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Opinião

Associação Sara Carreira: pegar na dor e transformá-la numa forma de praticar o bem

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No dia 5 de dezembro de 2020, entre o quilómetro 60 e 61 da A1 no sentido norte-sul, aconteceu o violento acidente que tirou a vida a Sara Carreira. Nesse domingo, Portugal viu noticiada a tragédia por todos os meios de comunicação e emocionou-se com a perda que uma figura conhecida e acarinhada pelo país. Cinco meses depois, a família Carreira apresenta um projeto que vai manter viva a sua essência para sempre.

Na altura, publicações de homenagens e condolências propagaram-se pelas redes sociais, nomeadamente por parte de figuras públicas. A morte prematura da artista de 21 anos chocou o país. Foi inevitável ficar pensativo perante esta notícia e refletir sobre como a vida é um sopro, um instante, um momento. Num segundo podemos estar cá e, no segundo a seguir, chocar contra um carro parado na autoestrada e deixar de estar.

Sara era uma jovem com anos de vida (e de previsível sucesso) pela frente. Estava a dar os primeiros passos no mundo da música tendo lançado os seus primeiros singles e EP e no ano anterior. Originária de uma família de músicos, todos eles de grande sucesso, Sara provou que não seria exceção. E isso torna o cenário bem mais triste.

Porém, o sofrimento da família foi maior do que muitos de nós possamos imaginar. “Nem imaginam o meu sofrimento” foram as primeiras palavras de Tony Carreira após a notícia. Eu não imagino mesmo a sua dor, nem de todo o clã Carreira. Ninguém devia ser sujeito à dor de perder um filho ou uma família perder o seu membro mais novo. Esse luto deve ter uma gravidade que o torna mais pesado que qualquer outro sentimento.

A dor é uma emoção pesada que pode fazer parte da nossa vida durante muito tempo, talvez até para sempre. Diz a sabedoria popular que a vida tem de continuar. E há várias formas de lidar com a dor. Conforme a inteligência emocional de cada um, a dor pode tanto tornar-se algo destrutivo para a nossa própria vida ou pode ser canalizada para o bem. Foi exatamente isto que a família de Sara fez ao criar uma associação em seu nome para ajudar os mais necessitados. Pegar na dor e transformá-la numa forma de praticar o bem é muito nobre. Os Carreira têm toda a minha admiração por isto.

A Associação Sara Carreira vai atribuir 21 bolsas de estudo a crianças desfavorecidas, para seguirem os seus sonhos, independentemente da área. Visa “proporcionar um futuro às crianças e jovens que tenham talento em qualquer área de formação, mas que, infelizmente, passam por dificuldades financeiras não podendo contar com o apoio da família na concretização do seu sonho.”

Sara tinha vários sonhos. Para além da música, a jovem tinha também começado a dar passos na moda, tendo lançado a 25 de novembro a sua primeira coleção de roupa, Ésse by Sara Carreira. A vida alterou os planos da artista, mas os sonhos da menina de 21 anos vão manter a chama acesa em 21 outras crianças que vão seguir os seus próprios sonhos, através das bolsas atribuídas pela nova associação.

“Eu, a Fernanda, o Mickael e o David gostaríamos que a Sara e os seus valores se perpetuassem no tempo. Com amor decidimos criar uma associação com o seu nome que homenageará a sua essência, a sua forma de ser generosa, ajudando crianças e jovens a concretizar os seus sonhos através da atribuição de bolsas de estudo”

Isto é o que é possível fazer quando se tem o coração do lado certo e conseguimos reencontrar caminho para as nossas emoções, por muito doloroso e injusto que seja o que nos acontece. Tony Carreira descreveu a iniciativa como uma forma de “prolongar a bondade” de Sara, mesmo depois de ter partido e essa é a melhor homenagem que lhe podiam ter feito.

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