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Crónica

Efeitos de uma ressonância magnética

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Ontem fiz, finalmente, uma ressonância magnética ao joelho. Trata-se de uma avaliação bastante comum, apesar de nunca a ter feito antes. Contudo, ao contrário da maioria, sinto a necessidade de fazer uma análise detalhada ao exame que, durante uns eternos 20 minutos, me analisou detalhadamente.

Para além de ser o apogeu do pânico para todos os claustrofóbicos desta e outras vidas, este é um exame que exige imobilidade total do corpo. Sim, mesmo daqueles que espasmam com frequência quando imóveis por mais de 2 minutos, como eu.

A segundos de iniciar a dita da ressonância, o médico trata, então, de deixar bem clara a importância de não efetuar nenhum movimento: “Rita, para o exame evidenciar resultados claros e, a fim de detetar qualquer possível anomalia, é essencial que permaneças imóvel durante todo o tempo”. Aceno firme, ainda que cautelosamente, com a cabeça (como quem quer mostrar controlo e até mesmo desprezo por todo e qualquer movimento brusco), a porta fecha-se, o médico e auxiliares saem. Já sozinha, a saber-me observada de uma outra sala, penso instantaneamente: “Será normal esta vontade enorme que sinto de pontapear a máquina?”. Começam aqui os 20 minutos mais conturbados de que me recordo.

A verdade é que eu não precisava de mexer a perna para rigorosamente nada. O problema foi terem-me dito que não o podia fazer. Desde comichões, a mau estar e súbitos espasmos, todos me pareciam motivos plausíveis para que me tornasse praticante de “muay thai” naquele momento. Cresce desesperadamente em mim um interesse pelas artes marciais tal e, ao mesmo tempo, questiono a realista possibilidade de, dali em diante, enveredar numa carreira futebolística. Seria esta a lesão que despoletava o desejo inicial de um percurso promissor a ponta de lança? A sede de marcar golo acrescia à vontade de fazer uma entrada a pés juntos e, à medida que os minutos passavam, cada vez tinha menos certezas de que estava efetivamente quieta.

“Rita, distrai-te.” – insistia. “Pensa, agora que não podes mexer a perna, que ias, por exemplo, tomar café com um dos teus ídolos. O que lhe dirias?”. E foi então que, enquanto conversava tranquilamente com Anthony Jeselnik, lhe administrava um “kick” certeiro, mesmo na testa. Estava descontrolada.

Passados 20 minutos, a máquina ouve as minhas preces e decide acompanhar o silencio ensurdecedor que se fazia sentir na minha mente. Os barulhos terminam, o médico entra e elogia-me; pelos vistos tinha conseguido manter-me totalmente imóvel. Contudo, seria impossível não retirar um ensinamento de uma experiência tão comum como esta. Por isso, aqui vai: Se tiverem de estar parados durante algum tempo, garantam que ninguém vos pede para o fazer. Com o joelho estava aparentemente tudo bem. Se não me enviarem os resultados dos testes psicológicos a que estive também sujeita, vou assumir que estou igualmente saudável.