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Artigo de Opinião

UEFA e o racismo (in)tolerável

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A UEFA (União das Associações Europeias de Futebol) publicou no dia 17 de dezembro de 2021 um plano chamado Strength through Unity. Este programa contém uma série de metas que, a princípio, serão alcançadas até 2030. Há, dentre elas, uma meta no mínimo curiosa: “erradicar o racismo em todas as suas formas dentro e fora de campo”.

Já se sabe que não há a menor intenção de efetivamente unir, por parte de órgãos como FIFA e UEFA, os direitos humanos com o futebol. Basta usar a Copa do Mundo 2022 como exemplo: milhares de trabalhadores estrangeiros morreram no Catar e milhares estão a trabalhar em condições desumanas neste país que tem uma total desconsideração por tudo aquilo que não se enquadra em óleo, dinheiro ou guerra. Não é à toa que a SRA (Sports & Rights Alliance) pediu para ser desvinculada à UEFA por conta da sua recusa em ser transparente ao abordar temáticas relativas aos direitos humanos. Portanto, ler que a UEFA tem como ambição “erradicar o racismo” não deixa de ser cómico.

Claro, erradicar o racismo é apenas uma forma pomposa de dizer que ele será combatido ao extremo. Não passa de uma hipérbole, visto que erradicar algo tão enraizado e dogmatizado na sociedade é impossível. Tratando-se da UEFA, combater o racismo será mesmo uma ação hiperbólica. Não porque o racismo não possa ser combatido, mas porque a organização não faz a menor questão de combatê-lo.

São vários os casos em que a UEFA ignora as mais explícitas demonstrações de racismo no futebol europeu. Dentre eles estão o estabelecimento de cotas étnico-raciais para jogadores na seleção francesa, o racismo direcionado aos jogadores ingleses por parte de adeptos húngaros, o caso de racismo sofrido dentro de campo por Evra, os incontáveis casos de racismo no futebol italiano e, mais recentemente, as injúrias raciais sofridas por Vincent Kompany no futebol belga.

Na maior parte dos casos, inclusive nos citados acima, é feita uma investigação e aplicada uma multa simbólica. Nada demonstra um pingo de seriedade por parte da UEFA. A punição à federação húngara, por exemplo, foi de três jogos sem adeptos, uma multa de cem mil euros, e a exibição de um cartaz que promova a igualdade. É certo que Orban, que antes de primeiro-ministro húngaro é um racista, homofóbico e xenófobo orgulhoso, pagaria as contas de seu próprio bolso caso pudesse. Suárez, que abusou de Evra ao longo de uma partida inteira, foi punido com apenas oito jogos de suspensão e uma multa de quarenta mil euros, sendo que seu salário hoje, dez anos depois, é de 500 mil euros por mês.

Chegamos, então, ao cerne do problema: o discurso de “erradicação” do racismo é apenas uma distração para que a UEFA continue a tolerar racistas no mundo do futebol. Todo o marketing em torno do uso de hashtags com belíssimas frases de efeito, cartazes nos estádios com frases como “No room for racism” ou pedidos para que os jogadores se ajoelhem antes dos jogos, não passam de um desvio do real. São manifestações com uma ideologia fragmentada e que não ajudam na verdadeira luta contra o racismo. É evidente que essas medidas podem surtir algum efeito, mas elas não chegam nem perto de alterar o status quo social.

A triste verdade é que esse status quo não deve mudar tão cedo, já que, enquanto houver racismo, haverá racistas no futebol. Mas, por mais que muitos não gostem de fazer esta associação, futebol é e sempre será politizado: ele é um esporte que floresceu em um ambiente industrial na Inglaterra como forma de luta social e evoluiu ao ponto de ser uma influência global. Isso não só significa que o racismo no futebol é uma forma de manifestação política sintomática da sociedade, mas também que o esporte é um potente veículo ideológico que pode ser usado para os mais diferentes fins, inclusive combater o racismo.

Assim, o potencial ideológico do futebol é completamente desperdiçado quando se faz o uso de mensagens vazias, contraditadas pelas ações da própria UEFA. Se ela realmente se importa com a problemática do preconceito racial, então é melhor que ela tome medidas que realmente impactem a dinâmica racial. Multas simbólicas não são suficientes, hashtags não são suficientes… O que é preciso é uma ação que puna de verdade aqueles que praticam o racismo, e a UEFA tem mais do que o necessário para fazer isso.

Artigo da autoria de Olavo Freitas