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Ciência e Saúde

YES Meeting 2022 juntou Centenas de Investigadores de Áreas Biomédicas na FMUP

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Entre os dias 15 e 18 de setembro, a FMUP (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) abriu portas a cerca de 500 estudantes e investigadores de áreas biomédicas para a 17ª edição do YES Meeting, um congresso organizado pelos alunos da FMUP.

Ricardo Peres, Vice-Presidente da CO do YES Meeting 22
Por Inês Aires

Sendo um congresso totalmente em inglês, o ambiente que se viveu no CIM (Centro de Investigação Médica) – FMUP, durante estes quatro dias, foi bastante cosmopolita e multicultural. Em entrevista ao JUP, Ricardo Peres, estudante do 5º ano e atual Vice-presidente da Comissão Organizadora (CO), revelou que “30% dos participantes são internacionais, já se estivermos a falar de presenting-students a percentagem sobe aos 80%.” Quando questionado sobre o que o motivou a candidatar-se à CO, revela “Sempre tive muito interesse pela ciência e entrei para a CO do YES durante a pandemia, portanto nessa altura não tinha muitas oportunidades para explorar essa faceta e o YES foi a oportunidade que me cativou pela possibilidade de vir a conhecer os trabalhos de investigação mais recentes”.

Luísa Fernandes, estudante do 4º ano e membro da equipa da CO responsável pelo programa científico, descreve o YES Meeting como “Partilha de ciência, de experiências de vida e de opiniões entre os participantes e os palestrantes”.

Luísa Fernandes, membro da CO do YES Meeting
Por Inês Aires

No dia 15 de setembro, o auditório do CIM abriu portas para a Opening Ceremony do congresso, onde Beatriz Silva, presidente da Comissão Organizadora do YES Meeting agradeceu a presença de todos os participantes e exprimiu a sua satisfação no que toca ao desempenho de toda a CO, sendo que esta foi a primeira edição do YES Meeting a realizar-se presencialmente após a pandemia.

Prof. Dr. António Sarmento, Dra. Ana Camanho, Dra. Susana Vargas e Beatriz Silva, da esquerda para a direita
Por Inês Aires

Para além de Beatriz Silva, a Opening Ceremony foi marcada pelas mensagens de gratidão do Professor Doutor António Sarmento, que pertence ao Quadro do Centro Clínico Académico do Porto;  da Doutora Ana Camanho, Vice-Reitora da Universidade do Porto e da Doutora Susana Vargas, Tesoureira do Conselho Nacional da Ordem Portuguesa dos Médicos. Sob o formato de vídeo, os alunos e investigadores inscritos assistiram à mensagem de Catarina Araújo, Vereadora da Juventude na Câmara Municipal do Porto e do Presidente da República, Professor Dr. Marcelo Rebelo de Sousa.

Maria Yazdanbakhsh
Por Inês Aires

Logo após a Opening Ceremony, iniciou-se a Spinoza Session, moderada pela Professora Diana Silva, e que contou com a presença da Professora Maria Yazdanbakhsh, que coordena o departamento de parasitologia no Centro de Doenças Infeciosas da Universidade de Leiden, Holanda. Tal como dita o nome desta sessão, a Professora Maria recebeu o Prémio Spinoza, em 2021, e um orçamento de 2,5 milhões de euros para o desenvolvimento da sua área de investigação.

A apresentação da Professora Maria Yazdanbakhsh focou-se na aquisição de conhecimento em relação à diversidade dos perfis imunológicos das populações. Este estudo tem sido possível graças à análise de respostas a infeções e vacinas, através de técnicas de citometria de massa e modelos de infeção humana. Para além disso, a oradora premiada frisou a importância do trabalho efetuado em países em desenvolvimento, onde populações de baixo rendimento tendem a ser mais afetadas por doenças infeciosas.

Após a Spinoza Session, os participantes tiveram a oportunidade de observar a primeira sessão de posters do congresso.

