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Cultura

O Grande Medo do Pequeno Mundo: um grande concerto num pequeno auditório

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Fotografia: Guigas Costa

Depois de “Nem Lhe Tocava”, chegou aos nossos ouvidos, em 2013, “O Grande Medo do Pequeno Mundo”. O artista, conhecido pelas suas maneiras desvairadas, apresentava, então, um projeto como nunca se viu. Deixou de fora os imediatismos e debruçou-se sobre temas mais profundos e apaixonados apesar de, à primeira vista, parecer um álbum sem muito fundamento, quando se presta atenção aos poemas, é impossível escapar às emoções provocadas.

Na sala Suggia, sob tons avermelhados, o cantor, natural de Tondela, apresentou-se com a mesma banda e coro que o acompanharam em Lisboa, num concerto do mesmo estilo. Em duas horas de espetáculo, houve tempo para apresentar as 13 canções que fazem parte do disco e mais algumas, em parceria com os convidados, que ajudaram à envolvente mágica dentro da sala.

Depois da sala encher, num concerto completamente esgotado, Samuel Úria iniciou a noite com o prelúdio do disco. Apesar de parecer que iria embarcar numa jornada cronológica pelo álbum, o artista tinha outros planos e cantou “Espalha Brasas”, sétima faixa do disco.

Fotografia: Guigas Costa

Samuel Úria na Casa da Música Fotografia: Guigas Costa

O primeiro convidado da noite foi Jorge Rivotti. “O Deserto”, que é a segunda canção do disco, foi coincidentemente a segunda música da noite e é uma parceria entre os dois cantores. Logo a seguir, os artistas revelaram que iriam lançar mais uma música em conjunto, no que afirmaram ser uma “velha nova canção”. Isto porque, a letra, de Samuel Úria, criada há mais de dez anos, só agora é que ganhou um arranjo instrumental, feito por Jorge Rivotti. “Fado Emaranhado” sai ainda este ano e também foi cantada no auditório.

Depois de se despedir do convidado e amigo, Úria entoou a faixa que dá título ao disco, “Pequeno Mundo”. A música que veio a seguir, “Para Ninguém”, foi dedicada “aos verdadeiros amantes de música”, visto que só consta no disco de vinil, que para Samuel Úria é a verdadeira e melhor forma de se ouvir música. 

Fotografia: Guigas Costa

Samuel Úria na Casa da Música Fotografia: Guigas Costa

Manel Cruz, vocalista dos Ornatos Violeta, foi o segundo convidado. “Lenço Enxuto” é uma das canções mais sentidas do projeto, sobre a comoção dos homens, quase sempre escondida. Cantada pelos dois artistas, foi um dos pontos altos do concerto. Em seguida, entoou-se “Ninguém É Quem Queria”, de Manel Cruz, em que os instrumentais brilharam.

Voltando a estar apenas com a sua banda em palco, Samuel Úria introduziu o público a uma faixa secreta do projeto – “Tema Triste”. Nos confins de “O Grande Medo do Pequeno Mundo”, o cantor colocou uma música de uma forma que não pode ser detetada pelo ouvinte comum. Ou seja, durante o álbum, a canção foi colocada na versão em vinil de forma a que não se conseguisse ouvir. Há faixas escondidas em projetos musicais de vários artistas, que colocam a música de trás para a frente ou simplesmente a retiram da tracklist.

Fotografia: Guigas Costa

Samuel Úria na Casa da Música
Fotografia: Guigas Costa

Depois da novidade, foi a vez de chamar ao palco a cantora Márcia e o músico Tomara. Os três interpretaram “Eu Seguro”, um dos temas mais emblemáticos do álbum. Com o seu carisma já conhecido, Márcia trouxe ao palco uns bons minutos de comédia, juntamente com uma das suas parcerias com o cabeça do espetáculo – que foi quem a fez acreditar no sonho da música – “Menina”, que levantou o público das cadeiras.

Novamente sozinho, Úria cantou “Essa Voz”, a faixa número 5 do álbum. Seguiu-se “Onomatopeia”, que é a versão inédita de “Estrondo Mudo”.

Fotografia: Guigas Costa

Samuel Úria na Casa da Música
Fotografia: Guigas Costa

Os últimos convidados da noite foram António Zambujo e Miguel Araújo. Foi tempo de ouvir “Triunvirato”, um tema que junta três dos mais aclamados cantores portugueses. Houve ainda espaço para uma música do disco anterior, “Império”, que, anos atrás, tinha sido cantada também pelos três exatamente no mesmo espaço.

Com o espetáculo a aproximar-se do fim, ouviu-se “Em Caso de Fogo”, parceria entre Samuel Úria e Gonçalo Tavares – apesar do segundo não ter estado presente. “Forasteiro”, de seguida, levou o auditório a uma enchente de aplausos em pé.

Quando se pensava que o concerto tinha acabado, começam-se a ouvir os acordes da faixa mais lúgubre do álbum. Samuel Úria voltou ao palco para cantar a música que faltava – talvez a mais importante, “Armelim de Jesus”. Com a voz mais embargada e com um arranjo mais sombrio, o cantor terminou o concerto homenageando o avô, com uma letra inteiramente dedicada a ele – “Foi Assim Armelim./Ainda que estranho, era nome de homem honrado”.

Samuel Úria foi surpresa e comodidade num só espetáculo. Trouxe a história de um disco para cima do palco, com coisas novas, mas sempre com um tom familiar. Com uma poética invejável, da qual já tinha dado provas, fez recordar e celebrar “O Grande Medo do Mundo Pequeno” e, se calhar, fomos dali com menos receio.

Artigo por Carolina Paredes

Fotografia por Guigas Costa