Connect with us

Ciência e Saúde

RAQUEL SILVA É PRIMEIRA PORTUGUESA A VENCER O PRÉMIO GBIF

Published

on

Fotografia: Raquel Silva

Fotografia: Raquel Silva

Raquel Gaião Silva (R.S.), portuguesa, com 23 anos de idade, venceu o prémio “Jovens Investigadores” do GBIF, enquanto estudante de mestrado em biodiversidade e conservação marinha. Em conversa com o JUP, Raquel explicou o seu percurso na investigação, o trabalho que desenvolveu, o prémio atribuído e objetivos para o futuro. Por fim, a investigadora deixou o seu conselho a estudantes com interesse pela investigação científica: “escolher o que mais gostam e agarrar todas as oportunidades, ser proativo para ser possível ter sucesso na vida e ser-se feliz”.

JUP: Qual foi, resumidamente, o teu percurso académico e científico?

R.S.: Licenciei-me em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e fiz um mestrado internacional de ciência em Biodiversidade e Conservação Marinha (EMBC+). Colaborei na publicação de um artigo científico com o meu orientador de estágio no terceiro ano da licenciatura e estou, de momento, a preparar um artigo científico com os dados da minha tese.

JUP: Quais são os resultados da investigação que levaram ao prémio GBIF Young Researchers Award que recebeste?

R.S.: Os resultados do meu estudo mostram que, com o aumento da temperatura das águas, o nordeste da Península Ibérica pode actuar como um “refúgio climático” para muitas macroalgas de água fria, corroborando outros estudos que indicam o mesmo. O estudo demonstrou que, no geral, os limites sul da distribuição destas algas parecem estar a mudar para latitudes mais a norte, que há necessidade de haver mais estudos precisos sobre qual o intervalo de temperatura que as algas marinhas podem suportar e que, no futuro, se continuarmos com o mesmo fluxo de emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera, espera-se que algumas espécies de kelp [tipo de algas] se tornem extintas da costa atlântica da Península Ibérica. O meu estudo prova que as ocorrências extraídas de herbários e bases de dados públicas, revelam informação valiosa e que, quando combinados com dados de temperatura, podem constituir uma ferramenta importante para a conservação destas espécies.

” (…) se continuarmos com o mesmo fluxo de emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera, espera-se que algumas espécies de kelp [tipo de algas] se tornem extintas da costa atlântica da Península Ibérica.”

JUP: Qual foi a sensação de o receber?

R.S.: Quando abri o email com a informação de que fui a vencedora, li e reli, pois não estava a acreditar. A sensação foi, acima de tudo, de gratidão por terem escolhido o meu projeto e pelos meus orientadores me terem ajudado a consegui-lo.

JUP: Em que consiste afinal o prémio?

R.S.: Cinco mil euros.

JUP: Como soubeste deste?

R.S.: Soube através de uma newsletter e de colegas investigadores que acharam que o meu projeto se enquadraria muito bem no concurso.

JUP: Qual foi o processo de candidatura?

R.S.: A candidatura consistiu num documento de cinco páginas a explicar o meu projeto, no meu currículo, numa carta comprovativa de que era aluna de mestrado e noutra carta do meu orientador a confirmar que eu estava a desenvolver o projeto.

JUP: E de nomeação?

R.S.: Fui nomeada, em meados de abril, a representante de Portugal e passei à fase internacional. Depois fui selecionada de um grupo de 14 candidatos nomeados por chefes de delegação de 11 países participantes do GBIF.

“A sensação foi, acima de tudo, de gratidão (…)”.

JUP: Estudar na FCUP teve um papel relevante? De que forma?

R.S.: Foi na FCUP [Faculdade de Ciências da Universidade do Porto] que me comecei a interessar mais pelo meio marinho e pelo potencial das algas marinhas, quando fiz o meu estágio com o Iacopo Bertocci, que na altura era investigador do CIIMAR [Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental].

JUP: O prémio vai ser importante para o futuro? Em que medida consideras que este reconhecimento impactou o teu percurso como investigadora?

R.S.: Sinto-me muito lisonjeada por ter recebido este prémio e penso que irá trazer um impacto bastante positivo na minha carreira. Por causa do prémio já fui convidada a falar sobre o meu estudo em eventos muito interessantes.

JUP: A área da Biodiversidade e Conservação Marinha tem futuro na investigação?

R.S.: A necessidade de conservar espécies marinhas é óbvia e penso que nós, portugueses, estamos cada vez mais conscientes disso. Portugal está, de momento, a fazer grandes esforços para aumentar as suas Áreas Marinhas Protegidas, o que é uma ótima oportunidade para surgirem mais projetos relacionados com Biodiversidade e Conservação Marinha.

JUP: O que consideras como o “segredo” para o sucesso nesta área?

R.S.: Gostar do que se faz, perseverança, dar-nos a conhecer e saber aproveitar todas as oportunidades.

JUP: Quais objetivos profissionais ambicionas alcançar?

R.S.: Seria muito feliz em ser capaz de gerir projetos de conservação marinha, sustentabilidade e consciencialização. Estou de momento focada em melhorar as minhas capacidades de gestão e comunicação, que são duas coisas que, para além da investigação, me dão muito prazer.

“Não considero que foram obstáculos grandes, são mais desafios, desafios que temos de ultrapassar para atingir os nossos sonhos.”

JUP: Neste ponto, e porque muitos dos nossos leitores são estudantes, com que obstáculos te deparaste e ainda deparas acerca da conciliação da vida académica e profissional com a pessoal?

R.S.: Quando acabei a minha licenciatura, decidi que queria fazer um mestrado diferente, que me puxasse para fora da minha área de conforto e que, acima de tudo, me trouxesse novo conhecimento e novas ferramentas relacionadas com o meio marinho. Assim, decidi fazer o mestrado internacional EMBC+, onde era obrigatório escolher estudar em, pelo menos, dois países diferentes e fazer todos os meus trabalhos e testes em inglês. Penso que os obstáculos com que me deparei no caminho foram aprender a “pensar” em inglês, adaptar-me a diferentes pessoas rapidamente e viver longe dos meus melhores amigos e namorado por alguns períodos de tempo. Mas tudo se faz. Não considero que foram obstáculos grandes, são mais desafios, desafios que temos de ultrapassar para atingir os nossos sonhos. Considero-me sortuda por ter bons amigos que nunca me abandonam e uma família que me apoia em tudo.

JUP: Finalmente, qual a recomendação que fazes a um estudante que queira seguir caminho na área da investigação?

R.S.: Acima de tudo, aconselho a escolher uma área que lhe dê muito prazer estudar. No mundo da investigação há que ler muitos papers [artigos científicos], fazer trabalho de campo certas vezes desconfortável e a horas estranhas e, no final do dia, é aquela sensação de entusiasmo em obter resultados que nos faz continuar. Aconselho a não escolherem uma área só porque está mais em voga, ou porque pensam que lhes abrirá mais portas no futuro. O mundo está constantemente a mudar, hoje em dia há muitos empregos que não existiam há 20 anos atrás, e, por isso, o futuro não é assim tão previsível. Por isso, diria: escolher o que mais gostam e agarrar todas as oportunidades, ser proativo para ser possível ter sucesso na vida e ser-se feliz.

No site da GBIF pode encontrar-se mais informação acerca do prémio e do trabalho de Raquel Gaião Silva.