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Cultura

ZOO GANG: “SOMOS NÓS PARA NÓS”

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10570509_1439770369631139_4741751897345789863_nNum ambiente descontraído e depois de um dos treinos num parque perto do metro Fórum da Maia (Sim! Eles treinam ao ar livre.), o JUP foi descobrir como é que a paixão pelo bboying surgiu e qual a essência dos Zoo Gang, havendo tempo para explicar os não vulgares nomes de bboy.

Como é que o bboying surgiu na vossa vida?

Lil Devil – Foi por influência dos meus tios. Tenho um tio meu que já fez capoeira e ensinava-me a fazer o pino e isso. Então, levou-me a uma festa em que eles estavam a atuar, para aí em 2005, e eles viram-me a fazer o pino e umas cenas muito básicas e convidaram-me para ir treinar com eles.

Jurema – No secundário vi uma pessoa a dançar pela primeira vez. Achei aquilo extraordinário, fantástico… e desenvolvi uma paixão.

Sak – Foi com um colega meu que pintava também. Ele fazia uns passozitos e eu curtia aquilo. A magia do break! Queria experimentar e tentar perceber como é que aquilo se fazia. Depois, foi muito na brincadeira e só passado uns tempos é que começou a ser mais sério.

Afonso – Foi por influência do Diogo [Lil Devil]. Ele levou-me a um treino, eu curti e continuei.

FoundKid – Eu fui por influência dos dois. Ele é meu vizinho [Lil Devil] e ele é meu irmão [Afonso]. Comecei a vir treinar e acabei por ficar.

Zini – Comecei a gostar de Hip Hop através do graffiti, nem sabia o que era break nessa altura. Mais tarde começaram a aparecer uns videoclips e uns filmes e eu comecei a saber o que era e a tentar fazer, mas numa cena muito de miúdo. Entretanto fui para a Aurélia de Sousa, conheci o bboy Macaco, que me deu as primeiras “luzes” do que era o break. Depois, deixei isso durante uns tempos da minha vida. Vim para a Maia, conheci Zoo Gang e comecei a dançar a sério.

 

Então os Zoo Gang são um grupo de amigos que se juntou para dançar? Qual a vossa essência enquanto grupo?

Jurema – Exactamente! Começou primeiro pela amizade, depois pela dança. A essência é mesmo amizade e o gosto pela dança.

Sak – Nós somos todos muito diferentes, diferentes tipos de personalidade, e, se nos mantivemos unidos, foi o break que acabou por muitas vezes ser esse alicerce. Somos um grupo de amigos que, à parte de treinar, estamos sempre todos juntos. Já não há a separação do pessoal do break e dos amigos, são as mesmas pessoas.

 

E de onde vem a vossa essência underground, uma vez que treinam na rua e não num estúdio/ginásio?

FoundKid – É mais por gosto. Nós gostamos de estar aqui na rua.

Jurema – É um ginásio low cost, acaba por ser mais acessível

Sak – Acho que foi muito por hábito. E também nunca fomos muito de regras, por isso não funcionava muito bem. Nós treinamos quando nos apetece. E inspira-me muito mais estar a treinar na rua, é mais de feeling.

Jurema – É mais lazer do que obrigação! E o break começou na rua. Depois, claro, há uma evolução que leva para competição.

Sak – E não precisas mesmo de nada para treinar, só vontade. Agora, se calhar, já haviam outras opções, mas, por hábito, ficamos. E já faz parte do grupo! Foi por necessidade, mas acabou por ficar em nós.

 

E podiam explicar os vossos nomes de bboys?

Jurema – Quando comecei a dançar break, com 15 anos, tinha uma camisola da Le Coq Sportif e o logótipo é uma galinha, e foi na altura dos Trapalhões em Portugal. Nunca me importei porque achava que era um nome fora do normal e como gosto disso, manteve-se.

Lil Devil – Quando comecei a dançar tinha 1.20m, era mesmo magrinho e pequenino, daí o lil. O devil porque só fazia asneiras.

FoundKid – Comecei a ser o FoundKid quando comecei a treinar footwork, porque o nome vem de foundation (eu treinava muito bases) e acabei por evoluir por aí.

