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Devaneios

DISTOPIAS COM BACALHAU

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João Luís Tavares

João Luís Tavares

“Imagine-se que eu tinha um sonho em que a Rússia usava uma das suas ogivas nucleares contra os Estados Unidos, Nova York mais precisamente, e sabia a data e a hora… E depois acontecia!! Das duas uma, ou ficava calado e continuava com a minha pacata vida, ou então ia para a TVI fazer previsões acerca do fim do mundo (…)”

Não sei se gostam de Fernando Pessoa ou não. Eu pessoalmente gosto. Mas, temos todos que admitir que o homem era um génio absoluto, não só pelas palavras que punha no papel, ou pelas personalidades múltiplas com que agraciava o mundo, mas, principalmente, pelos pensamentos que provocava nas pessoas (que é realmente a única qualidade que um génio deve possuir, se formos a ver bem). Estava a ler o ‘Livro do Desassossego’, quando me deparei com esta citação: “Sei que fui erro e descaminho, que nunca vivi, que existi somente porque enchi tempo com consciência e pensamento. E a minha sensação de mim é a de quem acorda depois de um sono cheio de sonhos reais, ou a de quem é liberto, por um terramoto, da luz pouca de cárcere a que se habituara.”. Naturalmente que me afetou bastante, demais até… porque fiquei a cogitar nesta informação o resto do dia, tanto até que estou a escrever sobre ela…

Os sonhos são matéria fascinante para quem pensa neles. Não sei se já vos aconteceu terem um sonho e ele concretizar-se. A mim já, e posso-vos dizer que é uma sensação que me mete medo. Os sonhos supostamente não são para concretizar só porque sim, sem trabalho. Se sonhamos, sonhamos em grande. Eu sonho em ser editor-chefe da Vogue US. Não sonho que a minha mãe faça bacalhau com natas para o jantar (aliás porque nem gosto muito de bacalhau com natas…). Mas, de tempo a tempo, sou abençoado com estas visões de ‘futuro’ banais… O que a minha mãe vai fazer de jantar, o que um amigo me vai dizer no café, coisas triviais que ninguém para além de mim precisa de saber… E ainda bem que são coisas pequenas! Imagine-se que eu tinha um sonho que a Rússia usava uma das suas ogivas nucleares contra os Estados Unidos, Nova York mais precisamente, e sabia a data e hora… E depois acontecia! Das duas uma, ou ficava calado e continuava com a minha pacata vida, ou então ia para a TVI fazer previsões acerca do fim do mundo, com chamadas telefónicas de quem estivesse a ver, ou mesmo ler os signos, o trinta e um completo. E fico assustado, porque o sonho termina, ou devia terminar, quando eu acordo… Ou será uma extensão da realidade? Ou pior… Será a realidade uma extensão do sonho? O meu próprio raciocínio está a causar-me transtorno, porque até pode ser quase uma da tarde, mas eu acordei há cinco minutos, não devia estar a pensar tanto tão cedo.

Não sei bem o que é, nem pretendo saber. Dizem também que o homem é do “tamanho do sonho”. Se assim for, eu sou pequeno. Sonho com aniquilar todo o bacalhau com natas da face da terra e não com curar o ébola, erradicar a fome do mundo, ou mesmo ser presidente da junta de freguesia de Canidelo. Já que hoje estamos com aforismos, diz-se por aí que “Os estúpidos é que são felizes” e eu posso, pessoalmente, confirmar esta teoria, porque apenas quando não estou a pensar, ou quando não estou a pensar se estou a pensar ou não, é que realmente não me apercebo que a realidade que me rodeia não passa de algo cujo único objetivo é aniquilar completamente a minha personalidade. E isso, a par dos sonhos, também me assusta… Agora vou almoçar. O que é? Bacalhau com natas…

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