Política
DIÁSPORA BOLIVARIANA: SERÁ O FUTURO DA VENEZUELA LÁ FORA?
Em 1999, Hugo Chávez, adepto das ideologias Marxistas, subiu ao poder com um discurso encorajador e revolucionário. Amado pelos venezuelanos, Chávez iniciou uma mudança, ou “Revolução Bolivariana” como lhe chamou. Foram criadas as Missões Bolivarianas, cujo objetivo era assegurar a alimentação, cuidados de saúde, educação e habitação aos mais necessitados. Assim, mais de 30 missões foram postas em prática.
Durante os seus vários mandatos, Chávez conseguiu melhorar a economia e as condições sociais do povo venezuelano, ganhando o apoio das classes mais pobres. No entanto, desde muito cedo que a sustentabilidade destas missões foi questionada. A dependência do governo Bolivariano das exportações de petróleo para financiar as políticas populistas trouxe graves problemas para a Venezuela. Constituindo 95% dos bens exportados para o estrangeiro, nunca foi uma prioridade do país sul-americano produzir outros produtos: com a moeda estrangeira obtida na venda do petróleo a Venezuela importava do estrangeiro bens necessários. Mas a revolução não iria durar muito.
Depois da morte de Hugo Chávez, em março de 2013, os efeitos das suas políticas de esquerda fizeram-se notar. O preço do petróleo declinou rapidamente e sem a moeda estrangeira para comprar bens essenciais, as empresas nacionais aumentaram os seus preços e a inflação disparou. Nicolás Maduro, na altura vice-presidente, assumiu a presidência de uma Venezuela em rápido declínio económico e social.
A falta de bens básicos tornaram a vida insuportável para o povo Venezuelano. Com a falta de produtos, a inflação atingiu valores sem precedentes. Em 2014, um ano depois da crise dos preços do petróleo, a taxa da inflação subiu para os 69%, um recorde na história da Venezuela. A taxa continuou a subir para 181% em 2015 e 800% em 2016. Em novembro desse ano, a Venezuela entrou num estado de hiperinflação. Este ano, a hiperinflação chegou aos 20,000% em agosto. Os preços aumentaram de tal maneira que uma galinha pode custar 14 mil bolívares e um rolo de papel higiénico 2,4 mil bolívares.
O que antes eram considerados bens acessíveis, estão agora apenas ao alcance das classes mais ricas. Com os especialistas a defenderam que a taxa da inflação poderia chegar ao milhão ainda este ano, o governo decidiu acabar com a atual moeda e pôr o Bolívar Soberano em circulação.
Como consequência da inflação, a taxa de desemprego também aumentou, atingindo os 18,1% em 2016. Estudos determinaram que 75% da população passa fome e que o sistema de saúde já não responde às necessidades de um povo cada vez mais doente. A taxa de criminalidade disparou: aumentaram os homicídios, roubos e graves agressões.
Como palco de fundo para a crise económico-social encontramos a instabilidade política. Para muitos, a inação política do governo face à crise é um dos grandes motivos de descontentamento da população. Em Agosto de 2018, Maduro foi alvo de uma tentativa de homicídio, da qual saiu ileso. Inquéritos nacionais afirmam que 75% dos venezuelanos acredita que a corrupção está no seio do governo.
Em maio de 2017, depois de violentos protestos que resultaram em inúmeras vítimas, Maduro propôs a formação de uma Assembleia Constituinte para reformular uma nova constituição que substituiria a Constituição de 1999, imposta pelo seu antecessor Hugo Chávez. Alguns políticos venezuelanos consideram esta proposta uma estratégia de Maduro para ficar no poder durante mais tempo e adiar as próximas eleições, pois o processo de criação de uma nova constituição demora pelo menos dois anos. A 4 de agosto do mesmo ano, a Assembleia Constituinte foi oficialmente formada. Um ano depois, em maio de 2018, Maduro foi reeleito nas eleições com a mais baixa afluência na história da Venezuela.
A deterioração crescente das condições de vida dos venezuelanos levou a uma emigração em massa. A Diáspora Bolivariana refere-se à saída de milhões de venezuelanos do seu país à procura de um melhor acesso a bens básicos à vida, acesso à educação e um sistema de saúde e mais oportunidades de emprego. Em 2018, contam-se já mais 4 milhões de venezuelanos que deixaram as suas casas definitivamente, desde que a revolução socialista começou. Através de questionários, foi perguntado à população o motivo da sua saída, ao qual a maioria culpou a crise económica, outros falaram da instabilidade política e, em menor número, as oportunidades de trabalho disponíveis no estrangeiro.
Na procura desse futuro, os venezuelanos espalharam-se pelo mundo. Entre os principais destinos encontram-se os países vizinhos: a Argentina, México, Panamá, Brasil, Colombia, Chile e Peru; mas também países de outros continentes, como os Estados Unidos, Portugal, Espanha, Itália e França. Ao todo, os venezuelanos têm procurado refúgio em mais de 90 países.
Maduro tem sido, cada vez mais, alvo de críticas por parte do povo venezuelano e da comunidade internacional. Além da instabilidade política e económica, a Venezuela tem em mãos uma crise humanitária. Segundo a Comissão Internacional dos Direitos Humanos das Nações Unidas avançou, os direitos humanos na Venezuela têm sido violados, com a maior parte dos venezuelanos a não conseguir comer mais de uma refeição por dia. O sistema internacional tem condenado Maduro pela inação política face a esta situação. O presidente da Colômbia, Juan Manuel dos Santos, dirigiu-se a Maduro: “Isto é o resultado das suas políticas. Não é culpa dos colombianos, mas sim o resultado da sua recusa em aceitar ajuda humanitária, que lhe foi oferecida, não só pela Colômbia, mas também do resto da comunidade internacional”.
Também a União Europeia mostrou o seu descontentamento perante as ações de Maduro. Além de ter imposto sanções, incluindo um embargo de armas e outros materiais que possam ser usados para a repressão interna, a UE sancionou sete líderes venezuelanos pela sua afronta à democracia. Estas medidas vêm no decorrer da preocupação internacional pela segurança pública da Venezuela.
Cerca de 5000 pessoas estão a deixar a Venezuela diariamente e a tendência é para que este número aumente. Este êxodo de migrantes do país sul-americano está a entrar num “momento de crise” comparável à crise dos refugiados na Europa. A Colômbia, o país que já recebeu cerca de 1 milhão de venezuelanos, e outros países sul-americanos estão a fazer o impossível para dar abrigo a todos os que procuram refúgio e ajudar os mais doentes e carenciados. Esta ajuda, no entanto, tem custado muito à Venezuela: a gestão dos milhares de venezuelanos é cada vez mais difícil. Em agosto deste ano, a fronteira com o Brasil fechou temporariamente. Os países estão mais reticentes em aceitar os emigrantes de portas abertas e sem quaisquer condições.
O que é certo é que depois de muitos anos de uma política econômica catastrófica, o regime da Venezuela desperdiçou uma herança que inclui algumas das maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo. O rendimento do país entrou em colapso, a inflação está a caminho de atingir 1 milhão de euros, e milhões estão morrendo de fome em um país que deveria estar razoavelmente bem de vida. Para já, futuro da Venezuela continua incerto.