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Cultura

“O SALGADO FAZ ANOS FEST” COM CASA CHEIA

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Era mais uma noite fria na baixa do Porto. A fila para entrar aumentava a cada minuto que passava. Dentro do Maus Hábitos, o frio desaparecera. Uns esperavam junto ao palco, enquanto as bandas preparavam o material, outros conversavam enquanto bebiam um copo. O ambiente era de todos e para todos. No palco “Super Nova” foram os Baleia Baleia Baleia que deram as boas-vindas em conjunto com VOLSK que tocava à mesma hora no palco “Stockhausen”.

Com algum atraso, chega o momento dos Galgo de Oeiras. Pelo início do concerto foi certa a escolha de Salgado. Faltava saber como ia ser o desenlace. Os ritmos dançáveis a interligar as guitarras berrantes são o “pão nosso de cada dia”. Mas que não cansa. A bateria é variedade em si mesma: os movimentos que desperta mudam em segundos, sem ninguém se aperceber. A convicção a tocar era imensa. Não eram só os cabelos que abanavam, como também os holofotes que iluminavam o palco. Ali a força era visível. As músicas, como peças individuais, são um crescendo e o concerto, como um todo, é um crescendo ainda maior, de uma magnitude difícil de medir. Se o público começa tímido, com os Galgo acaba despido de constrangimentos.

Torre de Babel e Skela surgem em versões fora do habitual. O resultado foi o que foi e o que não poderia deixar de ser. Os Galgo vencem o que já se espera e fazem sempre mais do que seriam capazes de fazer. A sensação final do concerto é que por lá passou um furacão: deixou suor, cansaço também, casacos caídos, cabelos despenteados e com certeza a casa do avesso. Ou a cabeça. Precisamos todos de furacões assim.

Entretanto no palco “O Salgado” atuaram Lince e Memória de Peixe. No “Stockhausen” foi a vez de Bezbog e ocp+ Angélica Salvi. De volta ao “Super Nova” chegava Vaiapraia acompanhado das Rainhas do Baile. Uma atuação onde se falou em 2 vozes, mas por muitas outras vozes. Temas como problemas laborais e sexualidade foram constantes. Vaiapraia entregou-se de corpo e alma ao público. As Rainhas do Baile foram as companheiras de luta. Não importava o gosto pela música ou pelo som. Haviam coisas para serem ditas e o propósito era somente esse. O momento foi de revolta e liberdade, onde se falou sobre tudo, sem medos e sem contornos.

Entre conversas e alguns passeios pelos palcos, o som de “Stockhausen” destacava-se pela sua genialidade. Acid Acid era um homem e uma guitarra que juntos fizeram a música soar aquilo que muitas vezes não é: um conjunto de notas, cuja construção expressa a capacidade criativa do homem. Com uma luz azul e verde a cobrir as suas costas, Acid Acid trouxe conceito à música. O ambiente não deixava de ser de proximidade com o público sentado no chão ou em sofás. Uns optaram por fechar os olhos, talvez o estado ideal para se compreender cada segundo que era partilhado.

O último concerto no mesmo palco coube a “Um gajo que não podemos dizer o nome”. Todos sabiam quem era, não fosse a sala encher. Mas por questões indefinidas, o artista ou a banda, naquela noite, não teve nome. Até aparecer com a sua guitarra às costas. Foi Samuel Úria, a solo, que relembrou alguns dos temas mais antigos da sua carreira. Dizia ele serem as canções quando escrevia sério ou a sério. Já passava das 2 horas e tínhamos o Úria, completamente azul por causa da luz, a tocar algumas das músicas que ficaram no seu baú, desconhecidas para muitos. Era quase como se de uma amizade se tratasse. A confiança era tanta que “Sami” nos mostrava temas que em muitos anos não tocou nem cantou. Uns gritavam “Sr. Feijão”, mais uma das músicas que só os verdadeiros apaixonados encontrariam. Samuel Úria vai reconhecendo caras e os sorrisos arrastam-se. Até que alguém grita bem alto “É preciso que eu diminua”. E foi com esse tema, do seu mais recente álbum, que “Um gajo que não podemos dizer o nome” se despediu.

Throes + The Shine, FUGLY, 800 Gondomar foram alguns dos nomes que também passaram pelo Maus Hábitos. A noite terminou com vários DJsets divididos pelos 3 palcos.