Poster Session, 16 de setembro.
Por Inês Aires

Poster Session, 16 de setembro. Por Inês Aires

 

 

 

 

 

Para concluir o primeiro dia de palestras do YES Meeting, a Molecular Biology Session foi marcada pela presença de dois oradores — Professor João Pedro de Magalhães, investigador no grupo de Integrative Genomics of Ageing Group na Universidade de Liverpool, Reino Unido e o Doutor Leo Otsuki, membro do grupo de investigação da Professora Elly Tanaka, no Instituto de Patologia Molecular em Viena, Áustria.

A sessão de biologia molecular começou pela apresentação, via Zoom, do Professor de Magalhães, sendo que o seu trabalho se destaca pelo uso de modelos não convencionais no estudo do envelhecimento. A palestra incluiu modelos de baleia, toupeiras carecas e macacos capuchin, onde através de técnicas computacionais, foi possível averiguar o comportamento que resulta da alteração de uma proteína nesses organismos, de forma a estudar o efeito no seu envelhecimento. Segundo o palestrante, estes animais foram escolhidos devido ao facto de, em comparação com outros animais, possuírem uma maior esperança média de vida.

Por outro lado, a palestra do Doutor Leo Otsuki centrou-se no estudo de axolotes e na respetiva regeneração de tecidos, uma vez que este ser vivo possui algumas semelhanças em relação aos tecidos dos seres humanos. O Doutor Leo Otsuki dissertou sobre o papel crucial da expressão de SHH e FGF8 para a regeneração de tecidos, tendo terminado com uma referência para a importância crescente da tecnologia multioma.

Leo Otsuki, YES Meeting 22
Por Inês Aires

Na manhã de sexta-feira os participantes tiveram a oportunidade de assistir às palestras da professora Emily S. Cross e da professora Shelly Levy-Tzedek, via Zoom, na Neurosciences Session.

A sessão foi iniciada pela Professora Emily S. Cross, que leciona Neurociência Humana na Universidade de Macquarie em Sydney, Austrália e Robótica Social no Instituto de Neurociência e Psicologia na Universidade de Glasgow, Escócia. Na sua palestra, a Professora Cross apresentou a sua perspetiva em relação à exploração e estudo da interação do ser humano com social machines (máquinas sociais), de forma a estudar e melhorar o comportamento e, consequentemente, evoluir a cognição esperada destas máquinas.

 

Neurosciences Session
Por Bárbara Pedrosa

De seguida, a Professora Shelly Levy-Tzedek, diretora do Laboratório de Cognição, Envelhecimento e Reabilitação na Faculdade de Ciências da Saúde na Universidade de Ben Gurion, Israel, enfatizou a importância de máquinas sociais, em específico SAR (Socially Assistive Robots), no processo de reabilitação em situações onde os pacientes possuem um membro paralisado devido a, por exemplo, um acidente vascular cerebral.

Chiara Herzog, YES Meeting 22
Por Bárbara Pedrosa

A tarde iniciou-se com a Oncology Session, moderada pelo Professor Fernando Schmitt, o auditório respirou a jovialidade de Chiara Herzog, investigadora pós-doutorada na Universidade de Innsbruck, Áustria, e investigadora honorária na Universidade College London, Reino Unido. O trabalho de Chiara centra-se principalmente na metilação de DNA e na epigenética como preditores de risco de cancro da mama e, atualmente, colidera dois ensaios clínicos que versam estudar mudanças longitudinais em parâmetros de saúde na sequência de cessação tabágica e jejum intermitente.

Pedro Vaz, investigador na área do cancro pulmonar na Fundação Champalimaud, começou a palestra por captar a atenção dos participantes com uma analogia entre 3 perfumes da Channel com composições diferentes e os diferentes COVs – componentes moleculares dos odores -, sublinhando a importância da associação entre os odores humanos e as condições patológicas como meio de diagnóstico precoce. O painel da Oncology Session contou ainda com a presença de Nuno Gil, oncologista na Unidade Pulmonar da Fundação Champalimaud, que deixou uma mensagem aos estudantes para nunca deixarem de se inquietarem com o que os rodeia e tão pouco perderem a curiosidade, fugindo da estagnação de conhecimento.

“Look to nature to find out ideas for simple investigation”,  Nuno Gil

No fim da sessão, foi o momento do programa social, em que tanto participantes como palestrantes se juntaram em grupos e se deslocaram até ao centro da cidade invicta, para diferentes programas, como por exemplo tours pela baixa, entradas em alguns dos locais mais emblemáticos, provas de vinho do Porto ou de doces tradicionais, num ambiente descontraído.

