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Cultura

DEAR WHITE PEOPLE: A SÁTIRA SOBRE O RACISMO

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Na passada sexta-feira, a Netflix apresentou um novo produto aos seus subscritores. Dear White People é uma série satírica que conta com dez episódios de meia hora de duração cada.

Sendo ela uma adaptação do filme de 2014 de Justin Simien (que escreveu e dirigiu três dos episódios), a série conta com um elenco totalmente diferente e com uma história diferente da que já foi anteriormente apresentada.

A trama tem início onde o filme terminou. Começa, assim, dois meses depois do início do semestre em Winchester, uma escola de elite americana que conta com um total de 234 estudantes negros que lutam pelo anti-racismo e pela defesa dos seus direitos.

Assim como no filme, a série da Netflix gira em torno de Samantha White (Logan Browning), uma rapariga mestiça, estudante de cinema, que no seu programa de rádio talha várias críticas em termos de transgressões raciais que acontecem dentro e fora da faculdade.

No seu programa, Sam aborda problemáticas como a comunidade branca considerar o racismo um problema do passado, o facto destes mesmos se sentirem descriminados quando são tratados pela sua cor, e a sua relação para com os negros, referindo que as relações inter-raciais  ainda é vista com repúdio entre ambas os lados.

“Espero que não tenham ido a lado nenhum, porque o racismo também não.”

A série dá um novo, necessário e inteligente ponto de vista acerca de assuntos importantes – assuntos que necessitam ainda hoje de serem debatidos -, como a raça, a identidade, o ativismo, o racismo institucional e sistémico, os estereótipos associados à cor e os rótulos. Assim, através da sátira, a maioria dos assuntos são abordados de forma bastante irónica e, por vezes, cómica, colocando a série num outro patamar das restantes com teor semelhante.

Entre os espectadores da série e meios de comunicação social, as críticas e pontos de vista explicitados na série têm criado controvérsia, sendo categorizadas (por vezes) como “extremas” e “sem qualquer fundamento” ou “análise cuidada dos factos”, como refere a Entertainment Weekly.

Foto: Netflix

Foto: Netflix

Cada episódio foca-se diretamente numa personagem em particular, e na primeira metade da série é desenvolvida uma narrativa paralela que, a certo ponto, se cruza e prolonga.

Por abordar temas relacionados, sobretudo, com a raça, Dear White People não deixa de  tratar de assuntos que marcam as tão conhecidas Teen TV Series, conseguindo conciliar temas importantes e sérios com os dramas e auto-descoberta dos adolescentes que compõem toda a trama.

No segundo episódio é dada ao espectador a possibilidade de conhecer Lionel Higgins (DeRon Horton), um estudante de jornalismo gay que procura o seu rótulo entre as peripécias que lhe acontecem. Sempre acompanhado por um bloco de notas, Lionel questiona todo o sistema e depara-se com questões relacionadas com a ética jornalística: como poderá ele escrever sobre os seus amigos incriminando-os? Será que como jornalista e potencial membro de um jornal de renome ele poderá fazê-lo?

Já no terceiro episódio, a história centra-se ao redor de Troy Fairbanks (Brandon P. Bell) – a crush de Lionel. Aspirante político e presidente da organização estudantil  mais importante de Winchester, Troy é filho do reitor da universidade, o qual o manipula e oprime de modo a obter o controlo sobre os estudantes pelas mãos do filho.

Pelo quarto episódio, Coco (Antoinette Robertson) chega a apontar algo que para si é facto: “o privilégio de ter um tom de pele mais claro”. “Tu escaparias a um crime, porque pareces mais com eles [brancos] do que eu”, diz Coco a Sam num momento de confidência.

“(…) Quando gozam connosco, só estão a apoiar um sistema já existente. Os polícias que olham de arma na mão para um homem negro não veem um ser humano. Veem uma caricatura. Um criminoso. Um negro.”

O clímax da série dá-se a metade, com o quinto episódio – dirigido por Barry Jenkins, galardoado com um Óscar por Moonlight .

Numa festa entre amigos que rapidamente se transforma num conflito racial, a polícia é chamada e Reggie Green (Marque Richardson) é ameaçado com uma arma apontada à nuca.

Gera-se, então, o tema central da trama que não fora esquecido desde o início. Com cada vez mais casos de polícias a alvejar negros e com o surgimento do movimento “Black Lives Matter” [“As Vidas Negras Importam”], seria de esperar que o tema fosse explicitado em pelo menos num dos episódios. Contudo, através do seu programa radiofónico, Sam nunca deixa de relembrar que essa é uma das maiores lutas que a comunidade enfrenta nos dias de hoje.

Outra das problemáticas aqui associadas gira em torno das armas carregadas por seguranças nas faculdades nos Estados Unidos: “Caros brancos, a nossa cor de pele não é uma arma. Não têm de ter medo dela. E um aviso para a segurança do campus: nenhum de nós se inscreveu na cadeira de Introdução a Apontarem-me uma Arma e Retirarem-me toda a Humanidade”, refere Sam.

A sequência da narrativa capta ao espírito vivido em território estadunidense quando o tema é o racismo, e, implicitamente, faz com que o espectador se questione sobre qual seria a sua reação àquele caso. Este objetivo é reforçado ainda com a interatividade proporcionada pelos episódios: o facto de nos créditos iniciais a personagem não estar a olhar diretamente para a câmara; ou o facto de que em questões importantes, ou na parte final de cada episódio, as personagens o façam, olhando o espectador diretamente nos olhos como quem pergunta “Caro branco, o que farias tu?”.

Dear White People tem como principal objetivo colocar em cima da mesa problemas urgentes que precisam de ser debatidos a todo o custo, sem ser negada a sua validade.

A série foi anunciada dia 8 de fevereiro e contou com um trailer quase um mês depois.

https://www.youtube.com/watch?v=oYKgHvPVACE