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Crónica

E SE TUDO FALHAR, O QUE FAZEMOS?

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Cláudia Maioto

Cláudia Maioto

Sinto-me adulta desde criança e agora que sou, embora que apenas legalmente adulta, sinto-me cada vez mais criança. É assustador como as posições se alteram de forma completamente antagónica.

Cresci com a ideia certa de que ia ser pediatra. Sempre que me faziam a típica pergunta “O que queres ser quando for grande?”, eu respondia sempre do alto dos meus cachos loiros que queria ser “médica pediatra para tratar dos meninos pequeninos que estão doentinhos”. E era tão simples, não era? Quando tínhamos uma resposta assertiva para tudo e mais alguma coisa.

“Queres pão ou bolo? Bolo!”

“Queres sumo de laranja ou de maçã? Sumo de laranja, por favor, mãe!”

“A saia cor-de-rosa ou as calças de ganga? A saia porque está calor!”

Sou rapariga, e como tal, sei bem que, agora, responder à última pergunta pode ser muito mais difícil do que o que parece. Nós, raparigas, temos o cérebro programado para processar variados pontos de uma vez: se vai estar calor ou frio, onde vou e com quem vou, se vale a pena ter trabalho com as meias, e o que levo calçado? Somos, maioritariamente, por natureza, indecisas.

De certa forma, estes dilemas aplicam-se, de forma generalizada, a todos nós. Cresci a pensar que ia ser pediatra e, no entanto, falta-me apenas um ano para terminar a licenciatura em Ciências da Comunicação.

Ironicamente, acho que vivemos numa cúpula de ilusões enquanto crianças. Criadas por nós ou pelos que nos rodeiam, a realidade é que, na maior parte das vezes, os chamados “sonhos de infância” se desmoronam. Com o passar do tempo, começamos a criar a nossa própria personalidade com os nossos próprios parâmetros, com os nossos próprios defeitos e com as nossas próprias qualidades. Isso somos nós. Somos nós e não o que alguém achou que devíamos ser.

Conheço jovens que seguiram determinado curso/ramo por os pais lhes dizerem que era o melhor para eles. Mas, se o futuro é nosso, porquê deixá-lo nas mãos de alguém que não poderá, à partida, controlá-lo a 100%? Pelo menos, não é assim que deve ser.

Tinha quinze anos quando decidi que queria seguir Línguas e Humanidades ao invés de Ciências e Tecnologias que me abririam as “portas” para a tão desejada Medicina. O que mudou? Não faço ideia. Mas mudou.

Para mim, a ilusão acabou quando me apercebi do enorme amor que tenho pelas Letras. Fui a tempo de não perder tempo. Mas perdemos realmente tempo, seja de que maneira for, a voltar para trás, se isso for realmente o que queremos? Creio que não. Aliás, costuma-se dizer – “mais vale tarde do que nunca”. E as certezas reaparecem. Diferentes das antigas, é certo, mas reaparecem.

Mas e se mudam novamente e se ficamos sem nada? Se o curso não é o que queremos? Se a profissão não é o que queremos para a vida? Se escolhemos mal isto ou aquilo? Se tudo isto falhar, o que fazemos?

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