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Artigo de Opinião

25 DE ABRIL, UMA LIBERDADE ALGO ADOTADA!

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João Paulo

João Paulo

Faz para a semana 40 anos que a geração dos meus pais e dos meus avós saíu à rua para dar um basta na vida repressiva, subjugada pelos caprichos subversivos de um sobre toda uma população.

Não vivi essa revolução com a intensidade que gostaria, afinal era um puto, fruto de uma sociedade que se auto-controlava, onde todas as manifestações, de grupo e individuais, eram contidas ou mesmo silenciosas.

Recordo contudo a vida pacata, recordo a roupa em segunda mão, recordo a casa humilde que nesse ano ficou mais pequena do que já era. Uma casa com três divisões onde se albergava três pessoas e dormia numa cama que literalmente se abria como um truque de magia, brotava de um móvel que de dia se fazia estante, chegava agora o quarto elemento, aquele que durante anos dormiu comigo, chegava faz 40 anos a minha irmã.

Faz por isso 40 anos que famílias como a minha viviam do trabalho, andavam à chuva porque carro era um luxo e transportes públicos uma raridade.

Talvez mais uns que outros, pensávamos que a liberdade, a democracia chegava plena mas que rapidamente alguém se apressou a clarificar que a ditadura não estava devidamente enterrada.

A lembrança chegava num tom reprovativo, criminalizador, repressivo,… Lia-se e ouvia-se, mas mais que isso sentia-se “O 25 de Abril não se fez para putas e paneleiros”, disse-o Galvão de Melo, e deixou claro que décadas de fascismo não se apagam numa revolução, o vírus estava, está, entranhado mais que na pele, na corrente sanguínea de muitos, alguns com o poder de pelo menos tentar contaminar terceiros e com certeza com o poder de impor o reflexo dessa doença maldita da ditadura sobre um povo, inquirindo-o, dizendo-lhe quem ser e como ser.

40 anos depois vivemos um reflexo dessa ditadura agora disfarçada de democracia, liberdade, apoiada no exercício da retórica, da demagogia afinada, numa oratória única do politicamente correto.

 

“Adoção por casais gay chumbada no Parlamento” (DN)

No supremo interesse da criança, assim se diz, impede-se os “mesmos” paneleiros e fufas de Abril de serem pais e mães de crianças que brotaram do seu ventre ou aquelas que, deixadas na roda, são cuidadas por funcionários que se desdobram para serem pais e mães de substituição num horário reduzido, ou continuam o mau trato, a indiferença o abandono, prova disso mesmo são os processos mais que mastigados na justiça onde pelo supremo interesse da criança os arguidos vão saindo de fininho enquanto os maus tratos uma vez mais lavram os sentidos e a pele daqueles que quando inocentes lhes roubaram várias vezes a infância.

Afinal, 40 anos de uma suposta liberdade democrática mais não são que uma encenação de uma peça muito bem escrita que não pretende deixar o espetador satisfeito, mas apenas entretê-lo enquanto as suas liberdades são controladas ao milímetro.

Fomos todos enganados porque não se pode lutar pela liberdade quando temos uma lista de quem pode ser mais livre, de quem é libertado.

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