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Cultura

POST-ROCK À VELOCIDADE DE DEUS

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A hora do início do concerto aproximava-se e, aos poucos, ia-se formando o semicírculo que os oito membros da banda desenhavam no palco do Hard Club. Assim, “Hope Drone” construía-se com uma progressiva estratificação de sons que, embora nunca tenha agraciado um dos seis álbuns do grupo, mantém-se como o ponto de partida de muitas das suas atuações.

Atrás do técnico de som, Karl Lemieux alimentava os três projetores antigos com vários rolos de filme que penduravam de uma estante. Durante a primeira canção, os visuais foram escassos, fazendo vagas referências a esperança e à falta dela.

Ao vivo, as samples, que contêm uma grande parte da mensagem política de Godspeed, são substituídas pelo filme granulado preto e branco. As ideias são igualmente simbólicas e nunca se sobrepõem à música, mas complementam-na.

Fotografia: Sofia Matos Silva

Fotografia: Sofia Matos Silva

Sem dizerem uma única palavra a atuação inteira, os membros não demonstraram uma atitude ativa em palco. Mas o que faltou em interação verbal com o público, houve em simbolismo. O terceiro tema tocado, “Mladic”, acompanhou-se de filmes confrontacionais: desacatos entre manifestantes e polícia e motins. Nesta faixa, cujo nome remete para Ratko Mladić, criminoso de guerra, sentiu-se a força motriz de GY!BE: a anarquia.

O post-rock sinfónico que os caracteriza serve como uma chamada à ação e como soundtrack para uma rebelião. A ideia de lutar contra o sistema não desaparece, nem duas décadas depois da criação da banda. Embora não assumam uma sonoridade punk, Godspeed You! Black Emperor agarra nas ideias do punk rock e coloca-as num registo diferente, mais melódico e pensado.

A construção estratificada das músicas, que rebentam em explosões harmónicas, é algo que tem de ser visto ao vivo por qualquer fã do grupo canadiano. O concerto terminou com projeções de edifícios a arder. Neste cenário, os membros despedem-se e deixam o público reticente: satisfeito com o concerto mas já pronto para outros 90 minutos.

Artigo da autoria de João Norte