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Ciência e Saúde

MEDICINA REGENERATIVA LEVA INVESTIGADORA PORTUGUESA À ALEMANHA

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Onde andam os nossos cientistas? Fotografia: Rita Pereira

Através dos “nossos cientistas”, o JUP já “viajou” até países como Austrália, Reino Unido e Canadá, tendo sempre Portugal como ponto de partida. Até agora, abordaram-se trabalhos nas áreas de Biologia e Medicina. Esta é a vez da Bioengenharia, sob a forma de Medicina Regenerativa. Desde o Porto até à Alemanha, conheceu-se o percurso de Rita Pereira.

A chegada à Alemanha

A procura por um estágio remunerado levou Rita até à Alemanha. Durante o Mestrado Integrado em Bioengenharia, que frequentou na Universidade do Porto, fez Erasmus em Glasgow, na Escócia. Assim que concluiu o mestrado, estagiou na Suíça, na AO Foundation – uma associação sem fins lucrativos dedicada à procura de tratamento de doenças relacionadas com o sistema musculoesquelético -, em Davos. Nesta altura, conhece a pessoa responsável pela sua ida para a Alemanha.

“A oportunidade para fazer doutoramento aqui surgiu durante uma conversa informal no laboratório, onde fiz um estágio após o meu mestrado […] as melhores oportunidades surgem de networkings inesperados” – comentou a investigadora.

“[…] as melhores oportunidades surgem de networkings inesperados.”

Se encontrou obstáculos? “Sem dúvida, a língua”. A este fator, acrescem a saudade dos dias de sol e das esplanadas à beira-mar. Ainda que dificultem a fluidez dos dias, estes são aspetos que não a impedem de trabalhar focada no seu maior objetivo: “liderar um grupo de investigação em setor empresarial”. De momento, frequenta o doutoramento em Engenharia de Tecidos Ósseos, em Wuerzburg, na Alemanha.

A Medicina Regenerativa em Portugal e na Alemanha

Segundo Rita, há ainda um entrave entre a investigação académica e a sua aplicação clínica, o que dificulta a inovação e o progresso. “O maior objetivo, neste momento, da área de medicina regenerativa é chegar à clínica de forma segura e consensual para todas as partes envolvidas, desde médicos a pacientes” – referiu. Para além disso, a investigadora realça a importância de se facilitar a transferência de projetos académicos para o mercado, possibilitando a “sobrevivência destes pelo menos nos primeiros anos de implementação”.

Apesar de se tratar de uma área recente, na Alemanha, a Medicina Regenerativa conta com disponibilidade de financiamento para o seu desenvolvimento “tanto ao nível governamental como empresas ou fundações privadas”. Em Portugal, esta questão põe-se de outra forma. A cientista começa por constatar a qualidade da ciência que aqui se produz. “Sem dúvida que, a nível de qualidade científica, Portugal compete muito bem com a Alemanha” – comentou. Qual o senão? A “falta de dinheiro”, que “atrasa muito o desenvolvimento a nível organizacional, impossibilitando demonstrar a qualidade produzida à comunidade internacional”.

A Ciência e a Sociedade

A perceção da importância da investigação por parte da sociedade é essencial para que a aposta no investimento aconteça. O “investimento em ideias novas é importante e faz a diferença”. “Em Portugal ainda existe muito a barreira do conservadorismo, especialmente em ambiente empresarial/hospitalar – mas acredito que estamos a caminhar para uma nova geração de pessoas informadas e dispostas a confiar na inovação e progresso” – apontou a investigadora.

No seu caso, por exemplo, sente-se apoiada financeiramente. O mesmo não pode afirmar sobre os seus colegas que estudam em instituições portuguesas. “Também as perspectivas futuras parecem muito mais diversas aqui na Alemanha, enquanto que em Portugal é difícil pensar em carreiras de investigação além da Universidade” – contou Rita.

“[…] em Portugal é difícil pensar em carreiras de investigação além da Universidade.”

Aos leitores interessados em explorar oportunidades no estrangeiro, Rita dirige-lhes algumas palavras. Transmitiu a ideia da importância de ir a conferências e de falar com pessoas que vivem ou trabalham no país de interesse. “O contacto pessoal é sempre uma mais valia super valorizada […] normalmente o carisma e as social skills dos Portugueses são apreciados e bastante diferenciadores” – referiu.

A investigadora deixa ainda um conselho para que a vida enquanto emigrante seja saudável: “O nosso país é fantástico e tem pessoas fantásticas […] mas não devemos forçar amizades dentro da comunidade portuguesa no estrangeiro. Na nossa geração já não se notam as diferenças de culturas entre nacionalidades, façam amigos locais. É a melhor forma de se sentirem mais ‘em casa’”.

Para perceber como se vive em determinada cidade, pode obter-se essa informação à distância de um clique. “Encontrem um contacto de alguém que viva lá […] há sempre um português em cada cantinho […] façam perguntas, nós ficamos sempre felizes por ajudar” – concluiu.

 

Artigo elaborado por Álvaro Paralta. Revisto por Ana Sofia Moreira.