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Educação

CAMPUS FEUP: toda a Engenharia a construir pontes

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Uma mulher caminha numa ponte transparente, entre dois edifícios. Mais pontes iguais surgem em perspetiva no fundo da imagem.
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto | Foto: FEUP

Nasceu este ano, em maio, a nova rede CAMPUS FEUP, que promete transformar a dinâmica Escola Secundária – Faculdade, remando contra a maré da queda demográfica que será sentida pelo Ensino Superior nos próximos anos. O JUP foi conhecer mais sobre este projeto e o seu impacto na comunidade.

 

As  relações entre o Ensino Secundário e o Ensino Superior são de uma importância premente, devido a um conjunto de fatores que passam, mas não se limitam, pela queda demográfica que o país enfrenta e que se fará sentir nos próximos anos. Uma das consequências dessa queda será uma redução do número de candidatos ao Ensino Superior na ordem dos 30% até 2035.

Um esquema minimalista de um átomo, com o núcleo e 3 orbitais, cada uma com um eletrão. Em baixo lê-se "CAMPUS FEUP".

Logo do projeto CAMPUS FEUP

No sentido de ser parte da solução para este problema, foi lançada, no dia 18 de maio, a iniciativa CAMPUS FEUP, que visa promover a colaboração entre a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e as escolas secundárias que mais contribuem para o preenchimento das suas vagas. Isto traduzir-se-á em ações como a criação de projetos conjuntos, e a prioridade mútua em iniciativas de divulgação, de modo a manter e/ou aumentar o fluxo de alunos destas escolas para os cursos da FEUP.

O evento de lançamento juntou 26 diretores e outros representantes de escolas secundárias portuguesas, cuja lista pode ser consultada aqui. O nome do projeto parte da vontade que as escolas abrangidas pela parceria se sintam parte do Campus Universitário, centrado na FEUP.

Em conversa com o JUP, o Eng. Carlos Oliveira, diretor de Comunicação e Cooperação da Faculdade de Engenharia, explicou o contexto de criação desta iniciativa e no que ela se traduz para os membros da Academia, em particular os alunos e professores da FEUP.

 

Problemas – porquê criar o CAMPUS FEUP?

“O ensino foi, nos seus primórdios, uma atividade elitista, e nós estamos numa demanda de, cada vez mais, democratização do ensino e inclusão.”

“A Universidade tem mesmo de mudar”, afirma o Eng. Carlos Oliveira, partindo de uma ideia explorada no V Encontro Nacional de Reitores, que decorreu este ano, e onde se discutiu o uso das possibilidades abertas pela tecnologia para tornar o conhecimento mais acessível. “O ensino foi, nos seus primórdios, uma atividade elitista, e nós estamos numa demanda de, cada vez mais, democratização do ensino e inclusão”, defende. Nesse sentido, tem vindo a aumentar o número de vagas no ensino superior em todo o país. A FEUP, em particular, conta atualmente com cerca de 10 000 alunos.

No entanto, os números devem sempre vir aliados à qualidade. Um estudo da Dr.ª Ana Camanho evidencia a relevância da bagagem adquirida no Ensino Secundário no sucesso de um estudante do Ensino Superior, bem como a origem de algumas discrepâncias.

Neste contexto, discutiram-se, no evento de apresentação do CAMPUS FEUP, vários desafios atuais do ensino em Portugal.

Um deles, apontado pelo Prof. Alberto Amaral em entrevista ao Diário de Notícias, é a situação demográfica, que trará uma redução do número de potenciais candidatos ao Ensino Superior, afetando particularmente a região Norte. No Porto, esta redução chegará a 30% em 2035.

Outra área de preocupação são as limitações financeiras no acesso ao Ensino Superior. Face a isto, várias medidas já estão em vigor para garantir uma maior equidade, nomeadamente o aumento do número de bolsas e um contingente prioritário para alunos carenciados.

A questão da imigração é também desafiante, principalmente no que toca à adaptação linguística e cultural dos alunos estrangeiros, problema que se aplica aos vários níveis de ensino.

Destacaram-se, ainda, os números relativos às mulheres no Ensino Superior, em particular nas áreas da Engenharia. Embora Portugal esteja acima da média da OCDE, nalgumas áreas, como as Tecnologias da Informação, “tem sido muito difícil ultrapassar os 20%”, revela o Eng. Carlos Oliveira, apontando o contraste com o geral das entradas no Ensino Superior em Portugal. “Bastava que mais 10% de mulheres decidissem ir para estas áreas, que o mercado ficava preenchido. Esquecer esta diferença de interesse acaba por ser fatal, depois, para a empregabilidade”, lembra.

Foram também discutidas as alterações que estão a ser introduzidas no currículo no Ensino Secundário, na Matemática, que, segundo um alerta da Sociedade Portuguesa de Matemática, irão significar uma deficiente preparação dos alunos para a Faculdade.

Naturalmente, os números crescentes nas questões da saúde mental assumem um papel central nas preocupações, em particular no pós-pandemia. A nível interno, foi aumentada a equipa do Gabinete de Orientação e Integração da FEUP. Outras medidas estão a ser tomadas a um nível mais generalizado.

