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Artigo de Opinião

ABCDEFEMINISMO

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Deveras controverso, este é um dos meus temas prediletos pois vem romper com o culto milenar à figura masculina. Vivemos numa sociedade impregnada pelo machismo exacerbado — que inclui, entre muitas outras coisas, a rejeição e ridicularização de todo e qualquer tipo de ações feministas. Um possível exemplo disto mesmo foi perpetrado pela revista TIME, em 2014, quando decidiram incluir o termo feminismo no seu questionário anual de palavras a serem abolidas, ao lado de palavras como OMG, YOLO ou twerk. Tal “piada” provocou-me náuseas, especialmente porque falaram do nome de Susan B. Anthony, uma das maiores ativistas da cena feminista do século XX! Esta infeliz polémica foi justificada pela exaustiva sensibilização levada a cabo por celebridades como Emma Watson à volta do tema. Quem não se lembra do seu famosíssimo discurso nas Nações Unidas? Mas como não o fazer quando ainda existem pessoas como as que, para além de não o perceberem, se lembraram de chegar ao ridículo de incluírem algo tão sério num questionário que incita ao debate cómico e ao riso?!

 

É por estas e por outras que precisamos de explicar ao mundo que o feminismo não se trata de uma luta somente das mulheres. Os homens deviam ser os primeiros a aderir a esta causa e, no fundo, muitos já o fizeram, consciente ou inconscientemente, mas alguns ainda têm vergonha de o assumir. Dada a sociedade machista em que vivemos, são os homens que devem caminhar ao nosso lado nesta luta que pugna para que todos tenhamos os mesmos direitos e as mesmas oportunidades, especialmente no local de trabalho e na escola, onde as mulheres são, ainda, fortemente desvalorizadas. Têm de dar o exemplo e ser os primeiros a não se sentir rebaixados só porque uma mulher ocupa um cargo tão alto como o seu. Se forem realmente bons, de que têm medo?

 

No entanto, são os amedrontados que dizem que o feminismo ficou “fora de moda”. Inúmeras foram as vezes em que, por me assumir como feminista, fui categorizada de anti-homens, agressiva e, vejam lá o ridículo, pouco atraente. Tudo isto porque quero que um direito humano fundamental, que é a igualdade, prevaleça; e porque quero deixar de viver com medo. Medo de quê? De ser julgada, ridicularizada ou vítima de objetificação. Estou, tal como todas as mulheres que se prezem, cansada de ser desvalorizada, de não ter o poder de decidir sobre a minha própria vida, sobre o que fazer com ela.

 

Há que honrar a história: frisemos os ideais sufragistas, trabalhistas e educacionais pelos quais mulheres – como Emmeline Pankhurst ou, em realidades mais nacionais, Carolina Beatriz Ângelo – lutaram nos anos 20. E a terminação “ismo” que lhe confere uma faceta “radical” não seria precisa se, com o passar das décadas, estes ideais não se tivessem dissolvido, prevalecendo a ideia de que this is a man’s world, esquecendo-se que, claramente, it wouldn’t be nothing without a woman or a girl. Remontemos às ditaduras militares e fascistas que vigoraram na Europa do século XX, onde a figura da mulher foi completamente relegada para segundo plano – já que a lida da casa e a educação dos filhos cabia à mulher – e a do homem era exultada, a principal, à qual a mulher devia ser submissa. Infelizmente, quarenta e dois anos volvidos, ainda podemos observar disparidade de géneros em Portugal, para não falar de como as mulheres ainda são tratadas em países árabes e africanos, onde são consideradas membros integrantes de uma raça inferior, desprezadas, diminuídas a meros animais/objetos, posses do homem que as “detém”.

 

Assim, é por isso mesmo que lutamos! O feminismo não se trata de tentar superiorizar as mulheres, de fazer do sexo feminino o dito sexo forte. Claro que também existem fações mais extremistas mas, para essas fações, existem denominações próprias. Misandria, femismo ou hembrismo, por exemplo, são palavras que servem para definir sentimentos de aversão, ódio e discriminação de caráter dominante do sexo feminino face ao masculino. Mas o que os ativistas feministas realmente pretendem é conferir às mulheres a tão desejada igualdade de género, a dignidade e o respeito atribuídos a um homem que realize as mesmas funções que elas.

 

Uma mulher é uma autêntica força da Natureza, pronta a expelir todo o seu magnificente potencial e manancial de energia. E é por isso mesmo que nos queremos libertar da ideia de que não somos fortes o suficiente para sobreviver neste mundo cão controlado pelos homens. Não somos “recatadas”, mas somos “belas”, à nossa maneira e sem ser “do lar”. Enerva-me profundamente a ideia generalizada de que as mulheres nunca irão chegar ao patamar dos homens. Por favor, parem. A nossa essência reside no nosso cérebro, não nos nossos caracteres sexuais. O feminismo não tem hora marcada, mas tem urgência. Se não agirmos agora, ultrapassar este problema tornar-se-á cada vez mais complicado e incorreremos mesmo no risco de criarmos gerações retardadas e insensíveis aos problemas da mulher. Convençam-se de uma vez por todas de que o que vestimos e o que fazemos não é para provocar os homens — nem tudo tem a ver com os homens, ok? Porque, no fim de contas, girls just wanna have fun…damental human rights!