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Artigo de Opinião

O Poder das Palavras

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Não é egoísmo priorizar a saúde mental. A saúde mental sempre foi encarada como um tabu pela sociedade, seja devido à falta de conversas acerca deste assunto, ou até devido ao medo de sermos julgados incorretamente por aqueles que nos rodeiam. Mas será que tem mesmo de ser assim?

A Saúde Mental e a Sociedade

O tema da saúde mental sempre foi deixado para trás, como se se tratasse de algo vergonhoso ou inútil. Ainda vivemos num tempo em que admitir que temos uma doença mental é o fim do mundo, como se fôssemos “loucos” por nos sentirmos assim. A verdade é essa, num mundo que valoriza a saúde física e rebaixa a saúde mental, alguém que apresenta uma doença do foro psicológico é, quase sempre, rotulado de “maluco”.

Em Portugal, aproximadamente um quinto da população sofre de doenças mentais, segundo um relatório da Health at a Glance de 2018. A depressão e a ansiedade apresentam-se como os problemas mais comuns entre os portugueses, colocando Portugal numa das piores posições da União Europeia. Tendo em conta algumas estatísticas, cerca de 11% das doenças em Portugal estão ligadas às perturbações mentais. Mesmo assim, continuamos numa realidade pouco favorável para quem procura ajuda psicológica, visto que a oferta no SNS é escassa e a ajuda privada é muito dispendiosa.

A Importância da Saúde Mental

A saúde mental é extremamente importante e nunca deve ser tratada com leveza. As doenças mentais, tal como qualquer doença física, podem ser mais ou menos graves, mas nunca perdem importância. Admitir que temos uma doença mental e que precisamos de ajuda, na minha opinião, é um ato de coragem e de amor-próprio. Admitir que não estamos bem é um passo em frente. Contudo, é sempre difícil fazê-lo quando nos sentimos pressionados pelos padrões sociais, pelos juízos de valor que são criados sobre a nossa pessoa e pelo receio de existir julgamento do outro lado.

O Poder das Palavras

Infelizmente, ou felizmente, nunca sabemos o que os outros pensam ou vão pensar de nós. Vivemos sempre numa constante realidade “de não saber”. Infelizmente, não podemos impedir que alguém nos julgue ou que nos magoe. Esse poder não está ao nosso alcance, no entanto, podemos impedir-nos a nós próprios. Podemos exigir de nós o “pensar antes de dizer” e a consciência de que as nossas palavras podem causar danos.

Como pessoas que vivemos em sociedade e que não possuímos total conhecimento do que se passa na vida do outro, pequenos gestos de amor e felicidade podem nos levar longe. Mas sim, também é verdade que uma simples palavra não vai resolver os problemas do outro, ainda assim, podem curar alguma parte da mágoa que carregamos todos os dias. Ninguém é mais do que ninguém por saber o que é viver sem ansiedade, depressão, transtornos alimentares, bipolaridade, entre outros. Podemos passar a nossa vida inteira sem saber o que é viver com uma doença mental, mas isso não nos deve impedir de sermos melhores que o nosso “eu” passado e de começarmos conversas para eliminar este tabu que afeta a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

Para concluir, considero que ainda temos muito por que “lutar” e conquistar. Como sociedade, alguns dos nossos objetivos deveriam ser eliminar este tabu, criar ambientes de partilha entre as pessoas e procurarmos ser mais compreensivos com as lutas dos outros. As gerações futuras deveriam ter o direito de crescer numa sociedade justa, preocupada e igualitária para com todas as diferenças, especialmente as diferenças que nós não conseguimos controlar.

Artigo da autoria de Joana Leite