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Devaneios

Eros Vence a Depressão

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“Hoje eu falei pra mim. Jurei, até. Que essa não seria pra você e agora é…”, mas é que não tem como não escrever sobre o amor. Melhor, sobre a falta dele ou toda essa revolução emocional inerente que as redes sociais estão causando na gente. 

A trend do momento é dançar sozinho que é pra não ter de ensinar ninguém a coreografia da nossa música preferida. Ninguém quer ter de “se entregar por inteiro ao mundo feito”. Vamos curtindo essas nossas músicas preferidas e criando playlists de como queremos ser amados, mas não nos colocamos disponíveis para o amor, mantendo sempre essa nossa sessão do Spotify em modo privado.

O que se tornou o amar na atualidade?

Eu poderia, em vez de escrever, indicar todo o álbum Monomania da Clarice Falcão e explicitar tudo o que eu gostaria de dizer. Que tudo tem começo, meio e fim e tá tudo bem. Eu quero muito e falo mais ainda. Talvez, o Honey da Robyn diga isso por mim… todo esse Melodrama que a Lorde inventou de cantar depois de se entorpecer de Pure Heroinethe people are talking, people are talking… oh, no!

l – o – v – e – l – e – s – s  generation… 

A verdade é que não há mais verdade no mundo. E aqui temos mais um pleonasmo ou talvez tudo tenha sido exposto de tal modo, que o novo mode é me, myself and i… e se até a Beyoncé precisou lançar o Lemonade para dizer o entalo que sentiu; beloved, don’t hurt yourself, don’t hurt yourself…

Faz tempo que eu planejei escrever sobre Eros. Toda essa nossa pulsão psíquica antagônica, a pulsão da morte. Sobre a sorte de ainda poder sentir aquele frio na barriga. De sorrir com o vento. Te sentir o gosto do gosto ao gostar… o arriscado desejo de amar

Deslizo o dedo na tela, planejo estratégias, crio descrições mirabolantes, produzo fotos excitantes, conflito com discrições, mas hoje, nada é mais deselegante do que se apaixonar. E no gym: “o corpo se transforma, mas a consciência não” (Kafka, Metamorfose).

Sexo agora, amor depois

Sexo se tornou desempenho. Tem uma estante cheinha, faz mbway e pega o teu. São as nossas performances sexuais e as reproduções cinematográficas do amor selvagem animal. Por cima, embaixo, me puxa, bate, desce, sobe, empina e rebola… macetada! Put@ria liberada a noite toda…

Vamos marcar de marcar alguma coisa… um date, um filme, um sunset. Uma volta às virtudes, uma super bock ou um beck. Acho que pode até ser, depois a gente ver. Não tenho tempo se não for só pra f…r.

Já disse aqui uma vez, “o corpo, com seu valor expositivo, equipara-se a uma mercadoria”. E esse papo já tá ficando chato. Essa gay ocupa esse espaço para inquietar a gente. Para gerar desconforto. Mas saiba que todo desconforto é uma reação de que estamos vivos. De que estamos pensantes. E se o caminho que as coisas estão tomando não te assusta, das duas uma:

ou você nunca amou, ou nunca foi amado.

E, na melhor das hipóteses, vivestes os dois em simultâneo. É a história mais velha do mundo, um destino que foi desenhado. O que mais alguém pode querer, além de amar e ser amado?

Ai, ai, como eu me iludo, nossa como eu viajei… e aqui, indico fortemente ver o videoclipe e perceber a semiótica por trás do defeito. 

A angústia de perder o falus 

E o símbolo de potência por ele encarregado. O sociólogo Zygmunt Bauman introduziu o conceito de “relações líquidas”, caracterizadas pela fragilidade, fluidez e falta de compromisso duradouro. Nesse contexto, a angústia [metafórica] da perda do falo pode se manifestar de maneira peculiar.

