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Cultura

O RAP PORTUGUÊS CHEGA ÀS SALAS DE CINEMA

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O hip hop tem vindo a merecer destaque e reconhecimento na indústria musical, tanto pelo público como pelos artistas de outros géneros musicais. Daí ser frequente ver artistas pop a inserirem rap nas suas canções, trabalhando não só com artistas como com os produtores da área.

Definido por muitos como uma forma de expressão artística crua e sem filtros na sua essência, a capacidade do rap em contornar as restrições e limitações das condições sociais é uma característica inegável.

Em Portugal, tal como no resto do mundo, o cenário nem sempre foi este: o hip hop foi emergindo progressivamente, dando pequenos passos até atingir o auge. Hoje são cada vez mais as influências artísticas a erguer-se no ramo, de norte a sul do país. Nomes como Sam the Kid, Mind da Gap e Dealema são referências-base na formação de artistas do presente como Keso, Slow J e Capicua.

Tudo tem uma história, e a cidade do Porto foi um marco fundamental no crescimento do “rap tuga”. O  peso da cidade invicta nesta história não deixou os realizadores indiferentes, acabando por decidir em conjunto que valia a pena dá-la a conhecer.

Como surgiu a ideia de elaborar um filme sobre a história do rap no Porto? Foi algo pensado recentemente ou a longo prazo? Demorou muito tempo a passar do idealizar para o concretizar?

A ideia original parte, antes de tudo, de uma amizade e de um amor comum pelo rap, neste caso, o rap da cidade onde crescemos, vivemos e na qual descobrimos toda a cultura hip hop. Em 2015, começámos a germinar a ideia e, no início de 2016, iniciámos as filmagens. Neste momento, estamos a montar o filme, embora tenhamos o desejo de ainda fazer 4 ou 5 entrevistas que nos parecem importantes para o filme.

Ao longo do desenvolvimento do projeto, quais foram os maiores obstáculos com que se depararam? Contaram com algum tipo de apoio financeiro ou patrocínios para a realização do projeto? 

O filme foi pensado para ser executado de forma totalmente independente, e é assim que vem sendo feito. Por aqui se vê, portanto, onde residem as principais dificuldades, felizmente ultrapassáveis. Não pensámos em tentar – pelo menos até esta parte, mas não excluímos essa hipótese numa fase posterior – concorrer a quaisquer apoios porque queríamos poder fazer o filme com uma margem de liberdade total, sem prazos, pressões ou condicionalismos de qualquer espécie. O filme, como dissemos, parte de um amor comum por um objecto e quisemos que também fosse feito, de alguma forma, com “amor”, o que implica disponibilidade, liberdade e, sobretudo, tempo, pois nenhum de nós está a trabalhar no filme a tempo inteiro. Naturalmente que a realização de um filme a 4 mãos também implica uma ponderação e harmonização de ideias, gostos e abordagens diferentes, algo que, com maior ou menor dificuldade, temos sempre conseguido. Além de nós os dois na realização, o Pedro Sancho Pires é o responsável pelo som. É uma equipa muito reduzida.

Quem participa no projeto e quais os locais escolhidos para as filmagens?

Para o filme, contámos com testemunhos de artistas do Porto (no activo ou não), sobretudo. Mas não só artistas e não só do Porto. Ouvimos também artistas de fora da cidade e gente ligada à música por outras vias.

“Não Consegues Criar o Mundo Duas Vezes” ainda não tem data de estreia definida mas já foi considerado uma das novidades a não perder em 2017. O que é que se pode esperar deste filme? 

O filme pretende ser um documento, um mapeamento, um olhar sobre a história e a memória do rap do Porto e os seus protagonistas, quer os que se mantêm no activo, quer aqueles que, fundamentais em algum momento dessa história, hoje estão esquecidos. O objecto do nosso filme é apenas uma das vertentes convencionalmente associadas ao hip hop, o rap, pelo que não faz parte da nossa abordagem o graffiti ou o breakdance.

Ao mesmo tempo, também pretendemos lançar um olhar sobre a cidade, os seus lugares e as suas gentes, o modo como se foi transformando com o passar do tempo de mão dada com a própria evolução e transformação do rap da cidade. Por outro lado, sendo um filme sobre, digamos, a “grande história” do rap, a sua genealogia, interessa-nos, paralelamente, as pequenas histórias, isto é, as estórias e memórias individuais das pessoas com quem falamos… Porque, por vezes, é nos episódios mais vulgares do quotidiano que se encontra a beleza maior das coisas. Interessa-nos olhar para essas estórias “micro” e balanceá-las com a história “macro”, a big picture.

Porquê “Não Consegues Criar o Mundo Duas Vezes”? 

O título do filme está explicado no primeiro teaser do filme que podem ver na nossa página de Facebook, onde, com a voz em off do Ace (Mind Da Gap), entramos no antigo Comix, bar mítico do Porto dos anos 90 que ficava na Rua de Cedofeita – hoje, é um estabelecimento completamente diferente, o que reflecte a tal transformação urbana que também queremos tratar – e onde as primeiras festas de hip hop, às quintas e, mais tarde, aos sábados também, começaram a ser dinamizadas pelo Serial e Ace. O Comix foi o autêntico berço de toda a cultura hip hop no Porto, desde o rap ao deejaying, passando pelo graffiti e pelo breakdance… Toda a gente – quer dizer, os poucos que na altura existiam – se juntava lá para experimentar um bocadinho de cada uma das vertentes. Os Mind Da Gap deram lá alguns dos seus primeiros concertos. O Rodas, que foi o proprietário do Comix e um homem da noite e da cultura alternativa no Porto, também está no nosso filme.

O título do filme é sobre isto: a irrepetibilidade das coisas, a impossibilidade de, para o bem e para o mal, podermos voltar atrás, ao início, e refazer o mundo, a história… Isso não é algo necessariamente mau ou triste, pois talvez a beleza maior esteja aí, no facto de os acontecimentos serem únicos, singulares, no tempo exacto em que ocorreram.

Catarina David e  Francisco Noronha deixaram uma mensagem aos leitores do JUP: “Estejam atentos à nossa página de Facebook, pois, nos próximos tempos, colocaremos mais teasers.”