me sinto e me faz bem”, esclarece. Eime, que já pinta “aproximadamente” há 12 anos, considera que a rotina não é para ele, “daí ter constantes alterações de formas e formatos, cores e caretas.”, numa incessante procura por “coisas novas”. “É uma arte ou linguagem que nasce primeiro de e para mim, mas que não se mantém no meu umbigo, pelo contrário, é algo que tenta proporcionar diferentes sensações ao observador, levando-o a mexer nas suas memórias, criando em cada um, emoções diferentes.”, explica. Eime revelou ainda que, tal como costuma fazer, a intervenção procurará provocar “diferentes sensações e neste caso em específico, procuro apurar o olfato e a visão (…)criando um ambiente próprio, mas que irá entrar em cada pessoa de maneira diferente”.

Ego, ou Maze para os dealemáticos, vai apresentar uma dualidade de experiências no dia 30 deste mês. Por um lado será o graffiter, por outro terá a seu cargo (em conjunto com Ace, dos Mind Da Gap) o DJ set de um dos pisos. A sala do DJ set terá a cunho de Ace e Ego nas paredes, ambos dos primeiros a “pintar” o Porto com uma arte que pouco se fazia sentir, num “retorno às origens”. Mas Ego também tem uma sala individual: “I can’t live without my radio” é o tributo deste artista à boombox, o aparelho que marcou toda a cultura hip hop, “é um tributo ao início do hip hop”. O artista urbano não traz nada para as ruas do Porto há muito tempo, pelo que a sua intervenção é uma das mais esperadas para os amantes desta arte e agora, ao contrário do “alimentar do ego”, é de esperar a sua desconstrução. Apesar de tudo, Ego afirma que, embora já não faça “graffiti ilegal como ele é, como ele nasceu e como ele deve ser”, o evento pode voltar a trazer o “bichinho”.

Okuda e Fra.Biancoshock são dois dos destaques internacionais. Okuda é espanhol e iniciou-se em 1996, “a pintar na rua”. Em 2000 mudou-se para Madrid e as oportunidades que a cidade proporcionou levaram-no até onde está hoje. “Sinto-me super feliz… e criar, pintar e viajar é o que dá sentido à minha vida”, afirma. O seu estilo pode ser caracterizado como um “surrealismo pop moderno, com uma clara essência da rua. Personagens humanas sem identidade, desorientados, formas orgânicas cinzentas e animais de plástico que caminham por um curioso ecossistema de arquitecturas efémeras, geométricas e multicolores”, provocando uma reflexão sobre “o existencialismo, a falsa liberdade do homem, o conflicto entre a natureza e o capitalismo, a autodestruição…”. Okuda vai apresentar, então, uma combinação entre “pintura mural e instalação”, dando “uma nova vida a algo que não a tem [sala do AXA]”. Fra.Biancoshock, que também começou em 1996, mudou o objectivo da sua intervenção em 2002, “tentando proporcionar experiências inconvencionais a um público que não tem, necessariamente, aptidões artísticas”. O street artist italiano chama ao seu trabalho “experiências efémeras”, pois elas não se mantêm durante muito tempo no espaço físico, mas perduram “através da fotografia, vídeo, media sociais”. “Para mim não é importante que o meu trabalhos seja definido como Arte”, pois, para ele, o importante é espalhar a sua mensagem. Desta vez, ele vai trazer uma temática “focada na pobreza social”. “Eu adoro falar de assuntos atuais, criando impacto com o observador: Espero conseguir isso!”, conclui.