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Cultura

VARIAÇÕES: A MÚSICA CONSEGUE SER MAIS QUE O HOMEM

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Uma cena da infância em pleno compasso pascal no rio Homem, em Fiscal, dá o mote para este filme-vida de António Joaquim Rodrigues Ribeiro, aquele que é o barbeiro mais icónico da música portuguesa.

Do Variações menino partimos diretamente para um Variações homem feito, nos anos 70, a saltitar entre Amesterdão, Nova Iorque e Lisboa – aquela a borbulhar de lascívia no pós-25 de abril. Com este atalho infância-início de estrelato, João Maia deixa em branco aquele que seria o período do desenvolvimento da persona e da exuberância que é marca de António Ribeiro – o que, a nível humano, empobrece largamente a película. Ao tentar ir a todas, a vida de Variações fica somente pintada pela superfície. Claro está que enxertar uma vida como esta em uma hora e quarenta e nove minutos também não é tarefa fácil.

À parte das preguiças do realizador, é, na verdade, a energia de Sérgio Praia que nos consola. A representação tão minuciosamente trabalhada, a voz impecável e a transformação física são de tal modo credíveis que nos fazem pensar que estamos perante o verdadeiro Variações. A caracterização, o guarda-roupa e a direção artística são outros trunfos do filme, repleto de cor, arrojo e irreverência – tal como o próprio Variações e a sua música.

O filme foca-se mais na luta do artista por um lugar na música portuguesa do que propriamente na pessoa por detrás da persona. A relação com Fernando Ataíde é abordada com sobriedade, sem se tocar muito na ferida da sexualidade e da doença – segundo o ator, em prol do respeito pela família.

Variações é o típico blockbuster português de agosto que, não sendo o remake cliché barato d’O Pátio das Cantigas, é acessível e escorrega bem. Uma homenagem bonita e decorosa, sempre a jogar pelo seguro.

Três tesouras e meia em cinco.

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