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Artigo de Opinião

SOBRE O (DES)HUMANISMO

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Escrevo hoje naquela secretária de sempre a qual já vos venho habituando aqui. Descrevo-a com tanta frequência que sinto que já não guarda segredos alguns, nem mesmo naquele velho bloco de notas negro ali na gaveta, onde ora escrevo poesia, ora escrevo devaneios para acalmar a inquietação da alma. Olho em frente, pela janela de sempre onde é norma encontrar paz no som do vento no parapeito da janela, mas hoje não sou capaz. Há quem já tenha visto, há quem não tenha visto, há quem tenha partilhado, há quem se recuse a partilhar: falo de um vídeo que circula pelas redes sociais que mostra um acto sexual que terá acontecido durante a semana da Queima das Fitas do Porto.

Nunca antes havera parado tanta vez a escrever para encontrar as palavras certas, talvez porque não existem palavras para descrever tal acto. Uma rapariga inconsciente (trago-vos a definição do dicionário para adiantarmos serviço no que toca à civilização que resta a esta sociedade: «insconsciente: que não tem perceção do que se passa consigo e à sua volta») que é vítima de um acto sexual por um indíviduo consciente (mais uma vez, em consideração à civilização que nos resta: «consciente: que sabe o que faz») e uns idiotas (mais uma vez, amigos; «idiota: que é pouco inteligente ou não tem bom senso») que riem e incentivam a total falta de humanidade que ali se testemunha. Faltam-me as palavras e acima de tudo a capacidade (ou incapacidade) cognitiva de entender como é que algo assim acontece e ninguém é capaz de intervir. Falta-me também entender comentários que tenho vindo a ler de que a culpa seria da rapariga pois se não tivesse bebido tanto, não se sujeitaria a tal acto. Mas ora então, somos seres humanos civilizados ou isso é só uma daquelas utopias que os nossos pais nos contam em criança, ao jeito do Pai Natal?

Há uns artigos atrás afirmei que me sentia cansada de escrever sobre a desigualdade entre géneros na Sociedade pois parece que a voz da Mulher nunca é ouvida. Contudo estes casos levam-nos ainda mais ao cerne da questão: tem afinal a Mulher algum papel na Sociedade ou serve apenas de objecto de desejo sexual? A palavra-chave a reter aqui é consentimento. Se não houver consentimento (para que não restem dúvidas: «consentimento: permissão; autorização») não há qualquer tipo de direito superior que permita que o acto sexual aconteça. Não é não. A mulher não está a pedir para ser violada porque está embriagada, não está a pedir para ser violada porque veste uma saia curta ou o decote é mais aberto, a mulher não pede para ser violada, o violador toma partido da mulher sem quaisquer considerações pelos direitos humanos desta. Vale sempre relembrar a mentes pequenas e pouco evoluidas: NÃO É NÃO.