Zini – O meu não tem nada a ver com break, antes de dançar já era Zini. Zini surgiu porque o um nome é Rui e eu era demasiado pequeno à beira dos meus colegas e toda a gente me chamava Ruizinho. Um dia alguém se lembrou e chamou-me Ruizini e depois toda a gente me começou a chamar Zini.

Sak – O meu também não foi pelo break, foi pelo graffiti. Tinha escolhido essa tag e quando comecei a dançar não fazia sentido ter outro nome.

 

Quatro dos vossos membros tiveram/têm formação no Balleteatro (três em Dança – Afonso, Lil Devil e Sak- e um em Teatro – Zini). Consideram que isso é importante para a vossa evolução enquanto crew?

Zini – Na área da organização, enquanto artista, ajudou-me bastante. Não tínhamos bases nenhumas para nos organizarmos para a evolução, não havia ritmo nem método para poder evoluir. E abriu mais horizontes porque estudas muitas coisas que te expandem do break.

Sak – É uma formação e isso ajuda-nos imenso. Tens um treino, durante três anos, em que todos os dias tens um treino físico que por si só vai ajudar no break. A par disso, treinas técnicas de dança que dão outros pontos de vista e ajudam a desbloquear do break. Mas o principal é o corpo, que fica preparado. Nós nunca na vida aquecíamos…

Lil Devil – Como eu treino mais power, senti grande diferença porque lá treinas flexibilidade e deu grande jeito. Evoluí muito mais! E agora já não consigo treinar sem aquecer.

 

Quais são as características que vos definem enquanto bboys?

Lil Devil – A minha é fácil… é o power!

Jurema – Rapidez, originalidade, footwork e o beat killer.

Sak – Posso dizer que o que me define é fazer um bocado de tudo, mas acho que não é isso que define nenhum bboy. Não é só o que ele faz, é toda a postura. A ele [Jurema] acho que não é só isto, é mesmo o carisma a dançar, a expressão. A ele[Lil Devil], é o power porque é a explosividade, mas também tem a ver com o que lhe falta evoluir no break. A ele [FoundKid], à primeira, é o footwork, mas tem mais, ele é mais do Freestyle. E somos todos influenciados uns pelos outros.

 

Para além de vocês se influenciarem uns aos outros, têm mais alguma influência?

Lil Devil – Cada um tem as suas inspirações, dependendo do que gosta de ver. A minha é um power, o Lil G. Cada um vai ao encontro do que mais gosta.

Sak – Eu não me inspiro só por bboying. Aliás, eu já estou numa fase em que vejo pouco break, distancio-me um pouco disso, até para criar as minhas coisas. E o contemporâneo ajuda-me a uma pesquisa de movimentos que depois me ajuda no break.

 

O que acham importante para evoluir?

Sak – Treino, treino, treino…

Jurema – E gostar!

FoundKid – E vontade de evoluir!

Sak – Tens de traçar um objectivo, o que é que queres fazer. E quanto mais treinas, mais dá vontade.

Jurema  – É o esforço e o treino.

 

Quando vocês estão numa battle, o que têm em mente?

Jurema – Destruição! Não é corpo a corpo, mas não deixa de ser uma batalha, não deixas de ter as tuas armas.

Sak – É para partir tudo! E nós estamos ali todo juntos e queremos ganhar. A nossa postura nas battles também é uma coisa que nos define, um bocado agressiva. Nós ali damos tudo, somos nós para nós!

 

Há algum momento que vocês recordem de forma mais especial?

Jurema – Há muitos!

Lil Devil – O Clash [battle], em 2008, em Lisboa. E Viana do Castelo. Não foi preciso ir muito longe, era mesmo perto, mas foram das melhores.

Jurema – E as primeiras battles foram as mais marcantes, tínhamos aquela “pica”. Vivíamos mais as coisas! Posto isto, foram as nossas vitórias.

Sak – Acho que foi como o Dioguinho [Lil Devil] disse. Momentos de crew, viagens…

Lil Devil – Não pelo break em si, mais pelo convívio.

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