Cultura
Concerto de Weyes Blood no Porto
No passado dia 29 de outubro, a cantora norte-americana Weyes Blood regressou ao Porto, passado oito anos, para encantar uma pequena plateia no Hard Club, como parte da sua “In Holy Flux Tour: The Resurrection”.
Nascida na Califórnia em 1988, Natalie Mering viveu grande parte da sua infância na Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, no seio de uma família profundamente religiosa, facto que, segundo a mesma, a forçou a desenvolver o seu próprio cinismo em relação ao que lhe era ensinado. Apesar disso, toda a sua família imediata é composta por artistas, o que levou a que o seu crescimento fosse fortemente influenciado pela música.
Mering mudou-se para Portland onde ingressou num curso de música na faculdade Lewis & Clark, do qual desistiu passado um ano para se poder focar na sua carreira. Foi apenas em 2011 que Weyes Blood lançou o seu primeiro álbum The Outside Room, tendo lançado desde então mais quatro, todos com críticas positivas.
O seu álbum mais recente é, então, And in the Darkness, Hearts Aglow (2022), aquele que se encontra a promover de momento na sua In Holy Flux Tour, que em 2023 passou pelos EUA e agora pela Europa.
Assim, é no âmbito desta nova tour que Weyes Blood regressa a Portugal, tendo atuado nos dias 28 e 29 de outubro em Lisboa e no Porto, respetivamente. Nesta última data, o evento deu-se na sala 1 do Hard Club, que é um espaço com uma capacidade reduzida (de aproximadamente 1000 pessoas), o que contribuiu ainda mais para o caráter privativo da performance desta artista.
A primeira parte do espetáculo ficou nas mãos de Núria Graham, uma cantora e compositora catalã cuja voz suave, acompanhada sempre da guitarra ou do piano, foi a introdução perfeita para a experiência que se seguia.
Concluída a abertura do concerto por parte da artista da Catalunha, a antecipação adensava à medida que os técnicos iam entrando e saindo do palco para preparar tudo, algo que foi comprovado pela explosão de aplausos e festejos que se desencadeou aquando da chegada da artista.
“ Sitting at this party / Wondering if anyone knows me / Really sees who I am / Oh, it’s been so long since I felt really known”
Como seria de esperar, a música norte-americana abriu com a primeira track do seu novo álbum, “It’s Not Just Me It’s Everybody”, sendo que o resto do concerto consistiu maioritariamente em músicas deste álbum e do seu predecessor, Titanic Rising (2019). Estes dois discos fazem parte de uma trilogia de gravações, daí as semelhanças estilísticas dentro do género do soft rock e chamber pop, e as conexões temáticas que variam desde um alerta para as alterações climáticas, até relações falhadas e a forma como a artista lida com os problemas na sua vida.
Um dos momentos mais marcantes do concerto foi a canção “God Turn Me Into A Flower” que foi acompanhada pela projeção do seu recém-publicado videoclipe, realizado pelo britânico Adam Curtis. E enquanto o público ainda estava a absorver esta experiência cinematográfica e musical, Weyes Blood aproveitou para transportar os fãs para outra galáxia com aquele que é, provavelmente, o seu single mais conhecido: “Andromeda”. É de salientar que o caráter etéreo e melodioso destas músicas é pautado pelo espetáculo de luzes que acompanha todo o concerto, sendo o roxo, o rosa e o azul-escuro os tons predominantes, algo que está em concordância com a supremacia destas cores também na capa dos mais recentes álbuns da artista. Este fenómeno visual destacou-se quando a artista cantou “Twin Flame”, uma vez que o seu peito reluziu como se fosse o seu próprio coração a iluminar toda a sala.
Mesmo antes do encore, no qual a vontade do público prevaleceu e foi cantada a “Wild Time”, foi a vez de uma das músicas mais aguardadas, “Movies”, um hino ao cinema e ao amor que Mering sente pela sétima arte, adequadamente acompanhado pela projeção de um vídeo constituído por imagens e pequenos clipes de vários filmes. Foi também durante uma sequência mais instrumental desta música que, tal como no espetáculo do dia anterior em Lisboa, a cantora atirou várias flores brancas ao público.
Esta paixão pelo cinema é algo que não é escondido dos fãs, visto que é costume estes oferecerem-lhe DVD’s. Tradição que não foi quebrada neste concerto, tendo sido “But I’m a Cheerleader”, “Silver Linings Playbook” e “Twin Peaks” alguns dos presentes.
No final de tudo, apesar da sua tremenda voz, que preenche a sala como se fosse o próprio ar e proporciona uma experiência que em tudo supera ouvi-la nos auriculares, o que acima de tudo fica deste concerto é o seu caráter intimista. As dimensões mais modestas do Hard Club, juntamente com a personalidade animada e amigável de Weyes Blood, permitiram a construção de um ambiente perfeito, repleto de momentos humanos por parte da artista, como por exemplo a sua confissão de que tem medo de afinar guitarras. Todos estes fatores, aliados ainda da devoção dos fãs presentes, fizeram com que esta experiência se assemelhasse menos a um simples concerto e mais a uma reunião entre amigos.