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Cultura

UNAPOLOGETIC: Uma Exposição autobiográfica de Eva Resende

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“Retorno à infância” são as palavras utilizadas por Eva Resende para descrever o seu mais recente trabalho. A artista, alumni da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, construiu este seu mundo por meio de uma intercomunicação entre fotografia, gravura, texto e pintura, como já é habitual na sua forma de criar. 

Fotografia por Ana Costa.

 

Eva concilia atualmente a sua atividade entre o seu próprio estúdio, no Porto, e o estúdio da Tacita Dean, em Berlim, mas constata que o ambiente de cultural de ambas é muito distinto, dizendo que “não existe uma rede forte para jovens artistas encontrarem empregabilidade na área (artística) em Portugal”. Por isso, quando surgiu a possibilidade de expôr na cidade onde se iniciou o seu trajeto, mais precisamente na Ars Longa Vita Brevis Associação Cultural, a artista não pôde recusar.

Assim se criou UNAPOLOGETIC, um site specific que faz realmente com que mergulhemos num outro mundo, apropriando-se do próprio local e tomando-o como parte integrante da exposição. Segundo a autora, “a galeria funcionou como uma simbiose do conceito e das necessidades do espaço”, o que resultou numa viagem total por aquilo que nos parecem ser pensamentos subconscientes expostos nas paredes.

 “Strange Place wrapped up in ties of the past repeated in a cyclical psychotic way”

Esta é apenas uma das muitas frases que constituem todo o texto desta exposição, deixado a nu nas paredes, e que em muito contribui para a transmissão da narrativa não linear das memórias, boas ou más, aqui reproduzidas. O fenómeno nascido da união entre este texto, as fotografias nostálgicas, e o próprio tratamento espacial e das cores,  faz com que a exposição, em muito influenciada pela teoria psicanalítica de Melanie Klein, se assemelhe quase à ideia de um confessionário de reflexões há muito guardadas. 

Ora, era exatamente esta a ideia da artista com este trabalho, que afirma ser “o culminar de um projeto que se iniciou com a construção de um arquivo fotográfico autobiográfico, que por fim se estendeu a uma pesquisa de documentos quer escritos, quer visuais, que não via há anos”.

Fotografia por Guigas Costa.

Esta exposição é, assim, um percurso por aquelas que são algumas das experiências de vida, e do passado de Eva, excedendo-se no que toca a nos fazer sentir convidados a participar e a regressarmos, também nós, àquelas que são as nossas memórias e angústias da infância ou adolescência. 

UNAPOLOGETIC mostra-nos a capacidade interseccional da artista Eva Resende na concepção de obras extremamente atuais, mas que fogem ao normal, deixando em aberto, por outro lado, todo um universo de combinações com as quais ainda poderemos vir a ser surpreendidos. 

Artigo escrito por Luísa Garcia