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Devaneios

CADERNOS

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João Luís Tavares

João Luís Tavares

De entre as minhas muitas e fantasticamente elaboradas pancas, a compra de cadernos será, por ventura, a mais normal. Nunca pensei nesse hábito até que vi um texto numa página de Facebook sobre um post no Tumblr que dizia isto: “O problema do caderno: Vês um caderno. Queres comprar o caderno. Sabes que tens em casa, tipo, dez outros cadernos. A maioria dos quais estão ainda vazios. Não precisas do caderno. Provavelmente nem vais usar o caderno. Qual é o propósito? Não compres o caderno. Compras o caderno.”. Fiquei a pensar que, como eu, haverá milhares de pessoas com cadernos lindos por fora e vazios por dentro. Que excelente metáfora…

As pessoas são como os cadernos que compramos compulsivamente. Algumas são lindas por fora, mas não têm nada por dentro. Personalidade zero. Outras são como as folhas soltas que vais pedindo emprestadas… Entram e saem rapidamente da tua vida sem grande importância… Outras são como os cadernos pretos que se vendem em todo o lado. Relativamente desinteressantes por fora, mas onde se escrevem as melhores histórias. Para a escola, sempre foram os meus cadernos de eleição, porque gosto muito dos cadernos da Oxford, mas os outros têm mais folhas… O meu primeiro “livro” (na realidade uma história bastante extensa…) foi escrito num caderno preto (Acabei por dá-lo a alguém. Se fosse agora tinha-o publicado…), porque é esse tipo de indefinição que nos leva a preenchê-los com histórias fascinantes, factos interessantes e coisas que nos fazem bem à alma. Gosto dos cadernos da Moleskine exatamente pela mesma razão. Para além de obviamente serem de uma qualidade excepcional, têm algo que me faz querer preenchê-los com poemas, músicas, fotos de e com amigos, coisas que me fazem rir e chorar, confissões de amor que apesar de as repetirmos eternamente à pessoa, ela parece não apanhar a ideia, e outras coisas que tais…

Um caderno não é só um monte de folhas, um caderno é um amigo em quem podemos confiar quando sabemos que mais ninguém nos ouvirá. É onde despejamos filosofia, matemática dos sentimentos, poesia e prosa de amor e intervenção. Não sei quanto gasto em palavras, provavelmente demais, mas quem está lá para as ouvir quando mais ninguém o faz? Quando choro, a primeira coisa que faço é escrever, porque à semelhança da casa de banho, o caderno serve para nos auxiliar nos momentos duros e filosóficos, para espelharmos a psique e desabafarmos furacões. Acho que não confio em alguém que não ande com um pequeno caderno atrás para ir escrevendo ao longo do dia. Escrever é existir e, por isso, vou escrevendo assim como vou existindo.

Tudo isto para dizer que gosto muito de cadernos. (Desculpem a filosofia…)

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