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Opinião

Empatia, onde andas?

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Imagem: Teemu Paananen (Unsplash)

Empatia, uma simples palavra que pode ser definida como a capacidade de tentar calçar os sapatos do outro, ou seja, tentar entender o lado do outro, da sua perspetiva e não da nossa, identificando o que a outra pessoa está a sentir e quais são as suas motivações. Mas será que temos sido empáticos com o outro?

A existência de seres humanos no mundo é indissociável da criação de grupos. Desde sempre que as pessoas juntaram-se em grupos, mesmo quando eram nómades, de forma a garantir a sua sobrevivência. Além de sermos seres sociais e de precisarmos de criar conexões com outras pessoas, estar em grupos facilitava a sobrevivência, já que os recursos e a segurança eram partilhadas por todos os membros, sendo essencial esta cooperação para a sobrevivência. À medida que as sociedades humanas evoluíram e tornaram-se mais complexas, os grupos também se desenvolveram em comunidades mais organizadas, como tribos, vilas e cidades. Essas comunidades desenvolveram línguas, costumes, tradições e culturas distintas, que moldaram as identidades coletivas e individuais das pessoas. Portanto, estar em grupos não apenas reflete a natureza social dos seres humanos, mas também desempenhou um papel crucial no desenvolvimento e na evolução das sociedades humanas ao longo da história.

É claro que a história e a evolução não são lineares, nem foram sempre pacíficas. Houve diversas guerras e retrocessos no progresso, onde existia o egoísmo e o sentimento de “nós vs eles”. Estes “eles” assumiram várias formas, mas têm em comum a divisão artificial das pessoas em categorias distintas, muitas vezes com base em características como etnia, religião, nacionalidade, classe social, entre outros, que tem sido usada para desumanizar estes grupos e, consequentemente, justificar a discriminação, a violência e até mesmo o genocídio.

Ora, este pequeno enquadramento histórico serviu para refletirmos sobre a importância de estar em comunidade, saber nos colocar no lugar do outro e de lutar pelo bem comum. Algo que ocorreu sempre que as pessoas se juntaram na luta por uma vida melhor e livre de opressões, como a luta do povo pelo derrube das ditaduras e pela defesa de um estado social forte ou por uma sociedade sem classes, onde haja uma justa redistribuição da riqueza. Nestes casos, a maioria das pessoas juntou-se não apenas para defender os seus direitos, mas também para defender a liberdade e o direito a uma vida boa e justa para todes, independentemente das diferenças que os separavam e tendo em conta as opressões que cada grupo sofre.

No entanto, face aos últimos resultados das eleições nacionais e internacionais e ao aumento do discurso de ódio, tanto nas redes sociais como no offline, sinto que a empatia não tem estado presente na vida da maioria das pessoas. Atualmente, as pessoas não estão preocupadas com as pessoas à sua volta nem em tentar perceber o lado do outro, mas sim com o próprio umbigo e pela luta por uma vida boa apenas para si, mesmo que isso implique prejudicar os outros. Por isso é que projetos de direita, neoliberais e de extrema-direita têm crescido, em conjunto com a falência do estado social, reinando assim o egoísmo, o braço direito do capitalismo.

Assim, neste momento é imperativo começarmos a desconstruir realmente o sistema capitalista e a começarmos a recuperar o sentido de comunidade, onde não existe o “nós” e o “eles”, mas sim uma sociedade que merece ter uma vida boa e onde temos de lutar pelos direitos de toda a gente, não apenas os nossos. Está na altura de lutarmos todes pelo bem comum e de não deixarmos ninguém para trás, temos de nos organizar enquanto comunidade, perceber as dificuldades de todos os grupos sociais (pela ótica deles, não da nossa, muitas vezes de privilégio) e exigir a mudança.

Por fim, deixo o poema “É preciso agir” de Bertold Brecht (1898-1956), escrito no século XX, mas que se mantém atual e nos faz refletir sobre a importância de não largar a mão de ninguém:

 

“Primeiro levaram os negros // Mas não me importei com isso // Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários // Mas não me importei com isso //Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis //Mas não me importei com isso // Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados // Mas como tenho meu emprego // Também não me importei

Agora estão me levando // Mas já é tarde  // Como eu não me importei com ninguém // Ninguém se importa comigo”

 

Artigo da autoria de Inês Amorim

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