No sábado de manhã, no auditório da FMUP, iniciou-se a Biotechnology Session, onde o Professor Bruno Pereira moderou as palestras do Professor Jens Puschhof e da Professora Maria Giovanna Francipane.

Biotechnology Session
Por Bárbara Pedrosa

O Professor Jens Puschhof, investigador principal no Laboratório de Interação Microambiental do Epitélio, Microbioma e Oncologia no Centro de Investigação de Oncologia em Heidelberg, Alemanha, começou por abordar o estudo de organóides provenientes de serpentes. Com isto, o orador conseguiu transmitir que, para além dos animais mamíferos, outros animais conseguem produzir células estaminais, através da adaptação de tecnologia de organóides, que podem ser usadas na regeneração de tecidos ou, no caso da serpente, para um melhor entendimento da complexidade das suas glândulas de veneno.

Para finalizar a Biotechnology Session, a Professora Maria Giovanna Francipane, investigadora principal em Medicina Regenerativa na Fondazione Ri.MED em Palermo, Itália, expôs a possibilidade de usar engenharia de tecido para um órgão inteiro, sendo que se trata de uma técnica que poderá obedecer às expectativas e necessidades de pacientes que se encontram em listas de espera para transplantes de tecidos e órgãos. A oradora apresentou os desafios da engenharia de um rim funcional e técnicas inovadoras que usam os nódulos linfáticos como local de suporte para o crescimento de órgãos para transplante.

A tarde de sábado foi reservada para a Career Session, workshops e apresentações de posters.

O rosto da Career Session desta edição foi Alexandre Quintanilha, doutorado em física teórica, professor de fisiologia celular e biofísica e deputado do Partido Socialista desde 2015, presidindo a Comissão de Educação e Ciência.

Joana Chaves e José Gomes. Por Inês Aires

Joana Chaves, estudante do 4º ano de medicina na FMUP, e José Gomes, estudante do 3º ano de medicina no ICBAS, apresentaram os seus posters na categoria Clinical Medicine. Joana apresentou um poster sobre a doença hepática não alcoólica, numa população de doentes com síndrome metabólica, “foi uma experiência verdadeiramente enriquecedora, não só pela possibilidade de compartilhar algum do meu conhecimento, mas sobretudo pela oportunidade de convívio e aprendizagem com pessoas do mais alto relevo internacional nas suas áreas de investigação”.

Em conversa com o JUP, José Gomes revela ter elaborado o Poster “no decorrer do trabalho de investigação com mentoria do Prof. Mário Santos, sobre rastreio de hipertensão pulmonar em pacientes com esclerose sistémica, com o objetivo de perceber como utilizar provas de exercício cardiopulmonares para aumentar a especificidade do algoritmo de deteção de hipertensão pulmonar que é uma causa de morte severa em pacientes com esclerose sistémica”.

Pelas 9h de domingo, iniciou-se a sessão intitulada Ethnicity in Medicine, moderada pela Prof. Dra. Carmen Lisboa.

A Dra. Claire Fuller, dermatologista britânica, inaugurou a palestra abordando o seu trabalho de campo em comunidades remotas, nomeadamente na África Oriental, Cambodja e Índia, e realçou a importância das manifestações dermatológicas de doenças infeciosas, que ainda estão cercadas de um grande estigma. Como presidente da International Foundation for Dermatology e vice-presidente da GLODERM (International Alliance for Global Health Dermatology), uma das suas metas é erradicar as Neglected Tropical Diseases (NTDs), um grupo de doenças preveníveis e tratáveis que continuam a afetar cerca de mil milhões de pessoas, a cada momento. Isto acontece maioritariamente nos países pouco desenvolvidos, de que são exemplos a úlcera de Buruli, podoconioses e escabiose – a maior causa de insuficiência renal a nível mundial, segundo a Dra. Claire. Tendo em conta este objetivo, foi desenvolvida a app Skin NTDs para ajudar no diagnóstico. A Dra. Claire releva ainda a importância de, futuramente, traduzir mais recursos para português, para atingir mais facilmente as comunidades dos PALOPs.

