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Política

Conheça o Novo CEO da TAP e os desafios que enfrenta

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Autor: MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Fonte: pontospravoar.com

O novo CEO da TAP é uma escolha com vasta experiência e conhecimento no setor da aviação em Portugal. Entre 2009 e 2014 apresentou funções de administrador executivo na ‘holding’ TAP SGPS e na TAPSA S.A. (negócio da aviação), onde também foi presidente do conselho de administração da TAP Manutenção e Engenharia Brasil, e administrador executivo na empresa serviços Portugueses de Handling S.A.

Na TAP, teve ainda a oportunidade de gerir escalas para mais de 90 destinos, implementando um programa de redução global de custos da companhia, culminando em 2014 a ocupar a função de diretor financeiro da companhia, ou na gíria do C’s, CFO (Chief Financial Officer). Porém, em 2015 abandonou a companhia aérea, dedicando-se a um campo mais académico, enquanto professor e presidente executivo na Nova School of Business and Economics, em Lisboa. 

Em 2019, voltando ao ramo da aviação, tornou-se CEO (Chief Executive Officer) da SATA, companhia aérea dos Açores, onde foi reconduzido pelo governo regional no início deste ano. Os trabalhadores da companhia aérea dos Açores veem com muito espanto a saída do presidente executivo, tendo referido à TSF Dário Ponte que “tínhamos a garantia do próprio de que ia continuar, que estava satisfeito e, de repente através das notícias, tivemos conhecimento de que ia ser o novo administrador e CEO da TAP. Neste momento vamos marcar uma reunião com caráter de urgência com o próprio para tentarmos perceber em que ponto a situação está. Ainda por cima soubemos pela comunicação social que o próprio caderno de encargos da Azores Airlines vai ser conhecido hoje”. Contudo, apesar da repentina e inesperada saída, os trabalhadores apreciam e agradecem todo o trabalho por ele desenvolvido, tendo expressado que “estávamos a gostar muito do trabalho dele. Não é fácil, na conjuntura atual, vir para uma empresa que estava no fundo, apanhar com uma pandemia a nível mundial e, mesmo assim, conseguirmos sobreviver, erguer-nos e mostrar resultados positivos. É de louvar o trabalho dele e de toda a sua equipa”.

No anúncio de exoneração de Christine Ourmières-Widener, a anterior CEO da TAP, Fernando Medina e João Galamba tiveram a oportunidade de destacar alguns dos desafios mais importantes que o novo CEO da companhia terá de tratar. Com a tomada de posse na sexta-feira, 14 de abril, após, no dia anterior, a ex-CEO e presidente do conselho de administração cessarem funções, Luís Rodrigues tem pela frente alguns desafios, nomeadamente:

Retomar as conversações com os sindicatos dos trabalhadores

Os trabalhadores já deixaram bem claro que vão exigir o fim de cortes, a reintegração de trabalhadores alvo de despedimento coletivo e ainda o regresso aos acordos de empresa que vigoravam antes da pandemia. Os sindicatos apresentaram as suas exigências e expectativas através de uma carta aberta ao novo CEO. Através deste formato, os sindicatos exigem fim de acordos temporários de emergência, o fim das cotas e dos congelamentos salariais e a reintegração dos trabalhadores que foram alvo de despedimento coletivo.

Os sindicatos vão mais longe e afirmam que veem o novo CEO como uma lufada de ar fresco, demonstrando “total disponibilidade para parte da solução, sem nunca abdicar dos princípios e da dignidade enquanto trabalhadores do Grupo TAP”.

Gestão da tripulação para os voos no verão

Em linha com alguns registos anteriores, o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil avisa que “infelizmente” no verão iremos assistir a mais atrasos nos voos e caos nos aeroportos. No mês de abril, foram já cancelados centenas de voos, dado a falta de tripulação.

O presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, Tiago Faria Lopes, alerta que em maio vão ser cancelados mais 200 voos, devido à falta de tripulação, tanto de pilotos como de tripulantes de cabines. Afirmou, ainda que “Vai ser um caos. A TAP já contratou empresas externas para fazer os voos porque não tem capacidade”.

O aproximar do verão e a consequente intensificação de algumas rotas e abertura de outras tenderá a agonizar mais a situação. De acordo com o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Ricardo Penarroias, “A companhia está com dificuldade nas contratações, nomeadamente de tripulantes com experiência. A atual situação a nível financeiro e os salários que paga aos tripulantes de cabine já não justificam a vinda para a TAP”.

