Connect with us

Cultura

EPIDERMOGRAFIA – PARTE 1

Published

on

O Ciclo Ingmar Bergman que decorre no Teatro do Campo Alegre até 2 de abril não é somente uma retrospetiva. Claro que a possibilidade de assistirmos a 17 filmes indo de Prisão (1949), o primeiro a ser escrito e realizado por ele, até Fanny e Alexandre (1982), o último a ser concebido para o grande ecrã, nos permite rever muitos das obras do cineasta sueco. Também, essa seleção proposta pela Medeia Filmes, da qual se destacam alguns dos mais emblemáticos títulos de Ingmar Bergman – O Sétimo Selo (1957), Morangos Silvestres (1957), A Máscara (1966) ou Lágrimas e Suspiros (1972) – permite, pela proximidade das projeções, que sistematizemos o existencialismo e a cinematografia bergmanianas, e isso ao ponto de vê-las a con-fundir-se emPersona na célebre justaposição dos rostos de Bibi Andersson e Liv Ullmann. Assistir aos filmes de Ingmar Bergman numa Sala de Cinema, é igualmente vivenciar a claustrofobia do universo de um cineasta que desejava que os espetadores não ressentissem com a alma mas com os nervos.

Ingmar Bergman, Persona, Bibi Andersson e Liv Ullmann

Bibi Andersson e Liv Ullmann em Persona

Mas ver Bergman numa sala de Cinema é sobretudo estar cara a cara com o rosto humano, um rosto a rosto; essa visagéité resultando da transe-fusão cinematográfica que Gilles Deleuze identificou como sendo a caraterística primeira do grande plano e, tautologicamente, da imagem-afeção – quiçá, do Cinema-em-si. Ora, para Bergman, para aquele que é tido como o cineasta do rosto, o rosto das atrizes que colaboraram com ele foi o centro de todas as atenções, de todas as afeções. O rosto de Maj-Britt Nilsson em Um verão de Amor (1951), o rosto de Bibi Andersson em Morangos Silvestres, o rosto de Harriet Andersson em Em Busca da Verdade (1961), o rosto de Ingrid Thulin em O Silêncio (1963) e, principalmente, o rosto de Liv Ullmann a ser dissecado por Erland Josephson no sublime Lágrimas e Suspiros. Elas permitem que avaliemos e segmentemos a filmografia bergmaniana como se os rostos delas fossem marcas d’água incrustadas nas películas, uma epidermografia.

 

 

Programa aqui.