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Artigo de Opinião

ANÁLISE DO TIMING DA CANDIDATURA POLÍTICA

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As eleições autárquicas estão a um ano de distância, no entanto, a atual líder do CDS-PP, Assunção Cristas, anunciou já a sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. Os rumores da candidatura eram já discutidos há vários meses, e tinham-se intensificado nas últimas semanas, mas fará sentido, do ponto de vista político, anunciar a sua candidatura a uma célula do poder local, ainda que a maior do país, tão prematuramente?

Tal como será de esperar, a altura em que as candidaturas devem ser anunciadas varia conforme a dimensão do país, o perfil do candidato, entre outros factores, tais como a estabilidade política do país. Por exemplo, vivemos atualmente a campanha para as eleições gerais nos Estados Unidos da América, após um largo período de campanha para as primárias dos partidos. Apesar da campanha das primárias ter durado vários meses, devido à natureza das eleições serem dessincronizadas e se tratarem de uma vasta gama de estados, a campanha para as gerais decorre apenas durante 3 meses. Para um país como os Estados Unidos pode parecer pouco, mas devido às peculiaridades do seu sistema eleitoral é mais que suficiente. Portanto, tendo em conta a dimensão do país e do eleitorado, não parecerá prematura o anúncio da candidatura de Assunção Cristas à Câmara de Lisboa?

Devemos também analisar o porquê de uma líder de partido, com aspirações naturais a elevados cargos no poder central, escolher anunciar a candidatura a um órgão de poder local. Assunção Cristas está há relativamente pouco tempo como líder do CDS-PP, mas adotou uma estratégia de um político em fim de carreira.

Há quem argumente que é uma questão do eleitorado começar já a adotar a ideia de a ter como candidata efetiva à presidência da Câmara de Lisboa, e de começar já a criar laços afetivos com a candidata, mas se olharmos a questão a fundo vemos que a ideia de colocar um líder de partido num órgão de poder local roça a estupidez. Ainda que se trate da maior Câmara Municipal do país, o que vai acontecer quando se realizarem eleições legislativas? Vai a líder de um dos partidos com assento parlamentar não concorrer a essas eleições? E, se concorrer, vai desempenhar funções simultaneamente com as de Presidente de Câmara, ou, mais provavelmente, vai abdicar da presidência a favor da candidatura? Quando chegamos a este ponto de análise, vemos que há apenas uma parte que fica a perder com todo este espetáculo político – os habitantes de Lisboa – que não retiram das eleições autárquicas um candidato que esteja disposto e comprometido a cumprir com a totalidade do seu mandato. Enquanto a Câmara de Lisboa for vista como prémio de consolação por eleições no poder central perdidas (ou, dependendo do ponto de vista, roubadas), os lisboetas saem defraudados nas suas expectativas.

Enquanto há candidaturas que chegam cedo demais, há outras que, a confirmar-se, tardam. Falo obviamente da, possível, candidatura de Kristalina Georgieva, búlgara, a Secretária Geral das Nações Unidas, decorridas já quatro votações para esse cargo. A confirmar-se a candidatura, e a eventualidade de ganhar, na minha opinião a própria instituição das Nações Unidas, já bastante frágil por natureza, fica ainda mais débil. Onde já se viu realizarem-se votações sem os candidatos todos? A confirmar-se a candidatura, e para bem da sua imagem, António Guterres deve retirar a sua, que de momento se apresenta como a mais provável à vitória com quatro vitórias em quatro votações, e denunciar publicamente a eleição como antidemocrática.

Não nos esqueçamos que em ambos os casos, o timing da candidatura é essencial e que se tratam de casos bastante sensíveis, tanto para Lisboa, Portugal e para o Mundo. Deixemos de brincar à política e comecemos a fazer política, e diplomacia, a sério.