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Cultura

Luís Sequeira: se ao menos o talento te odiasse

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O futebol entrou primeiro na tua vida mas a música manteve-se. Como descreves esse percurso?

Desde os seis anos que o meu objetivo de vida era tornar-me jogador de futebol profissional e, na altura,  ainda não havia Cristiano Ronaldo – mas queria ser o Figo ou o Zidane. Levei 12 anos a focar-me e a dedicar-me plenamente ao futebol, com a maior das paixões e forças. Os meus pais foram uns heróis porque não houve um treino a que eu faltasse, um jogo que eu falhasse. Eles estavam sempre lá para me levar e apoiar.

Eu andava com o meu pai de um lado para o outro, ele em tempos fora jogador de futebol mas nunca conseguiu ser profissional e, além disso, tinha um horário ideal para me acompanhar. Isso inspirava-me a querer ser como ele, e ele via em mim o que nunca foi.

Fotografia: Beatriz Sequeira

Era tão bom quanto difícil. Nunca ninguém, nem os melhores treinadores que tive, me ensinaram tão bem o que era o futebol como o meu pai.

Entretanto, nos intervalos dessa etapa, entra uma guitarra pelo natal, aulas de música e de canto, cantei ao vivo pela primeira vez com a banda convidada nos 50 anos do meu tio e a música ganhava força. Mas sempre em 2oº plano, porque a ideia ainda era ser jogador. E assim foi até à inscrição – feita pela a minha mãe à socapa – no The Voice Portugal, em 2014. Só no final, e a partir daí, é que me convenci que era isto que queria fazer para o resto da vida, persuadido por Portugal inteiro por causa do meu percurso na competição. O resto é história.

Tens uma voz versátil, que se adapta a vários estilos. Isso já foi um problema por dificultar definires-te enquanto artista? 

No início da aventura profissional na música – em bares, discotecas, festas privadas e todo o tipo de eventos que se desenrolaram nos dois anos após o The Voice (para aproveitar a onda), foi a ferramenta ideal. Porque não havia tipo de canção com a qual eu não conseguisse aplausos ao cantá-la. No entanto, para alguém que começara a escrever canções e a querer que o trabalho original singrasse, realmente, essa versatilidade ainda hoje me tranca muitas vezes.

Contudo, estou a traçar um caminho muito próprio e a querer que essa diferença se destaque no mercado, mas sempre numa linguagem mais “comercial”, no melhor dos sentidos que consiga.

Porque o Luís Sequeira músico não sou só eu. Vai desde letras que o meu pai me empresta, à produção do Tiago Pais Dias, à orientação da Valentim de Carvalho, até às pessoas que ouvem e querem ouvir o que tenho para dizer. Ou seja, é uma comunicação entre estas parcelas todas. Claro que o cerne sou eu, tenho essa felicidade e sou sortudo.

Sentes que ao embarcar no mundo do showbiz tiveste que sacrificar alguma parte de ti?
Temos sempre tanto que sacrificar como individualizar, e viver nesse balanço o melhor que pudermos para não acabar mortos, ou pior, sozinhos.
“Se ao menos eu te odiasse” é um poema do teu pai. É costume partilharem o processo criativo?

Sim. O meu pai tem imensas letras que me dá para musicar. É incrível a minha sorte! Ele escreve muito bem. Sempre fui fã da sua escrita. É de uma hipersensibilidade maravilhosa e rara.

O single “Tu Não Sabes” aborda um constante conflito interno, que é ilustrado no videoclip. Em que te inspiraste?

Inspirei-me na falta que nos fazem as pessoas que mais amamos. Isto porque nós somos tanto quem amamos como vice-versa. E, na minha ignorância e incapacidade de explicar melhor, o que quem eu amo significa para mim (por mais que o possa expressar) compus este tema porque, de facto, eles não sabem o quanto são para mim.

Um artista precisa de viver para criar ou a vida está dentro dele?

Acho que tanto uma como outra coisa. Podes inspirar-te no que te aconteceu, ou então só pensares no que aconteceu a outro, ou ainda imaginares o que te podia ter acontecido.

A sensibilidade não tem dimensão, mas é sempre real. E a representação sincera disso é que agarra as pessoas.

O que significa para ti dar vida ao teu primeiro álbum?

Deve ser o mais próximo que terei de dar à luz – sendo esta, na gíria popular, a forma maior de criação, julgo eu.

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