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Sociedade

CENTRO GIS: O COMBATE À EXCLUSÃO PASSA PELA EDUCAÇÃO

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O caso de Gisberta lançou para a discussão pública, a discriminação dos indivíduos LGBT e a necessidade de inclusão e defesa dos direitos dos mesmos. Ainda hoje, são esses uns dos pilares da Associação Plano i (APi). O novo projecto – o Centro Gis – tem no seu nome uma homenagem a Gisberta e procura evitar a repetição de tragédias semelhantes. Paula Allen, secretária da APi, esclareceu-nos quanto às motivações e ao processo de criação deste centro.

Como e quando nasceu a ideia de criar este centro? Sabemos que a escolha do nome do centro se deve ao ataque a Gisberta, em 2006, mas foi este caso que motivou a criação do centro ou foi um conjunto de circunstâncias?

O Centro Gis é um Projeto da Associação Plano i. A Associação Plano i foi criada em Novembro de 2015, na zona norte do país, por um grupo de mulheres e homens com interesses comuns e formação em diferentes áreas – Psicologia, Sociologia, Direito e Educação Social. Orienta-se pelos princípios da igualdade e da inclusão. É uma entidade sem fins lucrativos que procura dar respostas concretas a um amplo conjunto de questões sociais atuais, nomeadamente a desigualdade, a discriminação, a violência, a exclusão e a pobreza. Apresenta-se, por isso, como um coletivo empenhado em promover a igualdade através da difusão de discursos e da concretização de práticas de inclusão.

Consciente da realidade social que caracteriza, muito particularmente, o norte do país, a Associação definiu como uma das suas prioridades a constituição de uma estrutura de atendimento que possa oferecer às pessoas, aos grupos e às comunidades LGBT da região, serviços de apoio e de (in)formação que não se sobreponham a outros existentes. O trabalho tem sido reconhecido em áreas confluentes. No passado dia 22 de novembro, a Associação Plano i assinou, com a Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Dra. Catarina Marcelino, uma carta de compromisso para a atribuição de uma subvenção com vista à criação de um Centro de Respostas à população LGBT – o Centro Gis.

A criação do Centro Gis em Matosinhos deve-se ao forte empenho da Câmara Municipal de Matosinhos em receber e apoiar esta resposta específica, com a cedência de instalações adequadas ao efeito.  O Centro Gis deverá ser denominado como Centro Gis – Centro de Respostas à população LGBT. Uma resposta específica para um público específico.

Com que tipo de profissionais contam?

A equipa do Centro Gis é constituída por uma coordenadora, uma psicóloga, uma advogada e um médico.

Diriam que houve boa recepção e apoios por parte dos envolvidos neste projecto? Qual foi a maior dificuldade com que se depararam?

A Direção da Associação Plano i idealizou e projetou formalmente o Centro Gis, tratando-o como uma prioridade de ação. A Dra. Catarina Marcelino foi quem primeiro abraçou, valorizou e deu vida a este projeto através do seu financiamento. A Câmara Municipal de Matosinhos reconheceu a importância de o fixar em Matosinhos e tornou-o possível com a cedência do espaço e do mobiliário.

Na fase de idealização do projeto, a nossa maior dificuldade prendeu-se com o facto de estarmos a projetar algo que nos parecia fundamental enquanto resposta para as pessoas LGBT, mas sem qualquer garantia de financiamento, o que poderia fazer com que o Centro Gis não passasse do papel. Nesta primeira fase de implementação, não sentimos qualquer dificuldade. Estamos a estabelecer parcerias com outras entidades e coletivos chave no trabalho com pessoas LGBT  e a recetividade tem sido muito positiva. Iniciamos o trabalho no terreno já com procura prévia dos nossos serviços, o que nos permitiu dar resposta às necessidades dos utentes e iniciar o cumprimento dos nossos objetivos e da finalidade do Centro Gis.

Que problemas nomeariam como os mais sentidos pela comunidade LGBT?

Na Associação Plano i reconhecemos a necessidade de serem as próprias pessoas e comunidades LGBT a identificarem os problemas que mais sentem, pelo que nesta fase inicial de trabalho do Centro Gis consideramos abusivo fazê-lo. No entanto, gostaríamos de lembrar as palavras do Psicoterapeuta, Docente e Investigador da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, quando na sua entrevista à Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica referiu: “A expressão “violência de não existir” é de Nuno Santos Carneiro. Usa-a para designar a discriminação, o sofrimento e a desumanização que sentem ainda muitas pessoas LGBT (ou outras que não se identificam com normas sexuais e de género) no nosso país.”

Sabemos que vão/estão a fazer acções de sensibilização junto de escolas. Acham que os mais jovens se interessam pelo tema da discriminação? Notam uma maior abertura da camada mais jovem em relação a estas questões ou é ainda um tema tabu?

Umas das valências do Centro Gis é o seu departamento de formação. Neste caso, a formação em escolas poderá acontecer com diferentes públicos alvo, entre eles: docentes, pessoal não docente, alunos e suas famílias e restante comunidade educativa. Mesmo antes do centro Gis abrir formalmente o seu espaço,  já nos tinham solicitado o agendamento de algumas ações que irão acontecer ainda durante o mês de Janeiro.

Enquanto equipa de formação do Centro Gis, ainda não tivemos a nossa primeira ação de sensibilização nas escolas. Desse modo, não nos podemos pronunciar nesse âmbito particular. No entanto, e uma vez que o Centro Gis conta com técnicos com vasta experiência de formação em escolas e em temáticas que se constroem em torno da discriminação, podemos afirmar que são frequentemente relatados casos de discriminação. Dentro dos vários casos, inclui-se a  discriminação contra pessoas LGBT em contexto escolar e de relação entre pares. Esta situação justifica a procura de ações de formação nesta área. Mas queremos acreditar que com o empenho das escolas e com o trabalho dos técnicos, associado à capacidade excecional que as pessoas mais jovens têm de integrar conceitos e desenvolver atitudes construtivas e ajustadas, poderemos estar no bom caminho para a desconstrução de estereótipos que conduzem à discriminação.