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Devaneios

Água e Sal

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Imagem: Arquivo Pessoal

Em dois mil e algumas coisas do passado… entre os amores fora do armário — ou quem sabe um de nós ainda estivesse dentro dele. Será que você já saiu do seu? No início da minha juvenília. Nos tempos dourados, uma poesia em prosa escrita num caderno queimado. 

Hoje é dia de contar de um amor passado do passado. E se passou ficou para trás. Mas o enredo merece uma publicação que segue o tempo e o espaço de um jornal universitário que vorazmente pede para ser lido. Desliza o dedo, sente o amargor e não desiste de se apaixonar mais uma vez. “São tempos difíceis para os poetas”, que clichê. Mas se o amor é líquido a gente deve se afogar tentando nadar, mesmo que os mergulhos sejam rasos. 

Início do fim. Pensei em escrever sobre você, que me transborda(ou), e isso já faz de mim, um poeta errante, talvez; apaixonadamente desinteressante. O quanto sou desastrosamente iludido: que deselegante se apaixonar assim por nada… e “que golpe!”, como diria Lispector, alter-ego G.H.

Penso em (d)escrever como o teu sorriso bêbado é bonito e o quanto teu beijo medroso é bom. Escrever sobre o quanto sinto esse você, e que talvez você nem saiba que o tem — talvez nem você seja seu ainda, alheio de si, feito por outros […] —, sei lá; de relance, esse nosso lance nada mais é que uma passagem medrosa só de ida, por que, meu amor, não tem volta! E não se sabe de onde foi a partida — partiu de mim, ou foi você que me puxou bêbado?

Talvez seja apenas o desencanto da solidão que tenho desde o último amor passado… já são mais de cinco anos, passado comigo. 

Pensei em descrever tudo o que pensei, o quanto eu via de você: esguio; branco pálido; bigode negro carregado, estrategicamente pensado — senhoril que pensa ser, virilidade que lhe falta. Moleque que se é. Sim, você ainda é jovem e medroso… 

Nesse equívoco — que foi gostar de você —, percebo que o que desejo de você é o que mais lhe falta: amor. E eu nem sei se tenho o bastante para nós dois. É que sou menino do mar, sou salgado: filtro e seco, dou gosto e, quando demais, salgo.

 

[ eu até gostei do teu cabelo novo, mas já nem me serve mais ]


Artigo da autoria de Ícaro Machado

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