Colocou-se, por fim, a questão da empregabilidade, e do chamado brain drain. “Por um lado, muitos dos nossos melhores alunos estão a ir para fora. (…) E, ao mesmo tempo, começamos a ficar deficitários na captação de talento”, explica o diretor de Comunicação e Cooperação.

 

Concretização – o que se vai fazer?

Perante este quadro de desafios, o projeto CAMPUS FEUP atuará, principalmente, em três eixos, oferecendo à rede de escolas:

  1. Prioridade nas atividades em curso: por exemplo, vagas garantidas na semana Profissão: Engenharia, e ainda visitas regulares, quer à escola, quer dos alunos da escola à Faculdade. Estão a ser realizadas reuniões com os membros da rede, para fazer o balanço do ano, e discutir as preocupações e projetos de cada escola.
  2. O envolvimento na comunidade. Este traduz-se, por exemplo, no destaque dado em publicações internas, “aos triunfos de alunos que vêm dessas escolas e que estão aqui na FEUP”. Revela ainda que estão a ser levantados “perfis de estudantes dessas escolas e de Alumni”. Além disso, professores e direções das escolas da rede são convidados para eventos na FEUP, como o Regresso a Casa, ou mesmo concertos do Comissariado Cultural.
  3. O lançamento de novos projetos, em conjunto, de atuação nas temáticas identificadas anteriormente. Também as visitas serão direcionadas aos problemas identificados como relevantes em cada local, “com um programa muito cirúrgico”.

Está ainda pensada a realização de um congresso anual – em maio, por altura do aniversário do projeto – em que a rede poderá ser alargada a mais instituições que tenham atingido os critérios mínimos estabelecidos, e onde serão apresentadas algumas práticas levadas a cabo pelas escolas, no sentido de promover a partilha entre todas as partes.

 

Escolas da rede CAMPUS FEUP

Para selecionar as escolas que integrariam a rede CAMPUS FEUP, foram analisados os dados dos alunos que ingressaram na FEUP entre 2013 e 2017, período para o qual também estavam disponíveis os dados de saída dos alunos. Neste período, chegaram à FEUP estudantes de 314 escolas diferentes.

“Não conseguimos chegar a todas de forma simples”, explica o Eng. Carlos Oliveira. Selecionou-se, então, um universo de 17 escolas, segundo dois critérios, baseados na percentagem de inscritos por escola secundária de origem e na percentagem de graduados nos cinco anos previstos. Este universo representa 25% dos alunos matriculados durante o período analisado.

Gráfico de pontos. No eixo das abcissas tem-se a percentagem de inscrições, e no eixo das ordenadas tem-se a percentagem de graduados.

Distribuição de escolas por ocupação de vagas na FEUP e percentagem de sucesso. | Imagem cedida por: Carlos Oliveira

Na perspetiva de Carlos Oliveira, “se nós trabalharmos com estas escolas, estamos a trabalhar com um quarto dos alunos que nos dão, o que é significativo”. O objetivo é envolvê-las de modo a solidificar e alargar este número, num momento estratégico não só do pós-pandemia, mas também de “um certo sentido de urgência devido à queda demográfica que se avizinha”. Realça ainda a importância de trabalhar com as escolas que mais próximas estão de cumprir os requisitos para fazerem parte desta minoria. “No Ensino Superior, nada se consegue mudar depressa. (…) Qualquer coisa que tenhamos de fazer, é agora, nestes anos”, afirma o responsável.

No geral, o Eng. Carlos Oliveira identifica a cultura da escola como o fator diferenciador e decisivo para uma preparação bem-sucedida dos seus alunos. Deve imprimir-se “uma cultura em que a atitude do aluno é o que lhe permite ultrapassar as dificuldades, uma cultura em que o aluno se sente apoiado, mas sente que é ele que tem de fazer o trabalho”, permitindo ao formando sair “com as ferramentas necessárias”, declara.

“Isto é um desporto de contacto entre professores dos dois níveis”, realça o diretor de Comunicação e Cooperação. O principal desafio que o CAMPUS FEUP enfrentará será este: estabelecer e manter relações, não só entre professores, mas sobretudo entre alunos. O objetivo será, então, “que os alunos do secundário se revejam na nossa comunidade”, e vice-versa, através de testemunhos e do “poder do passa-palavra”.

Assim, aquilo que se pretende com o CAMPUS FEUP é criar um natural “sentido de comunidade: estamos todos a trabalhar para o mesmo, e estamos a tentar ensinar esses alunos, portanto eles devem partilhar do nosso sucesso, que é o sucesso deles”.

Este projeto propõe-se a uma cultura de proximidade, que, a ter sucesso, será visível ao longo dos próximos anos. Não só nos números, mas também e consequentemente, noutras iniciativas de instituições da Academia do Porto que considerem seguir o exemplo da FEUP.

 

Artigo escrito por: Ana Pinto

Editado por: Carina Seabra e Inês Miranda