Política
SUÉCIA: DEPOIS DO CRESCIMENTO DA EXTREMA-DIREITA, O QUE SE SEGUE?
Mais de um mês depois das eleições legislativas, a Suécia continua sem governo. Perante a subida, ainda que esperada, da extrema-direita, os partidos que compõem o centro direita e o centro esquerda – as duas forças historicamente dominantes – recusam-se a coligar com o Partido Democrata Sueco. Stefan Löfven, que governou desde 2014 até ao ato eleitoral de setembro, voltou a assumir a pasta de primeiro-ministro, mas por pouco tempo, já que uma moção de de censura apresentada no parlamento determinou o seu afastamento com votos da Aliança de centro direita e da extrema-direita, representada pelo Partido Democrata.
Os resultados das eleições suecas mostraram que a coligação chefiada pelo atual primeiro-ministro (formada pelos Partido Social-Democrata, Partido Verde e Partido da Esquerda) obteve 40,6% dos votos, seguida da coligação conservadora (Partido Moderado, Partido do Centro, Partido Liberal e Democratas-Cristãos), que obteve 40,3% dos votos. Os Democratas Suecos (o partido de extrema-direita liderado por Jimmie Akesson) obtiveram 17,6% dos votos e 62 assentos parlamentares. Atualmente, o parlamento sueco (Riksdag), composto por 349 assentos parlamentares, está dividido em 144 assentos para partidos de centro-esquerda e 142 assentos para partidos de coligação centro-direita.
O Partido Democrata Sueco
Fundado em 1988, o Partido Democrata Sueco começou a ter algum destaque no panorama político sueco aquando das eleições de 2010, obtendo 5,7% dos votos e um total de 20 lugares no Parlamento. A sua preponderância aumentou nas eleições seguintes: em 2014, o partido conquistou 12,68% dos votos e 49 deputados no Parlamento, tornando-se assim o terceiro maior partido político do país.
Conhecidos os resultados das eleições deste ano, acaba por ser importante analisar quem é este partido e qual o seu plano para a Suécia.
Apresentando-se como nacionalista, social-conservador e com uma postura contra a imigração e a União Europeia, a sua fundação apoiou-se num movimento nacionalista denominado “Bevara Sverige Svenskt” (Mantenha a Suécia Sueca). O partido chegou, inclusive, a fazer parte da Euronat, uma associação de partidos radicais europeus, da qual deixou de fazer parte em 1999. O partido passava então por uma fase de reorganização, sob a liderança de Mikael Jansson, com o objetivo de o tornar mais respeitável perante o eleitorado.
A década de 2000 tem sido marcada por uma política de moderação: membros abertamente extremistas foram expulsos e em 2003 o partido decidiu que a Declaração Universal dos Direitos Humanos iria ser o porta-estandarte das suas políticas.
Relativamente à imigração, o Partido Democrata Sueco acredita que, por constituírem “sociedades paralelas”, um grande número de imigrantes são uma ameaça à identidade nacional sueca, o que resulta em tensões sociais e económicas no país. Os democratas suecos rejeitam o multiculturalismo, optando antes por uma sociedade multiétnica onde a assimilação cultural é promovida. Quanto à UE, o partido quer realizar um referendo sobre a continuação da Suécia na mesma, bem como tentar impedir a Suécia de aderir ao Euro.
O líder
Originário de Ivetofta, na Suécia, o influente líder sueco de 39 anos desde cedo enveredou pelo caminho da política. Em 1995, tornou-se membro da Juventude Democrata Sueca, liderando a associação entre 2000 e 2005, ano em que concorre às eleições do Partido Democrata Sueco, derrota Mikael Jansson e torna-se o líder do partido até à atualidade.
Antes de se dedicar inteiramente à política, Akesson trabalhou como web designer na empresa BMJ Aktiv, que co-fundou com, entre outros, Björn Söder, o ex-secretário do Partido Democrata Sueco. Apesar de ter estudado áreas como ciência política, economia e direito na Universidade de Lund, Akesson nunca chegou a completar a sua licenciatura.
Em setembro de 2014, a Sveriges Radio reportou que Akesson gastou mais de 500 000 coroas suecas nesse ano em apostas online, valor que excede o que o político teria ganho num ano, após redução de impostos. A situação causou um alvoroço político, pelo que Akesson se referiu às ações da SR como uma “tentativa de assassinato de caráter.”
Após as eleições de 2014, Jimmie anunciou que estaria de licença por doença, voltando ao ativo em março de 2015. No início desse ano, Akesson foi eleito pela revista sueca DMS o mais importante líder de opinião na Suécia para o ano de 2014, de acordo com os rankings.
Previsões
Vista como um dos países mais liberais e com maior qualidade de vida da Europa, a subida da extrema-direita no país traz consigo algumas preocupações. No atual contexto político europeu, temas como a imigração e os refugiados dividem as populações e os governos, pelo que a generalidade dos países europeus (com a exceção de Portugal e Espanha) mostram uma inclinação para o aumento de movimentos populistas e anti-imigração.
No caso sueco, um dos argumentos utilizados é o de que é necessário escolher entre a imigração e o bem-estar dos suecos. A chegada de 163 mil requerentes de asilo em 2015 ao país dividiu os eleitores, que colocam a seguinte questão: terá o sistema de segurança social sueco capacidade para acolher um número tão elevado de pessoas?
Numa Europa disforme ao nível do desenvolvimento dos países, seria de esperar que os países mais desenvolvidos tivessem uma maior capacidade de acolhimento, mas tal nem sempre se verifica. O sucesso ou não das políticas de imigração é uma questão muito mais complexa, pelo que fazer uma previsão sobre o futuro da Suécia e da Europa constitui uma tarefa árdua. Por agora, os sinais são negativos e arrastam consigo um mar de incertezas para um projeto europeu que muitos consideram falhado.
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