Nas relações líquidas, em que as conexões são efêmeras e descartáveis, a busca pela completude e poder podem assumir diferentes formas. Indivíduos tentam compensar a sensação de vazio através de relacionamentos superficiais, consumismo desenfreado, busca por status nas redes sociais ou obsessão por aparência física.

Além disso, a cultura contemporânea, influenciada pela mídia e pela sociedade ultra capitalista do consumo, acaba por promover uma idealização de um padrão de perfeição inalcançável, não por ser inatingível, mas por nunca ter havido um ponto final. E isso acaba intensificando a angústia da perda, levando a uma busca incessante por validação externa vs a sensação constante de insatisfação.

Portanto, a angústia da perda do falo, conforme delineada por Freud, pode estar presente “hipoteticamente” nas relações líquidas da atualidade, exacerbada pela cultura do consumo e pela busca desesperada por uma completude ilusória. Compreender essas dinâmicas pode nos ajudar a refletir sobre os impactos psicológicos e sociais dessas questões, bem como nos ajudar na busca por alternativas para desenvolver relacionamentos mais significativos e saudáveis.

Ever Again

É a ferida do amor sofrido que nos impede de tentar de novo. O esgotamento de ter de recomeçar nos afasta da possibilidade de mergulhar de cabeça em novas relações. Se relacionar sempre foi um risco, mas antes você não sabia que esse risco existia. 

A tecnologia colocou tudo na nossa mão, literalmente, e isso inclui o falso poder [ou não] de decidir sobre tudo que se aproxima, tudo que se afasta e tudo que pode nos abalar. Então, vamos controlando os nossos sentimentos, recalcando os desejos e performando esse positivismo tóxico e autossuficiente que o neoliberalismo vende e a gente compra compulsivamente. Tá bem ali e é express. 

Entenda de uma vez por todas que não vai aparecer ninguém na sua vida até você se permitir se decepcionar. Vontade existe para gente matar! 

Perfect Places

Relações perfeitas não existem por que a perfeição é invenção do bicho homem. Às vezes, não, sempre, projetamos relações que estão fortemente roteirizadas em nossas cabeças: o que pode, o que deve e o que tem de acontecer. E encaramos essas projeções como verdades. Quem nunca cai no erro de comparar os “ex”; e quem nunca já fugiu de um atual por perceber repetições do “ex”.

Toda a nossa construção de amor foi ensinada. Nossos Pais, cinema, sociedade. Complexo de Édipo e tantos outros estudos e leituras, constatações e experimentos sociais. Você não cria o amor, você reproduz. E tá tudo bem entender esse fenômeno assim, mas não justificá-lo. 

Se perceber é aprender, diariamente, que somos humanos, demasiadamente humanos, e que tudo que nos é bom está totalmente ligado às sensações subjetivas e traumas da nossa infância.  A gente aprendeu a ser assim, mas não significa que devemos ser exatamente assim. 

Quando abertos as relações, seja elas quais for, colocamos as nossas angústias e medos em caixinhas, absorvemos o outro e nos buscamos nele. Toda relação é narcisista porque você aceita o amor que acha que merece. E isso precisa ficar claro. Estes são os nossos lugares perfeitos. Os lugares onde nós somos o centro de tudo, mas é preciso saber dividir.

Nisso, encerro esse devaneio com uma reflexão do estoicismo, trazendo quatro lições do filósofo Epicteto: não dependa do que não está no seu poder; os pensamentos não são as coisas; nada nos pertence e, a mais complexa de todas, o filósofo se faz pela prática. Afinal, tudo tem filosofia, até a fé.

Perceba, se eu não fosse tudo que me trouxe aqui, eu não seria eu. Mas também não tenho de ser apenas eu o tempo todo. Isso é sufocante. E tudo que tá preso deseja fugir. Mas também é preciso querer ficar. Sim, é pagar para ver. Se arriscar. A vida é o que acontece entre os planos. E todo plano na vida é só mais uma desculpa para seguir em frente…  

Caso o contrário, há sempre a possibilidade de que se a f**a não for boa, a música é.

Artigo da autoria de Ícaro Machado

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