Chidiebere Ibe
Por Inês Aires

De seguida, a palavra foi passada a Chidiebere Ibe, estudante de medicina na Ucrânia, de nacionalidade nigeriana, ilustrador e diretor criativo na Association of Future African Neurosurgeons, que ficou conhecido pela ilustração de um feto negro que se tornou viral nas redes sociais, no último ano. Chidiebere iniciou a apresentação com uma fotografia de família na Nigéria e daí partiu para aquele que se tornou o seu propósito de vida. “Se vivemos num mundo em que todos os livros de anatomia e de dermatologia contêm somente imagens de pacientes caucasianos, como podemos garantir que os médicos são treinados para responder às necessidades dos pacientes negros? Como se podem sentir representados?” São estas as questões sobre as quais Chidiebere pretende que a plateia reflita e a sua reposta é não, os serviços de saúde não estão preparados para tratar pacientes que não sejam caucasianos, inclusive há várias condições patológicas que se manifestam de forma diferente conforme a cor de pele, como o eczema.

Steve Pascolo
Por Inês Aires

Após um coffee break e mais uma poster session, seguiu-se a sessão “Pathway of Scientific Discoveries”, moderada pela Professora Alexandra Moreira. Steve Pascolo, investigador no Hospital Universitário de Zurique e cofundador da CureVac (2010) e Drew Weissman, médico, investigador e professor na Universidade da Pensilvânia, foram os oradores que focam o seu trabalho sobre vacinas de mRNA sintético, um caminho tortuoso visto que, durante muitos anos, poucos acreditavam que seria viável – o mecanismo por detrás das primeiras vacinas COVID-19, pela Pfizer/BioNTech e pela Moderna.

 

Finda a pausa de almoço, começou a sessão mais aguardada do congresso, a Nobel Session, moderada pela Professora Raquel Soares, investigadora no I3S e professora de bioquímica da FMUP e protagonizada pelo prémio Nobel da medicina e fisiologia de 2019, William Kaelin, professor de medicina da Universidade de Harvard, que conduziu a sua palestra por videochamada. O Professor William Kaelin apresentou o seu trabalho de investigação sobre mutações em genes supressores tumorais conducentes a cancro, sobretudo von Hippel-Lindau Disease tumor supressor genes (VHL). No decurso desse trabalho, foram já desenvolvidos fármacos inibidores VEGF e inibidores HIF2, a título de exemplo o belzutifan, aprovado para tratamento de carcinomas de células renais.

Nobel Session, YES Meeting 22
Por Inês Aires

Segue-se mais uma ronda de workshops, em que os participantes têm a oportunidade de pôr mãos à obra e ter contacto com panoramas mais clínicos/ cirúrgicos. Francisca Araújo, estudante do 5º ano da FMUP esteve no workshop Do you have the guts to handle it ?, “foi um workshop um pouco mais teórico, mas gostei porque tenho curiosidade sobre a especialidade de Gastrenterologia e deu para ter contacto com a especialidade e com material como endoscópios que nunca tinha visto de perto” e Ana Moreira, estudante do 5º ano da FMUP, esteve no workshop Pre-hospital trauma care, “sobre noções básicas dos procedimentos na VMER, foi bastante dinâmico (…) nestes workshops acabamos por ter contacto com realidades das quais enquanto estudantes temos umas vagas noções, mas quando vemos em ação é completamente diferente do que imaginamos”

Por último, a Closing Ceremony, dá por terminada mais uma edição daquele que é o maior congresso da FMUP. Para muitos dos estudantes que marcaram presença, fica a certeza de querer voltar a repetir a experiência na 18ª edição, que contará com Ricardo Peres como presidente da CO. Ana Moreira acrescenta “É a minha primeira vez no YES Meeting. Estou a gostar muito e, para mim, o que mais se destaca em relação aos outros congressos é o facto de reunir tantas pessoas estrangeiras, que vêm com tanto empenho e interesse, e poder ouvir as perspetivas de convidados tão emblemáticos”.

Texto por Joana Silva e Mariana Batista. Revisto por Maria Teresa Martins.

Multimédia por Bárbara Pedrosa e Inês Aires