De acordo com o Dinheiro Vivo, as recentes ações de recrutamento da companhia aérea não tem alcançado o sucesso esperado. Trabalhadores queixam-se das condições salariais e da má reputação da companhia aérea, apontado como principais razões para afastamento de novos candidatos.

Tendo em conta o atual panorama e a necessidade de recursos humanos que a TAP se encontra, Luís Rodrigues dispõe de apenas alguns meses para tratar este problema.

Separação da Gestão da TAP dos órgãos governamentais

Na sua nomeação, o novo CEO da TAP, Luís Rodrigues, afirma que os membros do governo lhe disseram “Faz-te à vida”, onde esta terá sido também a principal recomendação, confessou em entrevista rápida à entrada das instalações da TAP, na Portela. Além disso, foi mais longe e afirmou “Isto não é um programa de televisão, é uma companhia aérea que tem de resolver o problema dos seus trabalhadores e eu não sou um jogador de futebol nem estrela de cinema. Sou um tipo que trabalha aqui, e está cá para ajudar, mas para isso é preciso que me deixem trabalhar”.

“É um ultimato, ou um pedido que fazemos ao Governo não há interferência política na gestão da TAP. deixem o Luís Rodrigues trabalhar, de forma serena, coesa e de forma profissional. Tenho a certeza de que ele o vai fazer”, afirmou o Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil na RTP3.

Luís Rodrigues clarificou, rapidamente, a sua intenção e pedido de separação entre os poderes governamentais e a gestão da companhia aérea portuguesa

Continuar a execução do Plano de Reestruturação

Apesar da exoneração da ex-CEO da TAP Christine Ourmières-Widener, a gestora executiva conseguiu apresentar um lucro de 65 milhões de euros decorrentes da operação em 2022, algo que apenas estava previsto para o horizonte de 2025. A palavra lucros era algo muito pretendido dentro da companhia aérea, mas raramente alcançado, verificando-se novamente ao final de 5 anos.

Em linha com um plano de restruturação em decurso, Luís Rodrigues terá de continuar a apresentar lucros, diminuindo consecutivamente a dívida da empresa. O endividamento atual da companhia aérea de bandeira portuguesa fixa-se nos 2740 milhões de euros, retratando uma diminuição de 14,7% face ao ano de 2019.

O progresso na diminuição da dívida continua, apesar de o valor remanescente continuar bastante elevado, deixando a companhia portuguesa em desvantagem face aos concorrentes europeus.

Assim, e dando um voto de confiança a Luís Rodrigues, o ministério afirma “ficam assim reunidas as condições para que a TAP inicie uma nova etapa, capaz de assegurar o foco na implementação bem-sucedida do plano de reestruturação da empresa, para a qual o contributo diário de todos os trabalhadores é imprescindível”.

Conduzir a privatização da companhia

No anúncio de exoneração da ex- CEO da TAP, o Ministro da Economia denotou a necessidade de sucesso da privatização da companhia aérea. Ora, tal não sendo um acaso, pode também ser um dos motivos pela escolha de Luís Rodrigues. O atual presidente executivo da TAP, na anterior companhia, SATA, tinha já dado início ao processo de privatização da açoriana.

O processo de privatização da TAP está há alguns meses nas mãos do banco de investimento norte-americano Evercore, embora sem contrato. É também, do conhecimento público que existem já três interessados sonantes: Luftansa, o grupo Air France-KLM e o grupo IAG, detentor da British Airways e da Iberia. Os portugueses, apesar de toda a controvérsia no tema após uma dispendiosa nacionalização, vão mostrando o seu desejo de integração no grupo da Luftansa.

O Primeiro-Ministro disse, a 14 de abril, “muito brevemente, o Conselho de Ministros irá aprovar a resolução que desencadeia o processo de avaliação, na sequência do qual será aprovado o decreto-lei que define os termos concretos da privatização”. Sublinhou ainda que, “tudo isso ocorrerá muito brevemente, se estará concluído até ao final do ano, não posso garantir”, destacando que “pressa é má conselheira”.

Reconstituir a paz Social

Ainda na carta aberta do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil, é referido que, considerando os últimos acontecimentos da Comissão Parlamentar de inquérito, é impossível ficar indiferente aos consecutivos escândalos, pelo que, se exigem medidas sérias e concretas que garantem a paz social. Vão mais longe e, ainda na carta, referem que “os trabalhadores do grupo TAP pretendem lutar para restituir a credibilidade da Companhia que foi irremediavelmente abalada”, atribuindo responsabilidade à administração cessante e aos membros do governo.