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Política

O ISIS PERDEU MOSUL,MAS AINDA NÃO PERDEU A GUERRA

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Ao fim de 226 dias de combate, as forças armadas iraquianas, apoiadas por uma coligação internacional liderada pelo exército norte-americano, reconquistaram a cidade de Mosul, retirando ao ISIS o seu principal bastião iraquiano.

A reconquista

A cidade havia sido conquistada pelo ISIS em junho de 2014 e foi nela que o seu líder, Abu Bakr al-Baghadadi, fez a sua única aparição pública, em frente à Grande Mesquita de al-Nuri, para proclamar o nascimento do califado. Cerca de 3 anos depois, o ISIS demoliu a mesquita quando o exército iraquiano estava prestes a conquistar a cidade.

No passado dia 10 de julho, o primeiro-ministro iraquiano Haider al-Abadi proclamou, sob uma cidade em escombros, vitória sobre o ISIS e deixou o aviso, “temos outra missão à nossa frente – criar estabilidade, construir e eliminar células do Daesh”.

A batalha, iniciada em outubro de 2016, causou graves perdas humanas ao exército iraquiano, bem como, à população civil da cidade. Pelo menos 1 milhão de civis fugiram da cidade em consequência dos violentos combates. Quem não escapou, ficou preso entre as táticas sanguinárias dos militantes do ISIS, que incluíram execuções sumárias, utilização de civis como escudos humanos e instalação de armadilhas em casas e outros edifícios, e os bombardeamentos da coligação liderada pelo exército norte-americano.

Estima-se que mais de 5 mil civis tenham morrido em consequência dos bombardeamentos, entre fevereiro e junho deste ano. A Amnistia Internacional, num relatório recente, classificou os bombardeamentos como “indiscriminados, desproporcionados e ilegais”.

O futuro de Mosul

Mosul é uma cidade arrasada. Cerca de um terço dos edifícios da cidade estão danificados ou destruídos. Serviços básicos como eletricidade ou água foram severamente afetados e estima-se que a sua reparação venha a custar mil milhões de euros. O realojamento dos deslocados da cidade, 900 mil desde 2014, será uma tarefa morosa.

Acresce, a estas dificuldades, a necessidade do Governo iraquiano provar aos sunitas iraquianos que representa os seus interesses. O ISIS explorou o ódio sectário entre sunitas e o governo xiita e dele se serviu para controlar largas áreas do norte e oeste do Iraque. Uma cidade como Mosul, de maioria sunita, habituada a ser ignorada e maltratada pelo governo central, xiita, foi terreno fértil para o crescimento do ISIS e da sua ideologia radical.

Para a pacificação das relações entre sunitas e xiitas não deverão contribuir a violência com que os soldados iraquianos estão a tratar os suspeitos de terem apoiado o ISIS. De Mosul chegam relatos de espancamentos, execuções, encarceramentos sem julgamento ou provas de alegados militantes ou simpatizantes do ISIS por parte das forças armadas iraquianas.  O primeiro-ministro iraquiano adiou o apuramento de responsabilidades para depois do fim das celebrações de vitória.

A tomada de controlo da cidade por parte das forças iraquianas não erradica a ameaça do ISIS. A dificuldade em destrinçar entre os comuns civis os militantes do ISIS camuflados é uma das preocupações principais do Governo Iraquiano. A cidade poderá vir a ser alvo de atentados terroristas perpetrados por estes “agentes infiltrados”, que cortaram as longas barbas para se tornarem indistinguíveis da população civil.

Para lá de Mosul

A tomada de Mosul é um passo importante para vitória sobre o ISIS, no entanto, ainda restam no Iraque e na Síria cidades e largas extensões territoriais por reconquistar. Os olhos das forças armadas iraquianas voltam-se agora para Tal Afar, a cerca de 50 km de Mosul. A cidade é um dos mais fervorosos bastiões do ISIS no Iraque. Além de Tal Afar, o ISIS controla no Iraque a cidade de Hawija, que é neste momento o ponto mais a este dos seus domínios.

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