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Educação

Preço da habitação: falta de solução ou “falta de vontade”?

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Quartos a 700€, despesas não incluídas, residências sem cozinha, tetos a desabar, são as condições em que vivem alguns estudantes da Universidade do Porto. O problema é em todo o país, e os movimentos pela habitação a preços justos ganham relevo.

“Vida Académica” condicionada

Danilo Pereira está no terceiro ano da licenciatura em Ciências da Linguagem, na Faculdade de Letras, e demora, por dia, quase quatro horas em viagem: o equivalente a ir, de carro, do Porto a Lisboa. “Havia semanas em que eu estava esgotado”, conta, “sobretudo quando tinha aulas até ao final do dia, chegava a casa, era de noite e ainda tinha de ter tempo para estudar”. 

Danilo entrou no curso na época da pandemia, pelo que não ia à faculdade, e “em casa as coisas foram fazíveis”. No segundo ano, com o pós-pandemia e a conciliar dois cursos em simultâneo, tudo se complicou, mas o preço elevado das propinas conjuntas (quase 200 euros) não o permitiu mudar-se para o Porto. Devido ao curso extra, não teve “possibilidades de arranjar um emprego que pudesse conciliar”, o que o faz estar dependente dos pais. 

A distância condicionou a vida social de Danilo, que, ainda assim gosta de “ficar um bocadinho com os colegas” depois das aulas: “não aproveito tanto, mas para mim, estar com os meus amigos já é ótimo”. Apesar de tudo, a dureza da viagem fez com que, no primeiro ano, tenha “pensado em desistir”.

Mudança nas mãos das AEs ou do Governo?

 À conversa com o JUP, Margarida Lima Moreira, presidente da Associação de Estudantes (AE) da Faculdade de Letras (AEFLUP), aponta que o problema da pouca opção a preços acessíveis é “das faculdades, da Reitoria e do próprio Governo”. Acrescenta que existe “falta de vontade e esforço para manter o futuro económico do país no país”, já que “há espaço, há infraestruturas, há transportes… não falta dinheiro, porque nós pagamos propinas e não são poucas”.

Para José Ribeiro, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito (AEFDUP), “a maior responsabilidade tem de ser do Estado, porque afinal de contas o Ensino Superior é público”.

Segundo José, a solução passa pelo aumento da oferta, por exemplo, pelo “aproveitamento do património inativo, ou seja prédios devolutos”. Esta medida está a ser desenvolvida pela Federação Académica do Porto (FAP), que, “na Bainharia, está a recuperar um edifício para depois o transformar em alojamento estudantil a preços acessíveis”. 

Porém, para a presidente da AEFLUP  “não é a FAP que têm que resolver o problema da habitação, mas sim as pessoas que estão responsáveis pelo Ensino Superior em Portugal. Se o ensino superior é para os estudantes, neste momento ele está direcionado para tudo menos para os estudantes.”

De acordo com Margarida , as AEs podem “falar com a direção da faculdade para tentar combater algumas situações específicas. Mas, no final de contas, a única coisa que podemos fazer é reivindicar, pedir mais e trabalhar na parte da ação social”, já que não têm “dinheiro para a construção de residências”.

Para além disso, para o presidente da AEFDUP, estabelecer tetos nas rendas não é uma solução, já que essa medida conduz a “arrendamentos predatórios, em que não há contrato, e em que os estudantes acabam por ficar desprotegidos”. Assim, considera que a única opção para “tirar um bocado o cartel ou o monopólio do próprio arrendamento” é haver mais habitação.

Embora o Governo procure atingir as 26 mil camas nas residências universitárias, o problema passa também pelas condições das que já existem, já que muitas delas não têm uma cozinha, e os dormitórios partilhados têm uma área muito reduzida. Por vezes, “entra água”, e segundo José, sem novas reformas, algumas residências são “quase inabitáveis”, mas já se “começaram a reabilitar algumas”.

“As pessoas têm um bocado o estigma de falar sobre isso, porque ainda acaba por ser um bocado como a saúde mental”, diz José, o que constitui um entrave. Apesar de tudo, para Margarida, é necessário “fazer mais e melhor pelo Ensino Superior democrático, justo e gratuito”.

 

Artigo escrito por: Maria Pinho Andrade e Carolina Bastos

Editado por: Maria Pinho Andrade

Conteúdo Multimédia por: Inês Aleixo