Crónica
CONTA-ME COMO É… SER LIVRE!
Nem todos vemos a liberdade de forma igual, embora as definições dos nossos entrevistados se tenham aproximado bastante umas das outras. Para Sofia, 23 anos, “Liberdade é ter poder de escolha. É poder decidir o caminho a escolher enquanto dona da minha própria vida. É poder tomar os meus passos e decidir qual o caminho a seguir.” Patrícia, 24 anos, concorda e acrescenta: (é) “podermos escolher quem nos governa, onde ir, o que vestir, o que exercer profissionalmente, sem qualquer restrição ligada ao sexo ou à classe social, por exemplo.” Nádia, 20 anos, concorda com isto, mas cria uma salvaguarda: “a minha liberdade acaba onde a dos outros começa, como me ensinou a minha professora de português.”
Os nossos entrevistados mais velhos assumem quase todos que existem grandes diferenças entre o antes e o pós ditadura. O que nem sempre é bom. Se para João Lourenço, 50 anos, não existia nada de bom no Estado Novo e vivemos hoje com indiscutivelmente mais liberdade do que vivíamos antigamente, para a Sra. Fernanda, 52 anos, “certas pessoas têm liberdade até demais”. E para Afonso Ribeiro, 63 anos, “agora não há palavra, nem liberdade.” Assume que há uma relação directa entre as questões económicas e a liberdade e há um pessimismo na sua voz com um toque de resignação: “os gajos que têm liberdade são os senhores do dinheiro. Hoje tudo se compra.”
Também os nossos entrevistados mais jovens se mostraram preocupados com a forma como usamos a nossa liberdade. Pedro, 26 anos, afirma “que usamos a liberdade como arma de arremesso. Como alguém disse, a minha liberdade começa onde a do outro acaba. A sociedade funciona desta maneira, defende a liberdade até ao limite das suas convicções. Para lá disso, já não é liberdade, é ofensa, e vice-versa.” Sofia acrescenta que “muita gente tem abusado da liberdade de tal forma que se tem gerado alguma anarquia no comportamento da sociedade.” Patrícia relembra um assunto muito recente: “a questão da liberdade de expressão e os seus limites por causa do caso do Charlie Hebdo. Eu acho que a questão do abuso (ou falta de respeito, como se falou) depende muito da pessoa/grupo do qual parte determinada informação e da pessoa/grupo que a recebe. Desta forma, o que para mim pode ser humor e uma forma correta de usar a liberdade, para ti pode ser uma ofensa e um abuso da mesma.”
Alguns dos nossos entrevistados destacaram ainda as mudanças que se verificaram para a comunicação social. Luís Rodrigues, 59 anos, relembra que “um jornalista pode entrevistar pessoas na rua”, algo que naquela altura não poderia. E Genny Machado, 76 anos, concorda: “Naquele tempo não tínhamos tanta liberdade para falar, para escrever ou para ir à televisão.” O mesmo se aplica aos jovens, cuja vida se encontra hoje mais facilitada. Luís afirma que a Internet trouxe uma reviravolta para os estudantes: “Nós só tínhamos uma biblioteca e alguns nem livros tinham.” Mas, Genny relembra: “No meu tempo, tirei o meu curso e pude escolher para onde queria ir.”
Por fim, perguntamos aos entrevistados mais jovens se viam as redes sociais como uma forma de libertação ou de perda de liberdade. Nádia afirmou que “somos cada vez mais dependentes desses gadgets e redes sociais, o que nos aprisiona. Mas não acho, de todo, que perdemos liberdade. Eu sou daquelas pessoas que acha que a internet é só para as coisas boas e que só traz vantagens. Como em tudo na vida, há que ter limites, e tens de ser tu próprio a estabelecê-los. Quantos movimentos sociais não começaram nas redes sociais, ao longo destes últimos anos? Somos cada vez mais controlados online, é certo, e não sabemos da missa a metade. Mas como disse, acho que temos de aproveitar estas tecnologias para fazer o bem, tendo sempre consciência daquilo que estamos a fazer.”
