Connect with us

Ciência e Saúde

DIA MUNDIAL DA SAÚDE: “VAMOS FALAR DA DEPRESSÃO”

Published

on

A depressão é um problema que afeta pessoas de todas as idades, em todas as classes sociais de qualquer país. Conceição Araújo, médica psiquiátrica, define a depressão como “a doença mental com maior prevalência no mundo.”

De acordo com o mais recente relatório da OMS, em 2015, mais de 300 milhões de pessoas sofriam da doença, o equivalente a 3,4% da população.  As consequências da desordem colocam-na como o maior contribuinte para a incapacidade produtiva e fazem dela a principal causa de suicídio a nível mundial.

Os estudos realizados mostram também que o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% entre 2005 e 2015, por causa do aumento da população e da realidade socioeconómica atual. “Há varias formas de doença depressiva, algumas delas relacionáveis com fatores ambientais e socioeconómicos”, confirma Conceição Araújo. A psiquiatra acrescenta ainda que “também em Portugal se regista aumento da depressão”.

As mulheres são mais afetadas pela doença do que os homens. Há cerca de 1,5% mais mulheres do que homens com depressão. A faixa etária com maior incidência de casos é a dos 55 aos 74 anos, com 7,5% dessas mulheres a sofrer desse distúrbio e 5,5% dos homens.

O que é a depressão?

Embora a depressão afete pessoas de todas as faixas etárias e extratos sociais, o risco aumenta em indivíduos que vivam situações como a pobreza e o desemprego, assim como naqueles que sofram de algum tipo de incapacidade física. Este último fator justifica a maior incidência de casos em idosos.

Pessoas com problemas relacionados com álcool e drogas estão também mais propensas a sofrer desta condição. As substâncias podem ser causa ou efeito da depressão. “Existe um número significativo de casos em que o consumo de álcool e de outras substâncias são expressões da depressão. Por outro lado, o consumo de álcool e outros psicotrópicos podem conduzir a estados depressivos”, explica Conceição Araújo.

A depressão é caracterizada por tristeza, ansiedade, perda de interesse por qualquer tipo de atividade, sentimentos de culpa, inutilidade e baixa autoestima. As perturbações levam a uma perda de energia, provocada por distúrbios alimentares e de sono. Em casos de depressão mais profunda, os pensamentos de autoagressão e suicídio são comuns.

Há episódios depressivos ligeiros, moderados ou graves, conforme os sintomas evidenciados. Outra subcategoria da perturbação, a distimia, é uma forma crónica de depressão ligeira, mais prolongada que os episódios depressivos, mas com menor intensidade dos sintomas.

Controlar a doença

Num relatório elaborado em 2012, a OMS alerta para o facto de mais de 50% dos casos de depressão não serem tratados, apesar do sucesso dos tratamentos existentes. As principais causas apontadas são a falta de recursos materiais e humanos.

O mesmo relatório evidencia que, apesar dos obstáculos económicos, sociais e clínicos, é necessário realizar um esforço no combate a um problema de saúde mundial cada vez mais significativo. Para isso, devem ser canalizados recursos para o diagnóstico correto dos casos e aplicação das várias formas de tratamento comprovadas. “Confunde-se algumas vezes com tristeza ou desapontamento que não constituem por si só sintomas depressivos”, diz Conceição Araújo.

A especialista acredita que a melhor forma de combater a doença passa por “promover o diagnóstico precoce e tratamento adequado e garantir a acessibilidade aos cuidados de saúde para todos”.

De igual forma, a criação e desenvolvimento de programas de prevenção deve ser posta em marcha. Estes programas assentam na redução de fatores de risco de depressão e no reforço de fatores de proteção. Com vista a estabelecer metas concretas, a OMS elaborou em 2013 um plano, com conclusão prevista para 2020.

“A depressão é desvalorizada pela população em geral”

Torna-se necessário sensibilizar a população e combater os preconceitos. A mensagem da psiquiatra é clara: “A depressão não é fisicamente visível nem demonstrável em exames subsidiários e é, portanto, desvalorizada pela população em geral, que desconhece a sua elevada prevalência. Há estudos que mostram que 60% das consultas de medicina familiar comportam sintomatologia psiquiátrica e que 20% da população vai adoecer com alguma forma de doença mental ao longo da vida”.